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Terça-Feira, 11 de março de 2025

Alagoas

Pesquisa da Ufal alerta para manejo do fogo no combate à mudança climática; saiba detalhes

Pesquisa da Ufal alerta para manejo do fogo no combate à mudança climática; saiba detalhes

(Imagem: Reprodução)

Um novo estudo publicado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) no periódico internacional Atmosphere, identificou o impacto dos incêndios florestais na Bacia da Amazônia sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE), nas últimas duas décadas (2001-2020).

Incêndios florestais frequentes e furiosos é uma das consequências mais nefastas da mudança climática. O fogo descontrolado costuma trazer impactos devastadores para os ecossistemas, especialmente em florestas tropicais. Mas o que pouco se fala no Brasil é que o fogo pode ser usado como ferramenta de manejo para evitar incêndios florestais de grandes proporções.

Concentrar as queimadas fora do pico climático crítico já é uma prática utilizada em alguns países, para ajudar na conservação da biodiversidade e na redução das emissões. Na Austrália, por exemplo, a queima precoce (no início do período seco) tem sido usada, de forma experimental, para evitar grandes incêndios posteriores, que se agravam durante a seca. O uso controlado do fogo é uma prática milenar adotada por culturas indígenas, em baixa escala, para limpeza da terra.

Na pesquisa feita pelos pesquisadores da Ufal, foi identificado que concentrar o fogo em períodos específicos do ano contribui para reduzir o impacto das emissões de carbono (CO) e nitrogênio (NO2), liberados pelos incêndios florestais. Uma das conclusões do estudo é que evitar o fogo no pico da seca na Amazônia pode ajudar na mitigação climática e na manutenção da floresta.

A queima controlada é feita em pequenas extensões, ainda com umidade do solo relativamente alta, no início da estação seca e em condições atmosféricas adequadas. Assim, o risco de o fogo se alastrar diminui e apenas a camada superficial do solo é afetada. Essa mudança na sazonalidade do fogo representa um novo paradigma em relação ao seu uso: de grandes incêndios, no auge da seca, para pequenas queimadas, com baixas emissões de carbono, no início da seca.

Segundo o professor Humberto Barbosa, meteorologista, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo estudo, o fogo é uma das poucas ferramentas disponíveis em locais com poucos recursos para limpeza da terra, por ser eficaz e barato. “Embora o cenário ideal seja não utilizar essa prática, é fato que as queimadas fazem parte da cultura da população. O grande problema é quando uma queimada pequena se alastra e se transforma em um incêndio florestal de grande proporção”, afirma.

Por isso, a necessidade de pesquisas para orientar políticas quanto ao uso controlado o fogo, para conservação da biodiversidade e mitigação climática. Mas cada região/localidade exige uma abordagem específica, para cumprir objetivos ecológicos e socioeconômicos.

Dentre as estratégias recomendadas estão: evitar as queimadas no pico da seca e concentrá-las no início dessa estação. “É uma forma de manter a biodiversidade e a resiliência dos ecossistemas de forma mais eficaz contra os incêndios mais graves e devastadores”, destaca o pesquisador.

Amazônia

A pesquisa identificou que a variação mensal do fogo na Amazônia começa a aumentar em julho, atinge o pico em agosto e setembro, diminuindo a partir de outubro. Foram identificados picos simultâneos de incêndios e de emissões de gases de efeito estufa durante os meses mais secos (agosto e setembro).

As maiores áreas de vegetação queimada foram observadas desde o sul até o leste da Bacia Amazônica, havendo relação direta com o uso e cobertura da terra. Essas áreas, conhecidas como “arco do desmatamento”, estão mais degradadas pela remoção da cobertura vegetal e pelas queimadas, predominando savanas e pastagens. Também são as áreas mais propensas aos impactos da seca.

No estudo, a avaliação do percentual médio do índice de cobertura vegetal, identificou perda de cerca de 50% da cobertura vegetal nessas áreas, ao longo das suas décadas.

Saiba mais

De acordo com a pesquisa, nas últimas duas décadas, incêndios florestais na Amazônia tiveram forte impacto nas emissões de gases de efeito estufa. Esses gases ficam retidos na atmosfera e pioram a mudança climática. Um padrão que se repetiu em todos os anos analisados foi um aumento abrupto das emissões de CO e NO2, derivadas dos incêndios, durante a seca (julho a setembro).

Para o professor Humberto, embora já existam projetos importantes de manejo do fogo para mitigação climática, ainda há controvérsias, tendo em vista sua complexidade. É que os resultados dependem de vários fatores, como o tipo de vegetação, mudanças no uso e cobertura da terra, topografia, característica climática de cada ecossistema, entre outros fatores.

“Os padrões de emissões de carbono e nitrogênio liberados pelo fogo dependem da quantidade total de biomassa queimada, da intensidade do fogo e do volume de emissões liberadas. Por isso, a complexidade dos vários fatores que devem ser analisados, antes de se recomendar se é promissor o uso do fogo como ferramenta de manejo para determinado ecossistema”, explica.

A mudança climática piora a situação dos incêndios florestais, em razão das secas repetidas e intensas, além das altas temperaturas. O clima mais quente e seco torna o ambiente propício ao aumento da queima da vegetação pela ação humana, com incêndios mais severos e frequentes.

O grande risco da expansão do fogo, intensificada pelo aquecimento global, é transformar biomas sumidouros de carbono, essenciais para o Planeta, em fontes emissoras desse poluente. É o caso da região da Amazônia, que se tornou mais vulnerável aos incêndios com a mudança climática.

Clique aqui para acessar o artigo publicado.

*Assessoria