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Sábado, 23 de novembro de 2024

Brasil

Brasil completa 1 ano de 5G com cobertura disponível para 93 milhões

Brasil completa 1 ano de 5G com cobertura disponível para 93 milhões

(Imagem: Reprodução/Pixnio)

Depois de 1 ano do início da implantação do 5G, a nova tecnologia já chegou a 93 milhões de brasileiros. Dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostram que a cobertura se ampliou rapidamente, antecipando aos prazos estabelecidos, e está disponível a 46% da população.

O sinal de 5G já foi disponibilizado para todas as capitais e também para cidades com população superior a 500 mil habitantes. Ao todo, 753 municípios dos 5.568 do país já contam com rede 5G disponível. Já para cerca 54% da população o serviço ainda não chegou. O percentual representa 109,5 milhões (leia em infográfico mais abaixo).

Os números se referem a março de 2023 e consideram a população de locais que já contam com antenas de 5G. No entanto, para ter acesso, é preciso que os moradores tenham aparelhos compatíveis com a tecnologia e plano de dados móveis contratado. Segundo a Conexis Brasil Digital (Sindicato das Empresas de Telecomunicações e Conectividade), o total de usuários com acesso a essa tecnologia está em aproximadamente 10 milhões.

As operadoras têm antecipado o cumprimento das metas de cobertura. O edital determinava a instalação primeiro nas capitais, até 2022. O prazo para cobrir municípios com mais de 500 mil habitantes era até 2025. Para a Conexis, o modelo não-arrecadatório do leilão permitiu que as empresas vencedoras conseguissem investir de forma mais célere.

O edital do leilão do 5G, realizado em 2021 pela Anatel, também impôs às operadoras vencedoras das faixas o compromisso de levar o 5G para todos os municípios com mais de 200 mil habitantes. E, até 2027, as cidades com população acima de 100 mil serão contempladas. A meta é que até o final de 2029 todas as sedes de municípios e outras 1.700 localidades não-sede tenham 5G.

No entanto, as operadoras apontam 2 desafios para acelerar a implantação do 5G. O principal é a liberação da frequência 3,5 GHz, que hoje está ocupada pelo sinal das parabólicas, o que impede que seja autorizada a implantação em cerca de 4.000 municípios. Hoje, só 1.600 cidades podem receber a tecnologia.

Hoje, se as operadoras dos lotes nacionais, que são a Tim, a Claro e Vivo, quisessem colocar antenas de 5G no país todo, isso não seria possível, porque é preciso autorização da Anatel. Essas operadoras compraram uma faixa de frequência de 3,5 GHz que hoje está ocupada por serviços de satélite e TV parabólica. Está sendo feito um trabalho de substituição das parabólicas para que a frequência migre e permita à Anatel autorizar mais cidades“, diz Diogo Della Torres, coordenador de Infraestrutura da Conexis.

Outro problema, de acordo com o presidente executivo da TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas), Luiz Henrique Barbosa, é que várias cidades ainda não contam com lei de antenas dentro do que se exige o 5G. Os municípios precisam ter legislação que regulamente a concessão de licenças de forma simplificada e a instalação de antenas para cada 15.000 habitantes.

A gente tem feito um esforço com outras associações do setor para que sejam atualizadas as leis de antenas. Todo mundo quer o 5G, mas as leis têm que ser atualizadas para permitir uma maior densidade de antenas na mesma cidade“, explica Luiz Henrique Barbosa.

3G E 4G ABAIXO DA MÉDIA GLOBAL

Enquanto o 5G tem avançado mais rápido do que se esperava no país, a cobertura de 3G e 4G no país está abaixo da média global. Dados da Anatel mostram que quase 10% dos brasileiros não têm nenhuma dessas duas tecnologias disponíveis, que chegam para cerca de 91%.

A média global de habitantes com cobertura de 4G ou ao menos 3G é 95%, segundo estudo feito pela ITU (União Internacional de Telecomunicações), agência da ONU especializada em tecnologias da informação e comunicação com dados de 2022.

Na comparação por continente, o Brasil só supera a África, onde essas redes estão disponíveis para 83% da população. Nas Américas, a média é de 95%. Já na Europa, a cobertura chega a 100% dos habitantes.

Ao analisar a cobertura em países vizinhos, o atraso fica ainda mais evidente. Na Argentina, o 4G já estava disponível para 98% dos habitantes em 2022. A meta do país é chegar a 100% de cobertura em 2023, o que permitirá o desligamento das redes 3G.

Levantamento do Poder360, com base em dados públicos de governos e agências de telecomunicações de países da América Latina, mostra que também ficam à frente do Brasil países como Chile, México e Paraguai.

A Anatel explica que, além da falta de interesse econômico das prestadoras, a legislação não exige a universalização desses serviços. De acordo com a agência, a Lei Geral de Telecomunicações estabelece que sejam universalizados serviços de telecomunicações prestados em regime público, objetos de concessão, o que não é o caso da rede móvel.

Hoje, só a telefonia fixa é classificada no Brasil como serviço prestado em regime público e, portanto, sujeita a obrigações de universalização previstas em lei e decretos. Em outros países, os governos exigiram a universalização dos serviços.

A questão só foi estabelecia no Brasil com o leilão do 5G. O edital também determinou que as empresas vencedoras levem o 4G a mais 625 localidades não-sede até 2025. Outros 6.805 locais devem ter 4G ou tecnologia superior até 2028. Também está previsto que a tecnologia seja implantada em vários trechos de rodovias federais.

Os compromissos do leilão do 5G vão ajudar a levar conectividade para todo o Brasil. Está previsto o atendimento a localidades e distritos, muitas vezes distantes da sede municipal, assim como a cobertura em rodovias. E isso será cumprido, até porque são previstas multas elevadas para quem descumprir. Em algumas dessas localidades a exigência é de tecnologia 4G ou superior, mas é possível que até o final da década a gente tenha implantado o 5G, apesar de não ser obrigação“, afirma Diogo Della Torres.

16,5 MILHÕES SEM CONEXÃO

No Brasil, para 18,3 milhões de pessoas o 4G ainda não chegou. Desse total, a situação é ainda pior para 16,5 milhões que nem sequer têm 3G (8,1% da população), tecnologia mais limitada que chegou ao país em 2004. Operadoras de telefonia e a Anatel admitem que há deficiência na cobertura em função de falta de interesse comercial.

Existe um desafio que é a possibilidade da população dessas localidades ter acesso a aparelhos com essas tecnologias, e também dispor de renda para pagar pelos serviços prestados pelas operadoras. Então a gente tem realmente uma deficiência, com uma parte do território brasileiro que ainda não conta com cobertura nenhuma“, diz Diogo Della Torres.

A demora na chegada da tecnologia afeta principalmente as famílias mais pobres que vivem em bairros e localidades mais afastadas dos centros urbanos. Nesses locais, atividades corriqueiras são inacessíveis, como mandar mensagens e pagar usando uma maquininha de cartão (que depende de conexão móvel).

São localidades muitas vezes distantes das sedes municipais, algumas de difícil acesso. E ainda tem a densidade populacional. A quantidade de pessoas que moram nessas regiões muitas vezes é da ordem de centenas ou dezenas“, afirma Torres.

Luiz Henrique Barbosa afirma que, uma vez que o grande problema para a universalização é renda, a solução teria que vir de cima. “A gente tem um drama hoje em muitos lugares em que a telefonia chega, com 3G ou 4G, mas as pessoas não acessam por falta de renda. É um problema que precisa ser visto pelo setor público, para que se chegue a uma política pública que possa ser feita para dar acesso a essas pessoas“, diz Barbosa.

MAPA DOS EXCLUÍDOS DIGITAIS

A deficiência de cobertura é maior em Estados do Norte e Nordeste do Brasil. No Maranhão e no Pará, por exemplo, 1 em cada 4 moradores não tem nem 3G. Em 6 deles, mais de 20% dos moradores não contam com rede disponível.

Na outra ponta, o Distrito Federal tem a melhor situação, com 99,8% da população tendo disponível pelo menos o 3G disponível. Na sequência aparecem os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Os dados da Anatel são referentes a março de 2023.

Com a chegada do 5G, as operadoras têm investido menos nas tecnologias inferiores, segundo o próprio setor. Assim podem melhorar a qualidade dos serviços prestados e cobrar pacotes mais caros.

Toda vez que você tem uma evolução tecnológica, a tendência é você passar a investir na tecnologia mais nova em detrimento da anterior. Não vai acontecer neste momento o desligamento das redes existentes. Então as localidades que já dispõem de tecnologia anterior não ficaram sem serviço“, afirma Diogo Della Torres.

Já o executivo da TelComp afirma que algumas empresas já estão cessando os investimentos em 3G ou 4G. “O que já está lá instalado continua, assim como o serviço prestado, mas não deve ter aumento nessa cobertura. O investimento agora deve ser feito todo em redes 5G“.

*Poder360