Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
A construção da usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza, foi aprovada pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU-CE). A usina está no centro da polêmica entre as empresas de telecomunicação e o governo do Ceará em razão do risco de derrubar internet no Brasil. A intenção do governo é criar uma solução a longo prazo para tornar a água do mar potável para uso em períodos de seca.
O parecer favorável da SPU-CE foi informado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Após o afastamento das tubulações, a SPU avaliou que o projeto da Dessal do Ceará atende às especificações necessárias de distanciamento de cabos: “a nova distância (567m) é suficiente para superar a exigência de afastamento, já explicado conforme relatório do ICPC (Comitê Internacional de Proteção de Cabos) , onde o mesmo "recomenda uma separação padrão de pelo menos 500 metros na água”.
A Cagece informou ainda que o próximo passo, agora, é o requerimento da emissão da Licença de Instalação da planta para a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Após finalizado esta etapa, a construção da planta deverá ser iniciada até marco de 2024.
Empresas de banda larga temem que obra de usina no fundo do mar de Fortaleza danifique cabos que transmitem internet para o Brasil e país fique sem conexão — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução
Em parecer técnico emitido nessa sexta-feira (15), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) manteve a oposição à construção da usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza. O órgão recomendou ainda que o projeto fosse construído em outro local.
O grupo de trabalho criado para discutir a construção do equipamento foi encerrado na última segunda-feira (11), sem que as partes envolvidas chegassem a um acordo sobre a construção da usina. Empresas que vendem serviços de internet no Brasil temem que a usina possa causar um apagão digital em todo o país. (Entenda abaixo)
A preocupação das empresas de telecomunicações está na distância entre o local onde o governo do Ceará pretende construir a usina dos cabos submarinos que conectam o Brasil a outros países e garantem o abastecimento de internet.
Conforme nota da Anatel, o projeto da SPE - Águas de Fortaleza, responsável pela construção do projeto, não analisa riscos e providências com a infraestrutura terrestre e marítima associada aos cabos submarinos.
“No projeto da SPE são ignoradas as possibilidades de influência, dos dutos marítimos da Usina que despejam (supõe-se, com força e alta pressão) os dejetos em maior concentração de sal ao mar após o processo de dessalinização, no leito marinho, portanto, não provendo qualquer segurança aos interessados do setor de telecomunicações. O projeto SPE não trata das 11 recomendações do International Cable Protection Committee (ICPC) informadas pela Agência, que não se limitou a requerer distanciamento de 500 metros em nenhum documento”, diz a Anatel.
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), empresa estatal do Governo do Ceará responsável pelo projeto da usina, diz, contudo, que as infraestruturas da usina não apresentam nenhum risco para o funcionamento dos cabos submarinos de internet que operam na orla da Praia do Futuro. A afirmação está embasada e demonstrada tecnicamente em estudos divulgados pela Cagece.
“Hoje, a estrutura de captação de água marinha encontra-se a 567 metros de distância dos cabos submarinos, distância maior que a recomendação do Internacional Cable Protection Committee (ICPC), órgão que atua na proteção de cabos submarinos e de infraestruturas subaquáticas no mundo todo”, diz a companhia.
Ainda segundo a Cagece, o cronograma de construção usina de dessalinização está mantido, com previsão para julho de 2024, após a emissão da licença de instalação do equipamento.
A SPE - Águas do Ceará reafirma que o projeto da usina de dessalinização não traz ameaças aos cabos e nem aos data center que existem na Praia do Futuro. "Isso está claramente demonstrado, razão pela qual mais de 20 pareceres de órgãos técnicos ambientais aprovaram a Licença Prévia para a execução do projeto".
Projeto de usina para tirar sal da água do mar em Fortaleza pode derrubar internet no país e causa embate — Foto: Reprodução
Vista como uma solução a longo prazo para socorrer o Ceará nos períodos de seca, a usina está no meio de uma polêmica envolvendo o setor de telecomunicações. O motivo é o local escolhido para as instalações: a Praia do Futuro.
Nesse trecho do litoral, Fortaleza recebe 17 cabos submarinos que conectam o Brasil e a Europa e garantem internet rápida para o resto do país. Isto acontece pela proximidade com o continente europeu, distante cerca de seis mil quilômetros.
A partir da capital cearense, os cabos são estendidos até Rio de Janeiro e São Paulo. Conforme a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados. E um rompimento destes cabos deixaria o país inteiro off-line ou com a internet bastante lenta.
Usina terá torre submersa para captar água do mar a 14 metros de profundidade — Foto: SPE Águas de Fortaleza/Reprodução
A primeira versão do projeto da usina posicionava tubulações a 40 metros dos cabos de fibra ótica. A pedido da Anatel, a distância foi alterada para 567 metros. Com essa alteração, a Cagece afirma que a usina "não apresenta nenhum risco ao funcionamento dos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro".
A Anatel afirmou ao g1 que informou sua oposição à obra em setembro de 2022, mas que foi notificada sobre a alteração no projeto em agosto de 2023.
Com a repercussão do caso, o atual governador do Ceará, Elmano de Freitas, defendeu a instalação da usina em Fortaleza, mas disse estar disposto a encontrar um novo local caso a Anatel comprove que, na Praia do Futuro, há riscos de rompimento dos cabos submarinos.
*G1