Sábado, 14 de dezembro de 2024
Sábado, 14 de dezembro de 2024
Quase dois anos depois do lançamento do foguete sul-coreano no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, a FAB (Força Aérea Brasileira) lançou nesta sexta-feira (29) um equipamento de sondagem 100% nacional. A operação, segundo a Aeronáutica, busca maior autonomia para o Brasil em eventos do tipo.
Apesar de não ter destaque internacional, especialistas ouvidos pelo R7 entendem que o Brasil tem avançado na corrida espacial, principalmente em relação ao atendimento de demandas internas.
Com a guerra fria e a rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética, a partir da década de 1950, a exploração espacial se tornou tema principal em uma competição pela imagem de “superpotência”.
Atualmente, a corrida espacial, no sentido de missões lunares e pesquisas sobre o espaço, é liderada pelos Estados Unidos, Rússia e China.
O diretor de gestão de portfólio da Agência Espacial Brasileira, Rodrigo Leonardi, explica que a prioridade do Brasil na corrida espacial é atender as demandas e necessidades do país, “garantindo a soberania” da nação.
Como exemplo, Leonardi cita as enchentes do Rio Grande do Sul, que atingiram o estado no começo do ano. Segundo ele, o tamanho da tragédia foi perceptível após a análise de objetos espaciais da agência. Caso não existissem, o Brasil ficaria sujeito a ajuda de outros países.
Pouco apetite para o espaço
O Brasil tem mostrado pouco apetite na exploração espacial, entretanto, vem realizando avanços no setor aeroespacial.
Entre as conquistas, especialistas citam a produção do primeiro foguete nacional e a parceria com o programa Artemis, da Nasa, que tem por objetivo reunir projetos de colaboração internacional para implantação de uma base lunar e a preparação para a futura missão para Marte.
“O Brasil não tem iniciativa para esse tipo de coisa [corrida espacial com objetivo de missões lunares], mas estamos dialogando com outras nações e temos investido com o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) para produção de um microssatélite brasileiro, que deve ser lançado no final da década”, comentou Leonardi.
Potencial do Brasil
Para o diretor da agência, o Brasil tem potencial na inovação mundial em questões relacionadas ao setor aeroespacial.
“O Brasil mostrou sua capacidade em desenvolver uma tecnologia de alta qualidade, desenvolvendo um satélite de observação da Terra de alta resolução e veículos lançadores”, disse.
Em complemento, o astronauta sueco Marcus Wandt citou a capacidade do Brasil em criar tecnologias inovadoras para o campo.
“Ao impulsionar a tecnologia de ponta brasileira com a transferência de tecnologia, como o programa Gripen, o país está na vanguarda da aeronáutica, não há razão para que isso não possa ser estendido para continuar a inovação brasileira também no setor espacial”, disse ao R7.
Wandt comentou ainda sobre a necessidade de desenvolver tecnologias e competências para o espaço.
“O acesso ao espaço mudou muito na última década. Agora, não é preciso ser um dos poucos países grandes com seu próprio programa espacial completo para fazer pesquisas ou até mesmo ir ao espaço.
“Acho que o principal fator de impedimento é a não percepção de que há uma economia espacial real sendo construída neste momento e de que o custo de lançamento de massa ao espaço diminuiu tremendamente nos últimos anos”, continuou o especialista sueco.
Histórico espacial
Segundo a FAB, mais de 3 mil lançamentos, entre treinamentos e missões, foram realizados no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Parnamirim (RN), em quase seis décadas.
O primeiro lançamento de um foguete no Brasil ocorreu em dezembro de 1965. Chamado Nike Apache, o envio do veículo foi considerado o “batismo de fogo espacial” no país.
Dois anos depois, em 1967, foi lançado o Sonda I, primeiro veículo aeroespacial desenvolvido pelo Brasil, seguido por outros três, o Sonda II, o Sonda III e o Sonda IV, respectivamente em 1970, 1976 e 1984.
Na operação realizada nesta sexta, a FAB informou que a primeira fase tem por objetivo treinar a equipe do CLBI, além de verificar equipamentos e processos envolvidos na atividade.
Já na segunda fase, programada para 2025, será qualificada a plataforma suborbital de microgravidade, ou seja, a parte superior do foguete, que comporta experimentos e conta com diversos sistemas eletrônicos.
*R7