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Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024

Economia

BC deve promover hoje 1º aumento de juros do terceiro mandato de Lula

BC deve promover hoje 1º aumento de juros do terceiro mandato de Lula

(Imagem: GloboNews/Reprodução)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover nesta quarta-feira (18) seu primeiro aumento de juros desde agosto de 2022.

Se confirmada a projeção do mercado financeiro, essa será também a primeira alta do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

expectativa do mercado é de que o juro subirá para 10,75% ao ano nesta quarta-feira. O anúncio acontecerá após as 18h.

E de que a taxa continue subindo até atingir 11,50% ao ano em janeiro — com um crescimento de 1 ponto percentual ao todo.

Os analistas também estimam que, a partir de julho do ano que vem, a taxa começará a recuar, terminando 2025 em 10,50% ao ano.

Críticas do setor produtivo

 

O início do ciclo de alta dos juros, se confirmado, acontecerá em meio a fortes críticas do setor produtivo da economia.

  • Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, "não há mais espaço para novos aumentos da Selic. "Com os sinais de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic. A manutenção de uma política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”, afirmou.
  • Por meio de nota, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) avaliou que o aumento da taxa Selic pode prejudicar o ciclo de novos investimentos que vem sendo observado na construção, impondo ao empreendedor uma cautela maior na tomada de decisões, o que corresponde a um adiamento ou até mesmo o cancelamento de novos investimentos. "Esse movimento terá impacto na economia, na medida em que poderá reduzir a geração de novos empregos", acrescentou.
  • Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) manifestou posição contrária a qualquer aumento da Selic neste momento. "O Brasil tem hoje um dos juros reais mais altos do mundo. Esse fator é extremamente nocivo para a indústria, todos os setores produtivos e a economia como um todo, pois dificulta o aumento dos investimentos, impede o crescimento sustentado e sustentável do País e reduz a competitividade das empresas nacionais no cenário global", concluiu.
  • Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) avalia que a pressão inflacionária e a deterioração do quadro macroeconômico são em grande parte consequências do desequilíbrio das contas públicas, e que vê o ciclo de alta dos juros, previsto para os próximos meses, com preocupação. "Embora reconheçamos que o Banco Central atua de maneira correta, dada a deterioração do quadro fiscal e as pressões inflacionárias, o aumento da taxa de juros encarece o custo de capital para as empresas, os financiamentos e o crédito ao consumidor. Esse movimento tem um efeito negativo sobre a atividade econômica, em especial nos setores do comércio e do turismo, com destaque para o varejo brasileiro", concluiu.
 

Indicação de novo presidente

 

O aumento de juros projetado pelo mercado financeiro acontece após a indicação do economista Gabriel Galípolo, atualmente diretor de Política Monetária da instituição, para o comando do BC a partir de 2025. Ele ainda terá de ser sabatinado e aprovado pelo Senado para poder tomar posse.

Lula desaprova o patamar alto dos juros reais brasileiros na comparação com o resto do mundo, alegando que eles freiam o crescimento da economia.

O presidente já fez várias críticas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro, que fica até o fim deste ano no cargo.

Com a autonomia da instituição aprovada, os diretores e presidente do BC têm mandato fixo. Deste modo, não podem mais ser demitidos pelo presidente da República.

"Um presidente do Banco Central [Campos Neto] que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", afirmou Lula em julho, após os maiores bancos do país projetarem interrupção do processo de corte dos juros
 

Em agosto, porém, o presidente da República afirmou que não tem problema Galípolo, indicado por ele posteriormente para a Presidência do BC, falar em aumento dos juros — pois ele seria uma pessoa "competentíssima", um "brasileiro que gosta do Brasil".

Deflação em agosto e sistema de metas

 

O mercado acredita que o BC deve subir os juros nesta semana apesar de a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter caído, ou seja, terem registrado uma deflação, de 0,02% em agosto.

Pelo sistema de metas, que serve de referência para a atuação do BC, entretanto, o Copom deve nivelar a taxa de juros para atingir as metas fixadas para os próximos anos, e não tendo por base a inflação passada.

  • A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano.
  • A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses).
 

As decisões sobre a taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Com isso, o BC já está mirando, neste momento, na inflação, no acumulado de doze meses, até março de 2026.

E as projeções do BC e do mercado estão, no jargão técnico, "desancoradas" das metas de inflação fixadas para o futuro, e subindo.

  • Na semana passada, os analistas dos bancos estimaram um IPCA de 4,35% para 2024, de 3,95% para 2025 e de 3,61% para 2026 — acima do objetivo central de 3%, mas dentro do limite de até 4,5%.
  • No fim de junho, o Banco Central projetou uma inflação de 4,2% para 2024, de 3,6% para 2025 e de 3,2% para 2026, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância.
 
"O Copom volta a se reunir em setembro após semanas de intensa volatilidade e com fundamentos que justificam o início de um ciclo de alta de juros.", informou o Itaú, em comunicado. A instituição projeta um aumento de 1,5 ponto percentual nos juros nos próximos meses.
 

Para o Itaú, os fatores que pressionam a inflação e justificam alta dos juros são:

  1. o real seguiu pressionado, ou seja, o dólar continuou alto, próximo das máximas recentes;
  2. as contínuas incertezas sobre os rumos das contas públicas, com dificuldades do governo em equilibrar suas contas;
  3. os dados mais recentes de atividade indicam que a economia se encontra mais aquecida do que o BC esperava na última reunião;
  4. as expectativas de inflação seguem desancoradas (acima das metas fixadas).
 

O BC defende que sua atuação é técnica, com o objetivo de conter o crescimento da inflação.

Para a instituição, a alta nos preços causa prejuízos, principalmente, à população mais pobre, abocanhando proporcionalmente uma parte maior de sua renda, além de desorganizar a economia e de prejudicar o planejamento das empresas.

"O custo de combater a inflação é muito alto para a sociedade, e tem impactos duros no curto prazo. Mas o custo de não combater é muito mais alto e tem impactos muito mais nocivos a médio e longo prazo. Então, nosso trabalho é fazer essa convergência [para as metas de inflação] com o mínimo custo possível [em termos de impacto na atividade]" , afirmou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, no ano passado.
*G1