Aguarde. Carregando informações.
MENU

Quarta-Feira, 17 de dezembro de 2025

Economia

Bônus de R$ 160 mil e salários altos: o que a oferta da Latam revela sobre a disputa por pilotos

Processo seletivo busca formar equipes para operar a frota de Embraer 195-E2 em meio à escassez de pilotos, aos altos custos de formação e ao aumento da demanda por voos.

Bônus de R$ 160 mil e salários altos: o que a oferta da Latam revela sobre a disputa por pilotos

Embraer fecha acordo com Latam para a venda de até 74 aviões E2 (Imagem: Divulgação/Embraer)

A abertura de um processo seletivo pela Latam chamou a atenção do setor aéreo. O edital prevê a contratação de pilotos copilotos para operar a futura frota de Embraer 195-E2, que integrará as operações da companhia em 2026, e prevê o pagamento de um bônus de entrada aos profissionais aprovados.

Segundo o anúncio oficial, a Latam pagará um bônus único de R$ 160 mil para pilotos comandantes e de R$ 80 mil para copilotos.

 

A iniciativa ocorre em um momento de escassez de profissionais qualificados, sobretudo pilotos experientes. O cenário não se restringe ao Brasil e atinge companhias aéreas em várias regiões do mundo.

A contratação era previsível. A Latam tem um pedido de até 74 aeronaves do modelo Embraer E195-E2. Desse total, 24 já foram encomendadas e outras 50 correspondem a opções adicionais de compra.

Com a previsão de início das entregas no segundo semestre de 2026, a companhia precisa formar as tripulações que operarão os novos aviões, inicialmente na Latam Airlines Brasil. Mesmo assim, o valor do bônus gerou questionamentos no setor sobre a origem desses profissionais.

Nos bastidores da aviação, espera-se que parte dos pilotos contratados venha de companhias concorrentes. A Azul surge como principal origem possível, por operar aeronaves da família Embraer. Isso ocorre porque a Latam não pretende transferir pilotos que já atuam em sua frota atual para o E195-E2.

Esse movimento seria considerado um rebaixamento de categoria, pois implicaria a migração de aeronaves maiores para um modelo menor, o que não faz parte da política interna da empresa.

Há, porém, uma exceção: quando um copiloto da própria Latam recusa uma promoção. Nesses casos específicos, ele pode ser designado para operar o Embraer E195-E2. Fora essa situação, a estratégia da companhia é buscar profissionais no mercado externo para compor as equipes da nova frota.

A seleção

 

O processo seletivo foi aberto nesta terça-feira (15), com inscrições que vão até 4 de janeiro de 2026.

Os profissionais aprovados começarão a ser admitidos a partir de fevereiro. Antes da chegada dos primeiros aviões, passarão por treinamento específico. A empresa informou que o bônus será pago uma única vez, como incentivo à contratação.

A Latam tem atualmente mais de 22 mil funcionários no país. Esse total inclui cerca de 2,3 mil pilotos e 5,2 mil comissários de voo. Nos últimos três anos, a empresa liderou as contratações de tripulantes no setor.

Desde 2023, o quadro total de tripulantes cresceu 20%, impulsionado pela ampliação da oferta de voos e das operações. As movimentações internas aumentaram 46% no mesmo período, ampliando as oportunidades de carreira e capacitação.

Hoje, a Latam opera em 59 aeroportos no Brasil. A previsão é chegar a pelo menos 63 até 2026.

Segundo o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, o investimento no novo modelo de aeronave amplia as oportunidades para quem busca construir uma carreira de longo prazo.

"A Latam é a principal escolha no Brasil para quem sonha alto e quer desenvolver na aviação uma carreira sólida, em constante evolução e pautada pelo respeito e transparência. Com o investimento no E2, estamos ampliando ainda mais as oportunidades para quem quer ingressar", afirmou.
 

Os requisitos do processo seletivo indicam o perfil profissional buscado pela companhia. Para comandantes, exige-se experiência mínima de 5 mil horas de voo em linhas aéreas regulares. Desse total, ao menos 3 mil horas devem ser em aeronaves a jato.

Também são exigidas 500 horas como piloto em comando em aeronaves similares ou maiores que o E2.

A Latam exige ICAO nível 4 ou superior, certificado médico aeronáutico válido e passaporte brasileiro atualizado. É necessário possuir carteira E-Jets E1 ou E2 ou experiência recente. IFR, visto americano e ensino superior completo são considerados diferenciais.

Para copilotos, os critérios seguem outra linha, mas também são rigorosos. É necessário ter ao menos 500 horas totais de voo, licença de piloto comercial e habilitações IFRA e MLTE ou de tipo.

Também são exigidos CCT de PLA, ICAO nível 4 ou superior, CMA de primeira classe, curso superior completo e passaporte válido. Assim como para os comandantes, carteira E-Jets ou experiência recente é obrigatória. O visto americano é considerado um diferencial.

Latam tem um pedido de até 74 aeronaves do modelo Embraer E195-E2 — Foto: Embraer

Latam tem um pedido de até 74 aeronaves do modelo Embraer E195-E2 — Foto: Embraer

O avião

 

A incorporação do Embraer E195-E2 integra um plano mais amplo de expansão da Latam na América do Sul. O objetivo é ampliar a flexibilidade da malha aérea, possibilitar novos destinos e fortalecer conexões regionais.

Com a nova frota, o grupo estima a inclusão de até 35 novos destinos aos 160 que já atende. O pedido firme das 24 aeronaves está avaliado em cerca de US$ 2,1 bilhões, segundo preços de tabela.

Executivos do grupo e da Embraer destacam a eficiência do E195-E2. A aeronave reúne menor consumo de combustível por assento, é equipada com motores Pratt & Whitney GTF e sistemas modernos de fly-by-wire, baseados em comandos eletrônicos.

Esses recursos permitem reduzir em até 30% o consumo de combustível em comparação com aeronaves da geração anterior.

Escassez de pilotos

 

O anúncio das vagas ocorre em um momento em que a profissão de piloto volta a ganhar destaque.

Um levantamento da plataforma Resume.io mostrou que piloto de avião foi a profissão mais desejada do mundo em 2024, com mais de 1,3 milhão de buscas. O salário dessa função varia de R$ 5 mil a R$ 13 mil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o site Glassdoor.

A carreira liderou o ranking em 34 países, incluindo o Brasil. Apesar disso, o caminho até a cabine de comando continua longo e custoso.

No país, os custos de formação alcançam facilmente centenas de milhares de reais, considerando horas de voo e certificações. Esse descompasso entre interesse e acesso ajuda a explicar a escassez global de pilotos.

Uma reportagem da emissora alemã Deutsche Welle (DW) aponta que aposentadorias em massa e interrupções na formação durante a pandemia de Covid-19 reduziram o número de profissionais disponíveis.

O tráfego aéreo continua crescendo, especialmente nas rotas de lazer, mas a formação de novos pilotos não acompanhou esse ritmo.

Segundo a DW, companhias aéreas em todo o mundo passaram a oferecer salários mais altos, bônus de contratação e benefícios adicionais para atrair profissionais.

No entanto, especialistas ouvidos afirmam que esse movimento pode pressionar os custos operacionais e influenciar o preço das passagens.

O debate inclui propostas para elevar a idade limite de aposentadoria de pilotos de 65 para 67 anos, medida vista por alguns especialistas como paliativa e que enfrenta resistência de sindicatos e órgãos reguladores.

Estimativas citadas pela emissora alemã indicam que serão necessárias milhares de novas contratações nos próximos anos para reequilibrar a oferta e a demanda de pilotos no mundo. Esse ajuste, porém, pode se estender até a próxima década.

 

*G1