Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (31) e deve manter a taxa básica de juros da economia estável em 10,50% ao ano, de acordo com a projeção do mercado financeiro. A decisão será anunciada após as 18h.
A decisão do Copom sobre o patamar da taxa de juros acontece em meio à forte alta do dólar, que acumulou aumento, em 2024, de 15,9% até esta segunda-feira (29) – cotado a R$ 5,62. Segundo analistas, isso pode ser mais um fator relevante a pressionar a inflação.
Juro mais alto, por sua vez, tende a inibir uma alta maior da moeda norte-americana.
De maneira geral, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional.
"A tendência é que a gente venha a sentir esses impactos [do câmbio] a partir de julho em diante. Por isso a expectativa é que haja aceleração inflacionária neste segundo semestre”, afirmou ao g1, neste mês, o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Felipe Queiroz.
Confiante de que a taxa Selic será mantida estável em 10,50% ao ano nesta semana, o mercado financeiro aguarda uma sinalização, por parte do BC, sobre um eventual aumento de juros nos próximos meses.
No decorrer deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas reiteradas ao tamanho da taxa de juros – que ele considera elevada, o que impacta o crescimento da economia e a geração de empregos. Nas últimas semanas, porém, Lula não citou diretamente o Banco Central.
Em comunicado, o Itaú avaliou que o ambiente externo se tornou um pouco menos adverso, com dados de inflação e atividade econômica nos Estados Unidos.
Isso trouxe a perspectiva de que o ciclo de cortes de juros, na economia norte-americana, pode começar nos próximos meses, antes do esperado.
Por outro lado, a instituição financeira avaliou que a alta do dólar, ligada a questões globais e internas (com dúvidas a respeito dos rumos das contas públicas), e dados de atividade econômica, "mostrando um quadro de resiliência e de aquecimento do mercado de trabalho", seguem como fatores de pressão inflacionária.
"Com esse pano de fundo, entendemos que a política monetária [definição da taxa de juros pelo BC] se encontra no limiar de uma inflexão (nossa simulação dos modelos do BCB aponta que, nas condições atuais, a patamar de Selic necessário para levar a inflação à meta no horizonte relevante já seria de pelo menos 11,00% ao ano)", informou o Itaú.
Por conta disso, a instituição aguarda as sinalizações do BC sobre os movimentos futuros na taxa de juros.
Beto Saadia, Diretor de Investimentos da Nomos, observou que as expectativas de inflação do mercado ficaram ainda mais "desancoradas", em relação às metas, e que a inflação corrente também não ajudou, enquanto as contas públicas continuam incertas.
"Por tudo isso, já faria sentido um aumento da Taxa Selic. A curva de juros [no mercado futuro] precifica 100 bps [1 ponto percentual] de alta somente este ano. E precifica 180bps [1,8 ponto percentual até o fim de 2025. Essa precificação não se trata somente de prêmio de risco, de investidores fazendo hedge posições, mas tem fundamento macro a partir da própria função de reação do Banco Central", avaliou Saadia, da Nomos.
Em maio, o Copom defendeu uma atuação "firme" e "vigilante" para conter a inflação e não afastou "eventuais ajustes futuros" (para cima) na taxa de juros.
De acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:
▶️ Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a contenção da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em junho, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas teve queda de 0,3 ponto percentual.
▶️Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.
▶️ Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em doze meses, até junho de 2024, a despesa com juros somou R$ 835,7 bilhões (7,48% do PIB).
▶️Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, teriam um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso pode contribuir para diminuir a atratividade do mercado acionário.
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
As expectativas de inflação deste ano e de 2025 começaram a subir com mais intensidade após alguns eventos que aconteceram na economia nos últimos meses. São eles:
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