Sábado, 23 de novembro de 2024
Sábado, 23 de novembro de 2024
A contagem regressiva para o Réveillon está quase acabando, e, com ele, economistas já analisam como foi o desempenho da economia brasileira em 2023. Segundo o Boletim Focus, do BC (Banco Central), a expectativa do mercado é de alta de 2,9%, o que é um crescimento nada desprezível.
Porém, economistas de diferentes correntes teóricas têm, no mínimo, dúvidas se esse cenário positivo se repetirá no próximo ano.
“Em 2024, até pelo efeito-base de comparação com 2023, o crescimento deverá ser menor”, acredita Felipe Salto, economista-chefe da Warren Renascença.
Os especialistas ouvidos pelo R7 concordam que “todo mundo” errou nas previsões para este ano. Por exemplo, Leo Siqueira, doutorando em economia e deputado estadual paulista, lembra que o Focus indicava crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que mede o tamanho da economia de um país, de 0,8%.
O parlamentar e o economista André Roncaglia ressaltam que o indicador anual até aqui foi puxado pelo desempenho surpreendente do agronegócio no primeiro semestre, quando o setor registrou crescimento de 12,5% em relação ao mesmo período no ano anterior.
A efeito de comparação, no primeiro trimestre o crescimento de serviços foi de 0,5%, e a indústria contraiu 0,2%.
“Esse crescimento não vai se repetir no ano que vem, porque uma parte importante desse crescimento veio pela consequência da seca na Argentina. O Brasil acabou ocupando uma parte do mercado das exportações argentinas, que tiveram uma pancada forte. Então, eu não sei, eu imagino que no ano que vem a história do setor externo não vai ser tão pujante quanto a deste ano”, explica Roncaglia.
O consumo do governo, que turbina o cálculo do PIB, também “influenciou a alta do indicador”, destaca Leonardo Siqueira. Nos primeiros dois trimestres deste ano, esse item teve crescimento de 0,4% e 0,7%.
Nesse sentido, Roncaglia lembra da PEC (proposta de emenda à Constituição) do Estouro, aprovada no fim de 2022, que possibilitou à gestão Lula da Silva ter despesas extras de até R$ 145 bilhões em 2023.
“A gente teve um pacote muito importante com a PEC da Transição, que gerou o que eu chamo de um bônus fiscal para o governo, em termos de crescimento, que dificilmente vai se repetir no próximo ano, porque vai se iniciar, vamos dizer, a prática efetiva do novo marco fiscal”, opina André Roncaglia.
Ocorre que gastos públicos geram endividamento do governo, a ser coberto pelos pagadores de impostos. Isso faz com que especialistas, de uma maneira geral, defendam certa cautela com o uso desse artifício.
No Orçamento para 2024, aprovado pelo Congresso Nacional na terça-feira (19), há a previsão de zerar a dívida pública primária. Sem contar com os pagamentos de juros de débitos passados, a atual gestão quer ter saldo nulo no ano que vem.
Inclusive, essa tem sido a principal promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para fontes ouvidas pelo R7 e para outros agentes de mercado, a promessa de déficit zero não será cumprida.
Nas contas do próprio governo, cumprir esse objetivo exigiria que a arrecadação tivesse aumento de R$ 168,5 bilhões em 2024.
Para Cláudia Moreno, economista do C6 Bank, “existe uma incerteza muito grande se de fato essa expansão nas receitas vai ocorrer”. Ela prevê que, desse total, somente R$ 100 bilhões se concretizarão.
A previsão do banco para 2024 é de saldo negativo de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto). É a mesma estimativa do Warren Renascença.
Salto e Roncaglia afirmam que um crescimento nos próximos anos dependerá dos passos que o governo dará.
“A expansão das taxas de crescimento potencial dependem de uma agenda intensa na área de investimentos em infraestrutura e, em outra frente, dependem de turbinar as exportações”, diz Felipe Salto.
Já André Roncaglia diz que a reforma tributária é outro ponto fundamental.
“A reforma tributária acabou sendo muito mais extensa do ponto de vista da sua implementação do que aquilo que havia sido previsto, ela vai começar a ser operada em 2025", argumenta.
Outro ponto de incerteza levantado pelo economista é o da guerra de Israel contra os terroristas do Hamas. Segundo ele e outras fontes ouvidas, um dos impactos do conflito na economia brasileira poderá ser a pressão em cima da inflação.
Renan Diego, educador financeiro e consultor no segmento, acredita que, se mais países entrarem na guerra, os preços em território nacional vão aumentar.
Há cada vez mais indícios de que o governo do Irã tenha ajudado o Hamas a iniciar a guerra contra Israel. E, à medida que as evidências se acumulam, aumenta a preocupação de que o governo de Teerã possa se envolver diretamente no conflito no Oriente Médio.
Isso porque o país muçulmano é o único na região a ter arsenal capaz de ameaçar a existência de Israel, incluindo armas nucleares, segundo fontes militares.
“[Se isso acontecer] provavelmente o petróleo vai aumentar muito [de preço] e outras commodities também. Tudo vai ser influenciado, os alimentos vão ser impactados, porque o petróleo subindo, aumenta a maior parte do transporte alimentar do Brasil, que usa diesel e gasolina, derivados do petróleo”, afirma.
Vale lembrar que o diesel é utilizado nos caminhões, responsáveis pela maior parte do transporte de carga no Brasil. Segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte), 65% desse tipo de deslocamento é feito por rodovias.
"Um aumento de preços do petróleo pode levar a um aumento generalizado da inflação, pois os custos de produção e transporte aumentam, o que é repassado aos consumidores”, explica Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets.
Por outro lado, André Roncaglia também acha que o governo Lula caminha na direção certa ao implementar o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que promete R$ 260 bilhões em investimentos até 2026.
“Eu compartilho da ansiedade em relação aos efeitos de uma política industrial, mas é um governo que ainda tem dez meses completos, política industrial é algo que demora bastante tempo. Os resultados devem aparecer em 2025, talvez em 2026”, afirma ele.
De forma semelhante, Felipe Salto acredita que medidas de investimentos em infraestrutura do governo federal “parecem estar acontecendo”. Isso estaria ocorrendo pela atuação de Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
*R7