Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
A surpresa positiva com os resultados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado como prévia da inflação oficial, ajudou a aumentar as apostas do mercado financeiro em um corte mais robusto na taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a próxima semana, nos dias 1º e 2 de agosto. O indicador registrou queda de 0,07% em julho — enquanto o mercado previa alta de 0,3%. Com isso, muitos analistas passaram a considerar como provável uma redução de 0,5 ponto percentual, em vez de 0,25 ponto, dos juros básicos, que estão em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
"A conjuntura que está se formando é favorável a um corte na Selic de 0,50 ponto percentual, pois o dólar também está mais baixo do que o esperado pelo mercado, pressionando menos a inflação", afirmou o consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos. Ele destacou que, os núcleos do IPCA-15 apresentaram queda, em especial, o de serviços adjacentes, que fechou em 0,35%, bem abaixo do 0,56% de junho. É um sinal de que a pressão inflacionária do último segmento a se recuperar da pandemia não está mais tão forte, abrindo caminho para maior flexibilização da política monetária do Banco Central.
"Este era um dos temas que mais tiravam o sono do mercado, que melhorou as previsões para a inflação deste ano e de 2024. O problema dos juros de curto prazo saiu da mesa", disse o economista. Perfeito, prevê a Selic no fim do ano em 11,75%, abaixo da atual da mediana das projeções do mercado coletada no boletim Focus, do Banco Central, que é de 12%.
A mediana das estimativas do Focus para a inflação deste ano voltou a cair nesta semana, passando de 4,95% para 4,90%. E a de 2024, recuou de 3,92% para 3,90%. O Focus também registrou redução da previsão para a cotação do dólar, que passou de R$ 5 para R$ 4,97.
Apesar de acertar a previsão para o IPCA-15 de julho, Fabio Romão, economista sênior da LCA Consultores, também reconheceu que a desaceleração de preços de serviços foi uma das surpresas do indicador. Ele lembrou que seis dos nove grupos pesquisados registraram desaceleração, e os dados da prévia da inflação indicam uma variação de 0,05% no IPCA deste mês.
"Com essa surpresa dos serviços, e não só os serviços puro-sangue tradicionais, como também os subjacentes, que vieram abaixo do previsto, podemos ter novas rodadas de avanço mais moderado dos preços desse segmento", disse ele, apostando que a massa salarial deve perder força, agora, no segundo semestre.
Diante do resultado do IPCA-15, a LCA revisou de 5% para 4,90% a projeção para o IPCA deste ano. Romão, por sua vez, prevê corte de 0,25 ponto percentual na Selic, no Copom da semana que vem, e, nas próximas reuniões do ano, outras reduções de 0,50 ponto percentual. Com isso, a Selic encerraria o ano em 12%.
Energia mais barata
Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o principal efeito de baixa no IPCA-15 veio do grupo Habitação, com destaque para as quedas de 3,45% nos preços da energia elétrica, após a incorporação, nas contas de luz deste mês, do Bônus de Itaipu — um repasse dos resultados positivos da usina no ano passado, após o fim os encargos financeiros. Também influenciou o resultado a redução de 2,10% no custo do gás de botijão.
O resultado de julho marcou a primeira deflação do IPCA-15 em 10 meses, desde setembro de 2022. À época, o recuo havia sido de 0,37%, sob impacto dos cortes tributários do governo Jair Bolsonaro (PL) perto das eleições presidenciais. Depois, o índice teve nove avanços consecutivos. No acumulado do ano, o IPCA-15 registra alta de 3,09% e, nos 12 meses até julho, avanço de 3,19%.
*Correio Braziliense