Domingo, 24 de novembro de 2024
Domingo, 24 de novembro de 2024
A escassez de mão de obra qualificada é o novo fator de pressão nos custos de produção de novos imóveis, e tem alimentado as novas altas dos preços de projetos e lançamentos em 2024.
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, um dos pontos que que explica o sumiço dos trabalhadores qualificados é o próprio aquecimento da demanda do mercado imobiliário. São trabalhadores mais concorridos quando há muitos projetos em andamento, e eles têm cobrado salários mais altos.
Além disso, os números recordes de ocupação no país também fazem com que trabalhadores com experiência tenham deixado o setor imobiliário para seguir carreira em novos empregos.
Por fim, o segmento tem tido dificuldades em encontrar trabalhadores com treinamento técnico adequado para operar as novas tecnologias do setor, como operar equipamentos atualizados e mais sofisticados.
Dois dos efeitos desse cenário são:
De acordo com o presidente-executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, o setor de construção civil passou por um processo de industrialização nos últimos anos, que tem exigido um operário mais qualificado e treinado para conseguir lidar com toda a nova tecnologia.
"O operário da construção civil precisa saber operar equipamentos atualizados e mais tecnológicos, e trabalhar em um ambiente mais sofisticado, tecnicamente falando”, afirma.
Há também reflexos claros das mudanças trazidas pela pandemia na dificuldade de as incorporadoras em encontrarem mão de obra qualificada.
É um fenômeno que atinge também o setor de serviços, em que bares e restaurantes encontram problemas para encontrar cozinheiros, sommeliers e bartenders. A produção de eventos também sofreu com a falta de garçons, por exemplo.
São profissionais que arrumaram outros empregos durante a paralisação da economia durante a pandemia, e agora relutam para voltar ao posto antigo. No caso da construção, o executivo afirma que o principal desafio tem sido o de atrair esses trabalhadores de volta tanto para o setor como para o mercado formal.
Dados de um levantamento da Tendências Consultoria, por exemplo, indicaram que o setor da construção civil é o que apresenta a maior rotatividade de mão de obra no Brasil, com uma taxa de 65,66% nos 12 meses até agosto.
O número é bem maior do que o observado na economia brasileira, de 34,74%. Em seguida vieram os setores de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, com 50,57% e de Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, com 35,39%.
O levantamento foi feito com base no Novo Caged, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
O cenário, de acordo com representantes do setor, já tem pressionado as construtoras e incorporadoras a oferecerem salários melhores para atrair novos trabalhadores.
De acordo com o economista da Tendências Matheus Ferreira, a geração de vagas no setor de construção civil tem sido impulsionada pelo mercado imobiliário, principalmente no segmento de baixa renda — favorecido após as mudanças nas regras do Minha Casa, Minha Vida.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, o rendimento médio mensal das pessoas ocupadas no setor ficou em R$ 2.484 no trimestre encerrado em agosto.
O valor ainda está abaixo da média mensal total, mas ainda representa um avanço de 6,3% em comparação ao mesmo período do ano passado (R$ 2.336). O crescimento é maior do que a média, que subiu 4,8% no mesmo período, de R$ 2.989 para R$ 3.132.
O movimento também acompanha o atual cenário do mercado de trabalho brasileiro, que registrou uma taxa de desemprego de 6,6% no trimestre encerrado em agosto, no menor patamar desde 2014.
A população ocupada no Brasil passou dos 102,5 milhões, um novo recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, iniciada em 2012.
Tudo isso acabou aumentando a competição pela mão de obra no setor de construção civil e pressionou as empresas do segmento a aumentar os salários ofertados para conseguir atrair funcionários.
O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) mais recente divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou uma alta de 0,61% em setembro nos custos de construção.
E o avanço veio puxado principalmente pelo aumento dos gastos com mão de obra. Nesse grupo, o indicador registrou uma alta de 0,64% no mês, acumulando um avanço de 7,45% em 12 meses.
Historicamente, o primeiro efeito dos aumentos de custos de construção na vida dos consumidores é a alta nos preços dos imóveis.
Dados do Índice FipeZap de vendas de imóveis, por exemplo, indicaram uma alta de 0,71% em setembro, registrando uma valorização acumulada de 7,15% em 12 meses.
O movimento não é de agora. O segmento imobiliário tem feito uma recomposição dos preços dos imóveis desde o ano passado, após um forte aumento dos custos por conta da falta de materiais durante a pandemia.
Segundo Wertheim, do Secovi-SP, apesar de os custos de materiais, equipamentos e serviços já terem começado a demonstrar uma desaceleração — o indicador marcou uma alta de 0,60% em setembro, contra os 0,76% vistos em agosto — os preços dos imóveis devem continuar subindo.
Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, o setor está desenvolvendo uma pesquisa a nível nacional para acompanhar a situação.
“Queremos entender as motivações do trabalhador da construção civil. O que o retém, o que o afasta, por que ele trabalha no setor e qual a sua origem. E com base nisso a gente deve implementar algum trabalho em parceria com o Senai e outros setores da sociedade civil organizada para melhorar esse cenário”, diz o executivo.
O estudo deve sair ainda neste ano. Além disso, o segmento também tem apostado em trazer novos cursos e treinamentos para os trabalhadores.