Sábado, 23 de novembro de 2024
Sábado, 23 de novembro de 2024
As medidas anunciadas pelo governo federal para baratear veículos novos de até R$ 120 mil podem trazer competitividade para o mercado e reduzir especialmente os preços dos carros seminovos (com até três anos de uso), segundo especialistas do setor ouvidos pelo g1.
Para a Fenauto (Federação dos Vendedores de Veículos Usados), no entanto, há travas na proposta que vão praticamente anular seus efeitos — tanto nos preços dos seminovos quanto dos usados (aqueles que têm mais de três anos).
O plano do governo prevê o desconto de R$ 2 mil até R$ 8 mil no preço final de carros novos, além de subsídios para a redução do preço de caminhões e de ônibus. No total, o governo reservou R$ 1,5 bilhão para o programa.
O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, explicou que o desconto máximo será para carros que cumprirem os critérios social, de preservação do meio ambiente e de densidade industrial. O programa tem validade de quatro meses.
Você vai conferir nesta reportagem:
Para especialistas do setor ouvidos pelo g1, a medida do governo deve impactar principalmente a categoria de seminovos.
O CEO da Mobiauto, Sant Clair de Castro Jr., destaca que a tendência é que ocorra uma espécie de efeito dominó, com reflexo maior nos preços dos seminovos. Segundo ele, esse movimento também atingirá automaticamente os usados — com mais de três anos de uso.
O economista Lucas Foratto, do Data OLX Autos, faz a mesma projeção. Ele ressalta ainda que uma das consequências dos descontos nos carros novos pode ser a migração progressiva dos compradores.
Vale reforçar que, segundo os especialistas, a redução nos valores dos veículos deve atingir não só usados e seminovos de um modelo que ainda é fabricado, mas também aqueles que já saíram de linha de produção.
Para Saint Clair, os reflexos nos preços dos seminovos e usados podem ser rápidos desde que haja um entendimento geral do mercado sobre a medida. A partir dessa compreensão, diz, os preços dos veículos novos devem começar a fazer efeito — afetando, aí sim, todo o mercado.
Ele pondera ainda que pode haver receio entre compradores e vendedores por se tratar de uma medida temporária.
"Uma vez que você delimita um público para um período, você não sabe qual vai ser a demanda e se vai conseguir vender muitos ou poucos carros. Tudo isso influencia o seminovo", diz.
Lucas Foratto, do Data OLX Autos, acredita que o processo pode ser mais demorado devido ao período de adaptação do mercado.
Ele reforça ainda que o tempo de duração da proposta — de quatro meses — também vai orientar a decisão das montadoras sobre suas políticas de produção de veículos novos.
"Isso vai impactar na oferta de carros novos e na competitividade com os seminovos e usados, que vão depender justamente dessa dinâmica", pontua.
Os especialistas lembram também que a queda nos preços dos carros pode variar a cada região, considerando as diferenças de oferta e demanda. Ou seja, se determinado modelo for bastante ofertado no estado de São Paulo, por exemplo, ele tende a ser mais impactado pela medida.
Em regiões com menor oferta, a situação é inversa: com poucos veículos no mercado, a pressão do preço dos carros novos deve ser menor sobre os seminovos — que, por sua vez, devem pressionar menos os usados.
Foratto usa o exemplo do Renault Kwid — que teve queda de preço anunciada — para explicar a relação entre preço de modelo novo e seminovo de um mesmo veículo.
O presidente da Federação dos Vendedores de Veículos Usados, Enilson Sales, vê com frustração a medida divulgada pelo governo. Para ele, o pacote divulgado não terá impactos significativos no mercado de usados e seminovos devido aos limites orçamentários e de prazos.
O programa, que terá duração de quatro meses, estabelece que as vendas de carros com desconto serão exclusivas para pessoas físicas nos primeiros 15 dias, prazo que pode ser prorrogado por até 60 dias, a depender da resposta do mercado. Depois disso, as empresas também poderão se beneficiar.
No total, o governo reservou R$ 1,5 bilhão para o programa, sendo R$ 500 milhões para automóveis.
Para o presidente da Fenauto, a medida seria efetiva, com impactos nos usados e seminovos, caso fosse mais "abrangente, profunda e de longa duração". Ele cita ainda que políticas de acesso ao crédito seriam mais efetivas para o mercado automotivo.
"Chegando o credito na ponta é muito mais fácil do que você dar desconto tributário, que vai cair no colo das montadoras e não necessariamente chega no consumidor", conclui.
Saint Clair, da Mobiauto, considera a alta taxa de juros do país — na casa dos 13,75% ao ano — uma das principais vilãs desse mercado.
*G1