Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
A proporção de crianças de sete a nove anos de idade que não sabem ler nem escrever dobrou em quatro anos no Brasil, mostram dados de um relatório divulgado nesta terça-feira (10) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Segundo o documento, de 2016 a 2019 houve um "aumento sutil" no acesso à alfabetização. No entanto, no intervalo de 2019 a 2022, o cenário apresentou um retrocesso.
"A gente vive um momento muito crítico em relação ao analfabetismo, vendo o salto que o indicador deu. Há um passivo, de certo modo histórico, relacionado à qualidade da educação no Brasil. É importante que se entenda e que se tenha um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue mais tempo", ponderou Santiago Varella, especialista em Políticas Sociais do Unicef no Brasil.
A desigualdade racial também cresceu, e meninas e meninos negros na faixa de alfabetização foram os mais afetados pela pandemia.
A diferença da taxa de analfabetismo entre crianças brancas e negras de 7 a 10 anos passou de 4,3 para 6,7 pontos percentuais de 2019 a 2022 (veja no gráfico abaixo).
Segundo o Unicef, os dados indicam a "urgência de políticas públicas coordenadas em nível nacional, estadual e municipal para reverter esse quadro".
"As desigualdades raciais no Brasil são persistentes. Agora, estamos vendo isso nas crianças e em muitas formas de privação de direitos", completou Santiago Varella.
Em 2022, 60,3% das crianças e dos adolescentes eram privados de um direito ou mais no Brasil. Apesar da ligeira queda em relação a 2019 (veja abaixo), o percentual corresponde a 31,9 milhões de pessoas de 0 a 17 anos, de um total de 52,8 milhões no país.
A privação mais crítica no Brasil em 2022 é a de saneamento básico, que afeta mais de um terço (36,98%) dos brasileiros de 0 a 17 anos. Os estados do Norte possuem os piores indicadores.
"São pessoas que não têm banheiro individual e fazem suas necessidades em fossas fora de casa, dividindo com outras pessoas", ilustrou Santiago Varella.
As privação de renda atingiu 36% dos brasileiros entre 0 e 17 anos em 2022. Além disso, cerca de 20% dos meninos e meninas têm renda familiar abaixo do necessário para uma alimentação apropriada.
Para a elaboração do relatório, o Unicef analisou o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos: renda, educação, informação, água, saneamento e moradia. A pesquisa também considerou a dimensão alimentar.
O Unicef destacou também como as desigualdades regionais influenciam nos números (veja na tabela abaixo). No ano passado, quatro dos 27 estados apresentavam mais de 90% de crianças e adolescentes sofrendo privação de algum direito, todos nas regiões Norte (Pará e Amapá) e Nordeste (Maranhão e Piauí).
A privação também é maior entre negros do que brancos: 68,8% ante 48,2%.
Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação, por estado
Estado | Pessoas de 0 a 17 anos com ao menos uma privação |
AC | 83,9 |
AL | 83,8 |
AM | 80,9 |
AP | 91,7 |
BA | 75,3 |
CE | 80 |
DF | 37,8 |
ES | 53,9 |
GO | 59,9 |
MA | 90,2 |
MG | 46,8 |
MS | 63,3 |
MT | 74,9 |
PA | 91,2 |
PB | 78,9 |
PE | 73,4 |
PI | 91,6 |
PR | 46,8 |
RJ | 48,5 |
RN | 85,5 |
RO | 85,2 |
RR | 75,8 |
RS | 50 |
SC | 53,1 |
SE | 77 |
SP | 35,7 |
TO | 77,3 |
Ao lado de outros estados do Sul e do Sudeste, Minas Gerais tem índices de privação entre pessoas de 0 a 17 anos abaixo da média nacional.
*G1