Vinicius Rodrigues, de 29 anos, deu o que falar nas redes sociais ao aparecer trocando a prótese que tem na perna amputada durante a primeira Prova do Líder no BBB 24. Verônica Hipólito, que é medalhista paralímpica brasileira nas provas de 100 metros e 400m na classe T38, explicou para a Quem o que motivou a ação do amigo, recordista mundial dos 100m rasos da classe T63.
"Existem vários tipos de próteses e o Vini levou para o BBB uma para entrar na água, uma para ficar em pé no dia a dia e outra no formato de lâmina para poder correr. Naquele momento, ele estava com a prótese de dia a dia e não podia molhar porque não sabia no que tinha naquela meleca. Podia ser que tivesse um componente que acabasse com a prótese dele. E daí acabava de vez com a prótese, que é caríssima, não teria como arrumar lá, fazendo com que ele ficasse apenas com outras duas próteses durante o confinamento", explica ela sobre o amigo, que amputou a perna esquerda aos 19 anos após um acidente de moto.
"Não saiu a prótese da perna dele, não afrouxou, não acontece nada... O Vini só tirou a prótese para não ter chance dele perder a prótese naquela meleca", reforça.
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A atleta ainda ressaltou que leu muitos comentários capacitistas em relação ao amigo. Muitas pessoas criticaram Maycon Cosmer por ele ter indicado o atleta para a prova. Verônica ressalta que Vinicius é totalmente capaz de fazer qualquer atividade no BBB.
"O pessoal ficou irritado com o Maycon por ele ter chamado o Vini com deboche, no 'Vamos brincar?'. Muita gente brava falando: 'Como é que ele chama o cara amputado?'. Qual o perigo disso? Se a gente escutasse a mesma fala 'bora brincar, fulano' com outro participante ia ter a mesma irritação? Não! Por quê? Porque elas são pessoas sem deficiência. Se vê uma capacidade nelas que não se vê com uma pessoa com deficiência, que é o Vini. O que eu quis dizer é que a amputação do Vini não o coloca no lugar de pior, ou melhor, que alguém. Ele ter um recorde mundial o coloca na posição de ser melhor do que todas as pessoas do mundo na prova de 100 metros e na categoria dele. Mas no dia a dia não faz ele ser melhor ou pior", analisa.
"Houve aquela raiva e comoção porque inconscientemente as pessoas acharam que ele não fosse capaz e foram capacitistas. Todo mundo que está próximo do Vini e que é do esporte, eu mesma conversei com amigos amputados, viu que não foi tudo isso, que foi capacitista o que aconteceu. Ficar com raiva só porque o Maycon chamou o Vini para a prova é capacitismo. Não pensem que o Vini não tenha capacidade para fazer as provas do programa. Ele tem capacidade para fazer qualquer coisa lá", pontua.
Como analisa a estreia do seu amigo? A estreia do Vini foi extremamente emocionante. Ele sempre sonhou em viver isso. Ele vive intensamente e essa intensidade acontece no BBB. Ele já tinha batido na trave duas vezes e ficado muito mal por isso. Mas ainda bem que agora na terceira tentativa ele entrou no BBB. Na minha opinião, tem de tudo para ser uma edição história. Todo mundo é muito bom, forte e com uma história forte. Mas o Vini é muito forte e vai mostrar mais isso ao longo do BBB. Quem é amigo dele sabe que ele estava muito preso, deu até um medo na gente. E ele se soltou no momento mais tenso da noite, a Prova do Líder.
Acredita que o programa deva repensar as provas? Acredito que o programa deva repensar a forma de chamar o Vini para a prova. Aquela prova não existia nada de impossível para o Vini fazer. Falo isso como amiga e atleta, que vê ele fazendo em treino coisa muito pior que aquilo. A gente está brincando até que a Prova do Líder foi apenas um aquecimento dele... O problema foi a quantidade de horas e o medo dele de altura, que impactou um pouquinho. Acredito que o ideal seria antes das provas, o Vini tem o entendimento se ele vai ter que ficar muito tempo em pé, se vai ter que correr ou se vai se molhar. Acho que a produção pode colocar todo mundo vestidinho lá e o Tadeu Schmidt avisar o Vini - "Essa prova pode conter água e você pode ter que correr" - e daí o Vini pode trocar a prótese.
O que a participação do Vinicius poderá nos ensinar enquanto sociedade? Acho que o Vini vai abrir espaços para muitos debates e não de forma chata, mas dinâmica. Ele está no BBB e todo mundo assiste ao programa. No último censo, foi colocado que existem 17 milhões de pessoas com deficiência, mas desculpa, não é. Existem ativistas e estudiosos que estimam que existam 80 milhões de pessoas no Brasil com algum tipo de deficiência. Onde estão essas pessoas? Por que elas não estão no trabalho, na escola e no esporte? Talvez o Vini traga isso para a gente começar a refletir e faça com que essas pessoas comecem a ter coragem para sair de casa.
E também pode nos ensinar sobre a importância de repensar a acessibilidade... Com o Vini a gente vai falar sobre capacitismo, sobre acessibilidade arquitetônica e atitudinal. A gente também vai falar sobre três coisas importantes que vão acontecer neste ano: BBB, Eleições e as Olimpíadas e Paralimpíadas. Todo mundo fala que é ano olímpico, os patrocínios são para olímpicos... Está tudo certo, não existe rivalidade. O grande ponto é que todo mundo conhece os atletas olímpicos, que têm muito espaço, mas quando o Vini, que é recordista mundial, foi anunciado no Camarote do BBB, as pessoas ficaram: 'Quem é esse cara? '. Então, aí está outro ponto para debate. Um recordista mundial e ninguém sabe quem é. Por que não tem espaço? Por que ninguém fala?
Ele tem esse objetivo também de mudar esse cenário? Lembro que antes dele ir, ele disse: "Vou mostrar para todo mundo quem nós somos e melhorar muito as nossas condições". Todo mundo está muito esperançoso por isso. Espero que quando ele sair no BBB, com o prêmio, a gente possa falar que vamos ter a mesma cobertura que os atletas olímpicos têm. Que os atletas paralímpicos estão tendo patrocínios, que crianças que nasceram com deficiência, adultos e idosos com deficiência estão ocupando lugares e não estão sendo vistas apenas como exemplos de superação.
É importante falar sobre o capacitismo também, né? O Vini vai acabar com todo preconceito que existe na maioria da cabeça das pessoas sem deficiência, que tem aquela imagem de "bonitinho", "coitadinho" e "fofinho", que em outras palavras está relacionada ao ser incapaz. Daí vem o capacitismo. Inconscientemente, você acha que a pessoa é incapaz e ela vira o eterno exemplo de superação. Ninguém tem que superar a deficiência. Ela é apenas uma característica, assim como a altura de uma pessoa, o fato dela ter ou não cabelo, ou a cor de sua pele.
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Você foi muito criticada por falar que os comentários atacando a indicação do Vinicius pelo Maycon eram capacitistas... Muita gente veio falar que eu era capacitista e que não sabia de nada... Que eles estavam pedindo acessibilidade e inclusão. Se alguém que é preto fala que algo é racismo, você bate na pessoa e fala que não, que ela não sabe de nada? Se alguém da comunidade LGBTQIAPN+ fala que algo foi homofóbico, você vai falar que ele está errado? Não, né? Acho que precisam respeitar quem tem lugar de fala e pensar na acessibilidade a todo momento. Não vejo aqui fora essa mesma comoção.
Quais os pontos fortes do Vini no jogo? Sou suspeita, mas vejo mais pontos fortes do que fracos no Vini. Ele é uma pessoa muito animada, que dança até ao chão, extremamente resistente, ele é veloz, palhaço, lindo e maravilhoso.
E os pontos fracos? Assim como é positivo ele ser ligado no '440', isso é negativo também. Porque ele fica pilhado demais. Acredito que se ele entrar na Xepa, ele fique pistola por questão de comida. Além disso, ao mesmo tempo que é positivo ele ser competitivo, pode se negativo. Ele é uma atleta de alto rendimento e extremamente competitivo, não aceita perder.
O que a gente pode esperar dele? A gente pode esperar um dos melhores ou o melhor jogador do BBB. Ele está lá claramente lá para ganhar, para viver, tentar, experimentar e ser intenso. A gente não pode esperar que ele seja coitado. Isso ele odeia. Ele teve um acidente, perdeu a perna, colocou a prótese e quer motivar e inspirar as pessoas por ser gente boa, bom dançarino e por sua alegria. Além de ser melhor atleta na categoria dele.
*Quem