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Quinta-Feira, 15 de maio de 2025

Entretenimento

Após polêmica, Thainá Duarte deixa filme, e Geni será interpretada por atriz trans

Após polêmica, Thainá Duarte deixa filme, e Geni será interpretada por atriz trans

(Imagem: Divulgação/Rodrigo Reis)

   

Agora, a personagem 'passa a ser uma mulher trans/travesti, e será interpretada por uma atriz trans'. Segundo as empresas, a decisão 'coletiva foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade' (leia a nota completa abaixo).

A produção ainda agradece a atriz Thainá Duarte pelo entendimento sob a decisão. Também em publicação nas redes sociais, a atriz disse que lamentava 'que todo esse processo tenha causado tanta dor'.

'Sinto muito que essa escolha tenha machucado tanto a comunidade trans. Agora eu entendo melhor o tamanho dessa reivindicação. Estou me colocando do lado de quem está ferido. Reconheço o lugar de fala, a urgência e a dor de estar pedindo pelo mínimo, que é respeito. Mas isso não justifica alguns dos ataques que recebi, como [transfóbica oportunista, você é nojenta, você merece morrer]. Mensagens que supunham que eu não estava aberta para o diálogo. E eu estou. Tá doendo bastante. E eu espero que a atriz que interprete a Geni faça tão bem, que isso possa sanar um pouco a dor que estamos sentindo', disse.
 

Entenda a polêmica

 

Nos últimos dias a internet entrou em grande confusão após o anúncio de que a atriz Thainá Duarte, que não é uma mulher trans, iria interpretar a personagem principal do filme 'Geni e o Zepelim', dirigido por Anna Muylaert.

A grande questão é que o papel de Geni ficou marcado como de uma travesti ou mulher transgênero - nas primeiras adaptações, aliás, era feito por homens. A canção original de Chico Buarque, dentro do musical 'Ópera do Malandro', não deixa exatamente claro qual a identidade de gênero dessa personagem, mas alguns indícios dão conta de que a história de ódio contra Geni tem relação com a transfobia e seu trabalho enquanto prostituta.

Havia grande expectativa, pelo filme estar centrado em 2025, que uma mulher trans fosse então interpretar a personagem, o que não foi a decisão.

O caso foi criticado por diversas pessoas, como a atriz trans Maia Hazel, que afirmou que carrega as dores da Geni na 'pele'.

'Carrego na pele e na alma as dores e cicatrizes que atravessam tantas mulheres como Geni. Tenho vivência real, entrega artística intensa e um currículo sólido construído com muito esforço em teatro, cinema e televisão', disse nas redes.
 

Já a cantora e também atriz Liniker escreveu que:

'Eu acho que, no Brasil que a gente vive hoje, o debate ser aberto como votação, se é certo ter uma pessoa trans ou cis nesse papel, já nos expõe grandemente. O Brasil não é um país acolhedor aos nossos corpos e trajetórias, principalmente se tratando de um protagonismo numa produção audiovisual'.
 

A atriz Camila Pitanga afirmou que a decisão por uma mulher cis para o papel 'fere' a comunidade.

'Você pode fazer o filme que quiser, com certeza… mas pondero que esta interpretação serve sim ao apagamento doloroso de mulheres trans. São poucos personagens com esse protagonismo, entende? É uma escolha que fere'.
 

Para complementar, o jornal Extra revelou que na apresentação da captação de recursos para o projeto na Ancine, o filme dizia que se tratava de uma travesti. No trecho da sinopse afirma que a trama 'narra a história da travesti Geni, prostituta, amada pelos desvalidos e odiada pela elite de uma cidade ribeirinha no coração da floresta amazônica'.

Documento oficial da Ancine mostra captação de recurso como uma personagem travesti. — Foto: Reprodução

Documento oficial da Ancine mostra captação de recurso como uma personagem travesti. — Foto: Reprodução

O que disse a produção antes?

 

Em publicação nas redes sociais, Anna Muylaert afirmou que durante o processo de criação do longa, houve o entendimento de que diversas leituras eram possíveis

'Durante o processo de criação desse filme, a gente entendeu que a letra do Chico e o conto do Guy de Maupassant, Bola de Sebo [no qual ele disse que se inspirou] poderia ter várias leituras. Poderia ser uma mulher trans, uma mãe solteira, uma carroceira da favela do Moinho, uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade, uma floresta atacada diariamente por oportunistas', disse.
 

Segundo ela, a decisão foi por uma 'prostituta cis na Amazônia' com uma influência de Iracema e do que acontece atualmente no Marajó.

'A gente entendeu que essa poesia poderia ter várias interpretações, e que a gente poderia fazer esta versão amazônica cis com a atriz Thainá Duarte', continua.
 

Antes, Muylaert se mostrava já aberta a possibilidade de voltar atrás da decisão.

'Geni e o Zepelim' não tem previsão de estreia ainda marcada. As gravações vão começar nas próximas semanas. O elenco tem o ator e músico Seu Jorge.

Veja a sinopse oficial:

'Inspirado na canção homônima de Chico Buarque, o longa narra a história de Geni, prostituta de uma cidade ribeirinha, localizada no coração da floresta amazônica. Amada pelos desvalidos e odiada pela sociedade local, ela vê sua cidade sendo invadida por tropas lideradas por um tirano, conhecido como Comandante, que chega voando em um imponente zepelim, com um verdadeiro projeto de poder predatório para a região. Ele obriga todos a fugirem rio adentro, onde acabam presos. Porém, quando o Comandante vê Geni, ela percebe que talvez ainda haja uma chance de virar o jogo'

Leia a nota completa:

 

'A produção do longa “Geni e o Zepelim” tomou a decisão de redesenhar o projeto. A personagem principal, inicialmente concebida como uma mulher cis, passa a ser uma mulher trans / travesti, e será interpretada por uma atriz trans. A decisão coletiva foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade. Compreendemos que o momento político global, e em especial o cenário transfóbico no Brasil, impõe a todas as pessoas uma postura ativa e comprometida. Consideramos que esta mudança de abordagem da identidade de gênero da personagem no filme é a atitude acertada.

Diante desta decisão, expressamos nossa profunda admiração e gratidão a Thainá Duarte - uma atriz de grandeza e talentos únicos.

Agradecemos ainda à Associação de Profissionais Trans do Audiovisual (APTA), que realizou conosco uma conversa franca e nos apontou caminhos.

Agora precisamos nos dedicar ao filme, que começa a ser rodado em duas semanas, no Acre. Em breve divulgaremos quem será a protagonista. Que Geni ganhe o mundo e sensibilize corações e mentes'.

*CBN/Globo

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