A infância dos brasileiros dos anos 90 foi marcada por filmes e programas de TV da eterna Rainha dos baixinhos Xuxa, de Angélica e do comediante Renato Aragão, com a Turma do Didi. Junto com o trio estava a pequena Debby Lagranha, com seus longos cabelos cacheados e rosto angelical. Hoje, a menina é uma mulher de 31 anos, formada em medicina veterinária e mãe de duas crianças -- Duda, de 10 anos, e Arthur, de um -- de seu relacionamento com o médico veterinário Leandro de Franco, de 42, com quem é casada há 14 anos.
"Meu maior sonho se tornou realidade, meus filhos, cada um com seu jeitinho único e especial, são o melhor de mim, é um amor inexplicável. Nossa rotina é bem agitada, afinal a família é grande (risos). Mas cada momento é único e especial demais e merece ser dividido. Hoje, meus seguidores também fazem parte da família, então aumentou mais ainda, né (risos)", conta Debby que é seguida por quase meio milhão de pessoas só no Instagram.
Nas redes, Debby compartilha com seus seguidores sua rotina de mãe, esposa e empresária. E ainda relembra o passado nas fotos com Xuxa, Renato Aragão e Angélica. "Fico muito emocionada quando compartilho aquelas fotos, passa um filme na minha cabeça de toda a minha história, são lembranças pessoais e profissionais. Eles marcaram a minha infância e estarão eternamente no meu coração", derrete-se.
Desde que se formou em medicina veterinária, em 2015, Debby passou a trabalhar com a parte clínica e cirúrgica de pequenos animais. Atualmente, possui uma empresa de hospedagem de cães que atua há 13 anos e há 7 anos abriu uma piscicultura no Rio juntamente com o marido. Os dois têm oito cães, além de galinhas, calopsitas e peixes.
Debby Lagranha — Foto: Andressa Lima/Divulgação
Debby Lagranha — Foto: Andressa Lima/Divulgação
Leia, abaixo, a entrevista completa:
O público que te acompanhou nos anos 90 hoje está com 30, 40 anos. Como é sua interação hoje em dia com as pessoas que te assistiam nos programas da Xuxa, da Angélica e do Didi? É engraçado porque hoje em dia essa galera tem 30, 40 anos e já tem filhos. E os filhos, infelizmente, nem sabem quem é o Didi, o Renato Aragão... A Xuxa ainda é uma realidade um pouco mais próxima, mas, mesmo assim, muitas crianças não sabem quem são. As mães se emocionam quando me veem, querem tirar foto e tudo mais e as crianças ficam olhando, tipo: 'mãe, quem é esse ser humano que você está tirando foto?' Não faz sentido para a cabeça delas. Mas é nostalgia pura. É muito engraçado, um choque de realidade, da galera que realmente é fã com os filhos que não fazem nem ideia de quem sou e ficam chocados com a emoção dos pais ao me verem (risos).
Você começou na carreira artística ainda bebê e por acaso. E aos cinco anos já era apresentadora do 'Clube da Criança', na TV Manchete. Como foi começar a trabalhar tão cedo? Comecei muito cedo, mas as memórias que tenho são de diversão. Para mim aquilo era muito mais um momento prazeroso, alegre e divertido. Eu sabia que tinha muitas responsabilidades, mas, de certa forma, todos à minha volta sempre fizeram tudo ser muito leve de modo que eu não perdesse a minha vida social, o convívio com os meus amigos, as festinhas, os momentos escolares e familiares.
Teve tempo para ser criança? O que eu vejo é que eu tive que amadurecer muito mais cedo. Eu acho que isso sem querer aconteceu por toda a realidade que eu vivia. Mas não me arrependo, não tenho memórias ruins. Não definiria a minha infância como a melhor, mas foi minha e foi muito feliz. Eu tive oportunidade de fazer muitas coisas que só eu fiz. De muitas coisas eu fui a única. Soubemos levar muito bem, de uma forma muito leve, com os pés no chão.
Debby Lagranha na infância — Foto: Arquivo pessoal
Você começou a atuar ainda criança e viveu a fama de forma intensa. Como isso te afetou? Hoje em dia é muito mais difícil ser uma criança famosa. Na minha época era muito mais tranquilo. Acredito que hoje tem um peso diferente. Soubemos lidar muito bem, de uma forma que estava dentro da minha realidade. Era inevitável ir aos lugares, mas sempre fui muito respeitada, as pessoas sempre foram muito respeitosas comigo. Algumas vezes me senti um pouco mais exposta, mas nada que tenha me afetado ou impedido de fazer alguma coisa. Minha família sempre conseguiu levar de uma forma muito natural. Óbvio que eu era conhecida, que era diferente na escola, saíam matérias e fotos, eu era convidada para festas de famosos, mas sempre de uma forma muito dentro da minha realidade.
Você tem algum arrependimento em relação à sua trajetória na TV? Nenhum. Eu sempre brinco que entre a razão e o coração sou muito mais coração. E acho que trilhei o caminho exatamente como gostaria de ter trilhado. Acho que na vida temos que ter prioridade e, a partir do momento, temos as nossas prioridades, temos que focar e correr atrás. Em um determinado momento, quando precisei optar entre a carreira artística e a veterinária, que sempre foi o meu maior sonho, falo que é a minha maior realização pessoal em termos de ser a minha missão de vida, optei pela veterinária e mergulhei de cabeça. Desde que me formei, há oito anos, comecei a trabalhar em uma agência de bichos artistas, passei também a trabalhar na Globo e em outras empresas e agências como veterinária responsável. Consegui estar lá só que por trás das câmeras, de uma forma mais completa, que é a forma que eu queria. Não tenho arrependimento. Nunca penso muito no 'se'. Acho que o que foi foi, aconteceu, com certeza aconteceu da melhor forma. Acredito, confio, aceito e vamos embora (risos).
Você esteve durante muitos anos no meio artístico. Já foi alvo de machismo ou assédio? Em termos de hoje em dia, que bom que as mulheres estão com essa voz, mas tenho que me sentir privilegiada e honrada porque nunca aconteceu comigo. Não tenho nada para contar, falar, graças a Deus. Comecei muito pequena, mas fui até os meus 16, 17 anos. Cheguei a ver coisas, mas comigo, graças a Deus, nunca.
Debby Lagranha fez sucesso nos programas infantis dos anos 1990 e 2000 na Globo — Foto: Reprodução/TV Globo
Quando você percebeu que a Debby menina, que marcou uma geração, havia virado uma mulher? Tive dois momentos que senti isso. Primeiro quando completei 18 anos, acho que estava com quase 19, e fiz o Paparazzo que na época eram aqueles ensaios sensuais [para o extinto site Ego, da Globo]. Esse ensaio foi bem emblemático, porque, no dia seguinte, eu acordei e era capa de todos os lugares, todo mundo falando: 'a Debby do Didi cresceu!'. O segundo momento foi quando engravidei da Duda e recebi muitas mensagens do Brasil: 'o Brasil vai ser titio, a Debby cresceu'. Até hoje as pessoas têm um pouco de dificuldade de me ver como mulher. Ainda tenho voz de menina, carinha de menina, meu jeito também é um pouco de menina. Mas quando preciso me portar como mulher sei bem. Esses dois momentos me marcaram muito. Marquei uma geração e essa geração está vendo a Debby crescer.
Em 2015 você se formou em Medicina Veterinária. Foi um plano B? A Medicina Veterinária sempre foi meu plano A. Eu brinco que eu escolhi a profissão aos dois anos de idade. Como comecei a trabalhar muito pequena, fazendo publicidade e TV, eu dava muitas entrevistas e em todas elas falava que seria veterinária. Tanto é que hoje em dia, trabalhando na agência de bichos artistas, quando voltei para a Globo e para a Record, as pessoas falaram: 'hoje em dia você realmente virou veterinária'. Então ser veterinária é uma realização pessoal muito grande porque é minha missão de vida. Vim para esse planeta Terra para isso. É meu plano A, A, A... (risos). Fui deixando a correnteza me levar, fui seguindo com a maré, mas nos momentos que precisei optar eu sabia o que queria.
Como é sua rotina de mãe de duas crianças com idades tão distintas? É uma aventura diária (risos). Os dois tem uma diferença de nove anos. A Duda é super, ultra, mega, power parceira, ela me ajuda muito e sempre quis muito um irmão. O Arthur é um aprendiz de furacão perfeito, ele é completamente apaixonado por ela. Esse vínculo deles acaba deixando tudo mais fácil. Porque eles são totalmente diferentes e cabe a mim me desdobrar para chegar a um e a outro. E, de vez em quando, dou uma olhadinha no espelho para ver se sobrevivi (risos).
Debby Lagranha com os filhos — Foto: Reprodução/Instagram
O que mudou na Debby depois da maternidade? Não sei como vivi tantos anos sem meus filhos, acho que eles me fazem um ser humano muito melhor e me sinto totalmente completa. Tinha várias coisas que eu pensava em querer, em fazer e sonhar e hoje em dia tudo é com eles, por eles e para eles. Brinco que nunca fui aquela menina que sonhava em casar e entrar na igreja de véu e grinalda, mas sempre sonhei em ser mãe. A Duda é exatamente o que eu pedi a Deus e ela me apresentou a esse mundo da maternidade, das incertezas, das inseguranças, mas, em contrapartida, do amor que nunca vi igual, de uma entrega, e, sem dúvida, eu comecei a viver depois da chegada deles.
Qual é a receita para manter a chama e o amor no casamento depois de 14 anos juntos? Parceria e companheirismo. O respeito tem que andar muito perto porque a paixão às vezes acaba, mas o amor fica. Nossa sorte é justamente essa. Não temos o casamento perfeito, temos as nossas brigas, mas somos muito parceiros, amigos. A gente sabe que não é fácil, por isso caminhamos de mãos dadas. E no meio disso temos que ter nossos momentinhos a dois, só marido e mulher.
Como mantém a boa forma? Minha vida é tão corrida, no meio das crianças, e ainda cercada pelos bichos, fora a rotina de roupa, marido, comida, casa. Deus me abençoou, eu acho: 'não tem problema se não fizer exercício, porque você já faz tanta coisa durante o dia que está valendo' (risos). Minha rotina de exercício hoje em dia é essa: meu dia a dia com as crianças, com a casa, com a cachorrada. Sou boa de boca, adoro comer, prefiro salgado, mas à noite gosto de um docinho. Não sou daquelas que me preocupo. Como mesmo, não estou nem aí para balança, dieta.
Quando se olha no espelho, como se sente? No momento me sinto cansada. É raro conseguir me olhar no espelho. Às vezes saio com os cabelos para o alto, zero maquiagem, esqueço. Brinco que por trás de crianças lindas, arrumadas e cheirosas sempre tem uma mãe descabelada, cansada e com olheira (risos).
Já teve problemas de autoestima? Nunca, mas já passei por situações em que não me sentia confortável, principalmente com os meus cabelos nos anos 90. Na época, cabelo cacheado era uma verdadeira aberração e ainda não existiam produtos para cacheadas, profissionais que ensinassem. Na minha fase entre os 12 e 16 anos eu tinha vários conflitos em relação ao meu cabelo e às possibilidades, mas nunca entrei em um buraco negro por isso. Eu sempre fui até relaxada demais. Quando eu não estou muito confortável, opto por não me olhar no espelho. Sei que não tem como piorar nem melhorar, então, se não estou confortável não vejo. Trabalho meu psicológico assim. Não sei se está certo, errado. Vejo minha filha de 10 anos, até pelas facilidades e possibilidades, ela repara e vê coisas na idade dela que eu jamais pensaria. Tenho que saber lidar com isso. Não é fácil...
Debby Lagranha com o marido e os filhos — Foto: Reprodução/Instagram