Domingo, 16 de março de 2025
Domingo, 16 de março de 2025
O primeiro show da turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil, teve gritos de “sem anistia” e uma homenagem para Preta, filha do artista que está em tratamento contra o câncer. A apresentação aconteceu neste sábado (15), na Arena Fonte Nova, em Salvador, e reuniu famílias baianas com idosos, crianças e adolescentes.
“Estarmos aqui juntos é o sentido profundo de termos nos dedicado a essa longa carreira”, disse durante o espetáculo.
O tema da Ditadura Militar não poderia ficar de fora da turnê de despedida: Gilberto Gil foi preso e exilado em Londres, na Inglaterra. Em um dos momentos mais marcantes do show, os fãs gritaram "sem anistia". O ato foi logo antes do baiano cantar a música "Cálice", feita em parceria com Chico Buarque e lançada em 1978.
O posicionamento político do público foi feito após um vídeo de Chico Buarque aparecer no telão. O carioca falou sobre a letra da canção, que tinha críticas diretas a Ditadura Militar, relembrou os tempos do regime após o Ato Institucional nº 5 (AI-5) e afirmou que é necessário "ficar atento".
Em seguida, uma sequência de imagens de vítimas da ditadura militar foram exibidas no telão. Entre elas, o jornalista Vladimir Herzog e o ex-deputado Federal Rubens Paiva, torturados e mortos durante o regime.
Imagens de vítimas da ditadura militar, como Rubens Paiva, foram exibidas no teçao durante a música "Cálice". — Foto: Malu Vieira/g1
Intitulada de "Gil - Tempo Rei", a turnê marca a despedida do artista das turnês, devido a rotina cansativa que esse tipo de projeto costuma ter. “Subo neste palco, minha alma cheira a talco como bumbum de bebê”, da música “Palco”, foi não ironicamente o primeiro verso cantado pelo baiano, que tem 82 anos de idade e mais de 50 anos de carreira.
O show foi um passeio pela carreira de Gil, que sempre foi apaixonado pela música. A apresentação trouxe não só os maiores sucessos, como “Esperando na Janela” e “Se Eu Quiser Falar Com Deus”, mas também homenagens a Dominguinhos e João Gilberto, ídolos e figuras importantes na formação musical do artista.
No final do show, Russo Passapusso e Margareth Menezes surpreenderam a plateia ao subirem no palco para cantar "Emoriô" e "Toda Menina Baiana", respectivamente. As participações foram ovacionadas pelo público.
A apresentação foi encerrada com “Aquele Abraço”, após 2h30 de muitos sucessos e emoções. Quem esteve na apresentação pôde curtir as músicas e também o espetáculo de produção artística, com direito a drones e um cenário tecnológico. Ao longo do show, trechos das letras das músicas eram projetados no telão e em uma enorme aspiral que ficava no meio do palco.
Para quem esteve na primeira apresentação de despedida, fica a certeza de que o tempo precisa, realmente, ser reverenciado. Com ou sem turnês futuras, "tudo permanecerá do jeito que tem sido" há mais de 50 anos: Gil e sua música são imortais.
Antes de cantar a música “Drão”, feita para a ex-mulher Sandra Gadelha, Gil fez uma homenagem para a filha Preta Gil, que está em tratamento contra o câncer. A cantora estava internada até sexta-feira (14) no Hospital Aliança, após ter contraído infecção urinária após o carnaval.
“Esse show é para mim, para todos, mas especialmente para minha filha Preta”, disse.
Ao longo da música, várias fotos e vídeos de Preta ainda criança apareceram no telão. A artista, que compartilhou alguns momentos do show nas redes sociais, não conteve a emoção e foi amparada por amigos.
Fãs de Gilberto Gil lotam Arena Fonte Nova, em Salvador — Foto: Malu Vieira/g1
O anúncio de que "Gil - Tempo Rei" seria a última turnê do baiano motivou a sergipana Irina Gonçalves, de 42 anos, viajar para a capital baiana com os dois filhos para assistir um dos artistas preferidos da família. Helena, de 10 anos, e Antônio, de 8, não esconderam a animação ao saber que conseguiriam assistir ao show do ídolo.
“Eles sempre escutaram o que eu escuto e Gil é um desses artistas. Essa é a primeira vez deles em um show grande e em um estádio”, explicou.
Ao serem questionadas sobre a música favorita, as crianças precisaram de um tempo para pensar: “é uma pergunta difícil, são muitas músicas boas”, explicou Helena. Mas as favoritas no ranking dos irmão sergipanos são "Palco", "Domingo no Parque", "Tempo Rei" e "Sereno".
Sergipana Irina Gonçalves, de 42 anos, e os filhos no show de Gilberto Gil — Foto: Malu Vieira/g1
Diversas famílias soteropolitanas também se organizaram para ver o show. Uma delas é a do Sérgio Luz, de 56 anos, que cresceu com os sucessos de Gil como trilha sonora. A ida para a Arena Fonte Nova, neste sábado, é mais que especial: é o primeiro show de Gil que a filha e a enteada vão assistir.
“Quando vi que era o último, falei que precisávamos vir. Gil é único, escuto há 50 anos e tenho certeza que essa apresentação será especial”, afirmou.
Famílias marcam presença no primeiro show da turnê de Gilberto Gil em Salvador — Foto: Malu Vieira/g1
Quem também estava na plateia do show foi Jullie Dutra, vencedora do quadro “Quem quer ser um milionário”, do programa Domingão com Huck. Concurseira, ela é fã de carteirinha do tropicalista e tem lembranças das músicas em diferentes épocas de sua vida.
“Sou louca por Gil, ele é atemporal e dialoga muito com o meu passado. Ao mesmo tempo, ele dialoga muito com o tempo atual e reflete a realidade nosso país nas suas músicas”, afirmou.
Vencedora do quadro 'Quem quer ser um milionário', Jullie Dutra curte show de Gilberto Gil em Salvador — Foto: Malu Vieira/g1
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