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Sexta-Feira, 22 de novembro de 2024

Entretenimento

Henrique Fogaça: 'Não ter acesso à comida é muito cruel'

Henrique Fogaça: 'Não ter acesso à comida é muito cruel'

(Imagem: Instagram/@haidar.melissa)

Henrique Fogaça garante: não é bravo ou mal-humorado como aparenta no MasterChef Brasil, reality shows culinário no qual desde 2014 é um dos jurados. “Talvez seja meu jeito de falar, minha voz mais grossa que acaba de uma certa forma intimidando as pessoas”, justifica. “Mas eu sou muito justo nas minhas nas minhas avaliações”, lembra o chef paulista de 49 anos, que volta ao programa que o tornou famoso para mais uma temporada do MasterChef Profissionais – ele também estará na versão para pessoas com mais de 60 anos.

Fogaça conta que adora trabalhar com os cozinheiros mais velhos - na temporada atual, de amadores "jovens", Rodrigo Oliveira excepcionalmente substituiu o colega, apenas para estes episódios. “Acho algo legal e muito produtivo. Há pessoas que na verdade, quando chega uma certa idade acabam meio que ‘desistindo’ um pouco da vida, querem ficar mais em casa, se aposentam... E o programa dá uma revigorada nessas vidas”, pondera. “São pessoas que querem dar uma reciclada”, diz ele, citando o próprio pai, de 81 anos, como um exemplo.

O chef tem um lema, que aplica não só ao programa com pessoas de mais idade como à própria vida. “Nossa mente, nosso lar. É importante manter uma mente jovem, saudável, produtiva, que tudo em volta se revigoriza e as coisas acontecem”, ensina. Em seu caso, ele não fica parado – mesmo.

“Eu sou uma pessoa muito hiperativa, ligado a esportes, criando receitas, cuidando dos restaurantes... Tem que estar com a mente ativa, não pode parar de pensar”, diz o chef, que para dar conta de tudo bate ponto na academia e faz boxe.

“Tudo”, no caso de Fogaça, é muito coisa. Além do MasterChef, ao lado de Ana Paula PadrãoÉrick Jacquin e Helena Rizzo (no lugar de Paola Carosella desde 2021), ele está participando de um rally, lançou um livro recente, O Mundo do Sal, vai soltar novas músicas com sua banda de hardocore, Oitão, e está abrindo um novo restaurante Sal Gastronomia, além das outras casas às quais está à frente.

As novas empreitadas no mercado gastronômico são um alívio após a pandemia. Como outros donos de restaurantes, Fogaça enfrentou turbulências e precisou fechar duas casas no Rio. “Quem passou pela pandemia agora é trabalhar. Inovar e, uma das teclas em que sempre bato, lembrar que comida tem que ser para todos. É trabalhar um cardápio para que todos possam ter acesso [à comida]”, pontua.

Fogaça, que está envolvido em vários projetos sociais, durante pandemia entregou mais de 100 mil marmitas para moradores de rua. A crise tocou o chef, que vê a solidariedade como um caminho para uma sociedade melhor. “Estou sempre fazendo um pouco pela população, as pessoas com crianças [na rua]... Eu tenho família, eu tenho filhos. Se cada um fizesse um pouquinho, no seu bairro ou na sua cidade, o mundo seria um pouco mais menos faminto e mais igual para as pessoas. Não ter acesso à comida é muito cruel”, desabafa.

Ele aponta uma mudança de mentalidade nos últimos tempos no meio da gastronomia, com mais consciência social. “Essa reflexão veio muito forte assim na pandemia, as pessoas vendo um monte de gente fechando restaurante, perdendo emprego, gente indo morar na rua... Quem estava atento a isso com certeza teve uma mudança interior, focou em poder ajudar o próximo”, avalia.

TRANSFORMAÇÃO

Fogaça lembra o poder transformador da gastronomia, algo que ele vê há anos no MasterChef e que é estímulo para ele continuar a fazer o programa. “Vejo não só essa transformação de vida nas pessoas, como a minha própria transformação e maturidade como cozinheiro”, afirma. “Ali se passa uma mensagem para um público muito extenso: a gente fala com a criança, com pessoas de idade, porque a comida está no dia a dia das pessoas. É uma forma de sobrevivência e uma forma de prazer. O que me estimula muito no Masterchef é poder alcançar mais e mais pessoas e mais corações famintos”, diz.

“Eu vejo o tanto de vida que eu mudei através do programa, do meu restaurante. Pessoas que já passaram por aqui e que não tinham perspectivas de vida, ou não sabiam o que fazer dentro da gastronomia”, conta. “E acharam seus lugares, abriram seu bar ou restaurante, geraram economia de uma certa forma, conseguiram encontrar uma profissão que é muito satisfatória, que é ser cozinheiro”, afirma.

Henrique Fogaça — Foto: Henrique Tarricore

Henrique Fogaça — Foto: Henrique Tarricore

O chef explica que no programa é objetivo e direto. “É o jeito que eu sou. Estou ali no papel de jurado do programa, é um controle para não passar a mão na cabeça dos participantes e, sim, apontar o que é bom. Quais são as virtudes do cozinheiro e quais são as deficiências? Essa é minha conduta no Masterchef, um programa que está enraizado em mim”, afirma Fogaça.

Há alguns anos, ele fez o 200 Graus, no Discovery, mostrando um pouco de sua rotina. O chef garante não se incomodar com a fama e o assédio que vieram com o sucesso. “Eu sou muito grato em poder ser conhecido e as pessoas se inspirarem na minha história, no meu trabalho. Só tenho a agradecer por ter essa oportunidade. Estou 100% aberto para receber os fãs, os clientes, então não me incomoda”, diz.

Na cozinha, Fogaça já passou por fases em que “não saía nada de novo”, sem criatividade. “É algo que faz todo o sentindo, ainda mais como eu vivo: é restaurante, é programa, é banda de rock, é família. Então já me vi, sim, nessa situação, de estar um pouco estagnado nas minhas criações”, diz. “Mas o que tem que se fazer é relembrar o começo de tudo para ter aquele gás, voltar à tecla de criatividade, pôr [a criatividade] no prato. É virar a chavinha e voltar às raízes”, ensina, acrescentando que viajar, conhecer outras culturas e gastronomias ajuda.

Henrique Fogaça com os filhos, João, Olivia e Maria Letícia — Foto: Reprodução/Instagram

Henrique Fogaça com os filhos, João, Olivia e Maria Letícia — Foto: Reprodução/Instagram

FAMÍLIA

O chef tem três filhos, Olivia, de 16 anos, João, de 14, e Maria Letícia, de 7. A mais velha nasceu com uma síndrome rara, e Fogaça está desenvolvendo um instituto que leva o nome da menina para poder proporcionar a outras famílias um tratamento mais adequado e eficaz para que crianças que sofrem com a síndrome possam ter uma vida melhor e com mais autonomia. Em suas redes ele não só fala da situação, como de tratamentos alternativos, como o uso do canabidiol (uma das substâncias encontradas na cannabis).

“Eu sou um instrumento da minha filha para poder trazer esperança para as pessoas”, diz o chef, afirmando que a jovem melhorou bastante com o canabidiol. “Faz alguns anos que ela está tomando e é poder mostrar isso, que a gente pode dar uma qualidade de vida melhor os nossos familiares, que tenham dificuldades síndromes raras”, afirma sobre sua presença nas redes sociais divulgando o tema.

Henrique Fogaça com a filha, Olivia — Foto: Reprodução/Instagram

Henrique Fogaça com a filha, Olivia — Foto: Reprodução/Instagram

Para dar conta de tudo e priorizar a família, Fogaça diz que precisa ser disciplinado. “O meu trabalho então é organizar a agenda e estar sempre atento. A gente não pode parar nossa vida, mas são prioridades, e os meus filhos são a primeira prioridade para mim”, explica o chef, contando que os mais novos já arriscaram na cozinha.

“João gostava mais, já entrou na cozinha comigo. Mas agora é adolescente, vai jogar bola, basquete gosta de música”, diz ele sobre o filho. Maria Letícia, por sua vez, tem interesse maior no tema. “Eu acho que ela tem uma veiazinha de cozinheira, viu? Quando eu estou com ela, fala: ‘papai, vamos cozinhar, vamos fazer massa’, está sempre de prontidão para poder ajudar e cozinhar”, conta Fogaça, que não força os filhos a encararem as panelas.

“Senão acaba sendo chato. Eu deixo eles fazerem as escolhas e vou orientado. Acho que seria legal [eles gostarem de cozinha], mas é uma escolha de cada um”, pondera. Afinal, culinária não pode ser forçada, como o próprio Fogaça ressalta. “Gastronomia é amor, é pode se doar, trazer prazer e empatia. Para mim, isso é conhecimento”, diz.

*Quem