Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
"No dia 14 de março de 2020 fiz uma festa de aniversário comemorando meus 30 anos em casa no Rio de Janeiro. Jamais poderia imaginar que dois dias depois o mundo inteiro entraria em lockdown com uma pandemia instaurada de Covid-19. Ao mesmo tempo, talvez justamente por essa paralisação, eu tenha conhecido o grande amor da minha vida.
Em maio do mesmo ano, já há dois meses sem abrir a porta de casa, morando com a minha mãe idosa, surgiu uma possibilidade de um trabalho on-line em Los Angeles, Estados Unidos. E a minha advogada representante paulista maravilhosa Andrea Francez - nossa cupida - disse que iria repassar o trabalho para o até então sócio dela Arthur Deucher Figueiredo, um rapaz muito distinto, também paulista, que estudava e trabalhava em Los Angeles. 'Arthur acabou de terminar o namoro e sempre disse a vocês dois que vocês têm tudo a ver, mas só juntei 22 casais na minha vida', disse ela dando uma piscadela safada.
Na primeira reunião de zoom, Arthur já me conquistou com sua alegria, seu sorriso largo e sede de viver. Que charme, que lindo, que leveza. 'Precisava mesmo de um cara como esse;, pensei. Advogado de entretenimento e imigração, ele manteve a pose até o final dessa primeira ligação - que durou 1h30 e até minha mãe entrar no meio. Naquele dia, tive certeza que dois meses com a minha mãe me fizeram perder completamente o charme do flerte e desacreditei que aquele papo pudesse dar em alguma coisa a não ser trabalho - que também não rolou.
Os dias foram passando e nós trocávamos links de músicas pelo chat, quase diariamente, conversando e entendendo como aquelas duas almas realmente tinham muito a ver, cada uma do seu jeito. Esses meses foram difíceis para o mundo inteiro e me vi parada em casa, logo eu, tão acostumada com o ritmo caótico de um trabalho atrás do outro. Me deparei com as minhas sombras, com dores que havia escondido e fingido não ligar, só para entender que o que queria mesmo era amar e ser feliz.
Quem me fazia sentir assim? Aquele rapaz que me manda músicas. Eu tinha medo, já que tantas vezes tinha me entregado e quebrado a cara, mas jamais tinha perdido a fé. Não seriam alguns homens babacas que iriam travar minha felicidade.
Em outubro começamos a conversar por vídeo horas a fio, todos os dias e um flerte se tornou uma paixão em um mês. “Preciso te conhecer pessoalmente”, eu disse, completamente apaixonada. Mas como?! Tinha um banimento de viagem no Brasil, Arthur não podia sair do país e eu teria que passar 15 dias em algum outro país antes de entrar nos EUA. Desempregada há meses, receosa de gastar minhas economias, ele educadamente me perguntou se seria muito ousado me convidar para visitá-lo.
Aceitei, mas as dúvidas eram tantas: E se na hora não for bom? E se não clicar pessoalmente? E se der problema na viagem? Algo em meu coração pisciano dizia que mesmo com tantas perguntas, deveria ir. E a convicção do advogado leonino de que tudo daria certo também me conquistou. Como toda pessoa ansiosa, eu já tinha pensado em todas as possibilidades e planos B, C até Z.
No pior dos casos, teria vivido uma aventura. Família e amigos ficaram preocupadíssimos, alguns me acharam louca, outros me apoiaram, mas independentemente de tudo e todos, fui! Passei 15 dias na casa de uma fã do Instagram em Guadalajara, México. “Gracias por todo always, Jenny!”. Ela se tornou uma grande amiga e vi o Arthur pela primeira vez no aeroporto de Los Angeles (porque conhecer, eu já conhecia há meses).
No primeiro encontro foram 40 minutos se abraçando e se olhando - ambos de máscara - numa incrédula realização de um desejo cultivado por tanto tempo. Com o país inteiro praticamente fechado em lockdown, nosso primeiro beijo foi por cima das máscaras na fila do restaurante buscando comida para levar para casa.
Depois de seis dias em meio a testes de Covid, chamegos e muita cantoria, Arthur me pediu em namoro no sofá de casa. Ele estava tocando violão e eu estava de biquíni tomando sol. Aceitei na hora. A gente naquela época tinha tempo de se curtir, mas pressa de estarmos juntos. Como faríamos a partir dali? Não sabíamos, mas tínhamos certeza que iríamos dar um jeito. Nossa regra principal é ter uma comunicação clara e mais aberta possível. Respeitamos nossos desejos e afetos, sempre conversando e se importando como bate no outro.
Relacionamento à distância não é um desejo de muita gente e para a gente também não era. Aconteceu e posso dizer? É difícil. Dói. A relação é maravilhosa, mas a distância, a saudade, a falta existe sempre e não dá para se acostumar. Já ouvimos tudo: 'Relação à distância não existe', 'só dura por causa da distância', 'Deus me livre me relacionar assim', 'isso nem é namoro', mas para a gente nada do que as pessoas dizem importa e quem convive com a gente fica embasbacado com a profundidade do nosso amor.
Um mês e meio depois da minha chegada nos EUA - na época a remarcação de voo era gratuita e por não conseguirmos nos separar -, mudei de data de volta mais de três vezes antes de voltar para o Brasil.
O ano de 2021 estava começando e meu novo trabalho em Cine Holliudy também. Na primeira vez que ele me deixou no aeroporto, parecia que uma parte do meu peito estava rasgando. Depois de muitas, muitas e muitas lágrimas depois, fomos embora com a promessa de nos vermos em breve - um dos truques é esse: sempre ter ideia de quando vai ser a próxima vez. E até lá, se falar muito, sempre que puder.
Temos um hábito, que não é uma obrigação, de se falar, dar “bom dia” e/ou “boa noite”, mas sempre no intuito de dividir e acompanhar, jamais de controlar. Somos duas pessoas muito ocupadas, vivas socialmente e muito livres - não perdemos nossas individualidades. À distância nos seduzimos e falamos dos nossos desejos. Flertamos diariamente. Elogios, carícias e memórias acompanham nossas conversas em músicas, fotos e vídeos.
Os maiores desafios até agora foram definitivamente a distância, a dor da saudade e o ciúme. Infelizmente o ciúme também é um sentimento que surgiu entre nós, mas poucas vezes. Quando surgiu foi tratado com o carinho e dado o devido tamanho que merece. A confiança e a verdade sempre vencem na nossa relação.
Sempre fomos muito fãs de conversas longas e profundas, mas certos assuntos esperamos chegar no pessoalmente. Dificilmente guardamos alguma coisa um do outro, até pela falta de tempo, mas temos muito cuidado com o emocional do outro e aprendemos aos poucos a não só respeitar mas também reconhecer o modus operandi alheio. Quando o calo aperta, seja a saudade ou a seriedade do papo, o vídeo ajuda bastante - se ver, olhar o olho mesmo quando não se pode olhar no olho.
Depois desse primeiro mês, passamos três meses longes, para depois ficarmos quatro juntos e assim os anos foram passando. Tentamos nos ver quase todo mês, mas é praticamente impossível, então nosso combinado são temporadas: algumas ele vem, outras eu vou e com a volta à todo vapor do trabalho, temos aproveitado qualquer intervalo para nos encontrar, mesmo que isso queira dizer arriscar algumas datas ou economias. Ficar junto é parte da nossa prioridade.
O lado bom do relacionamento à distância é a profundeza que a falta faz você ter. Sinto que acompanho e converso tanto com o Arthur, às vezes até mais do que alguns casais que moram juntos, afinal conversar e se contar as coisas é tudo que temos boa parte do ano. Óbvio que a pior parte é não tê-lo em momentos importantes e não estar ao lado dele em vários dele, mas tentamos nos organizar para estarmos presente sempre que possível.
Agora, quase quatro anos depois, começamos a pensar em possibilidades de ficarmos cada vez mais juntos. Passamos a adquirir mais independência nos trabalhos para termos mobilidade e construímos ao longo desses anos três pousos fixos: Rio de Janeiro, São Paulo e Los Angeles.
Para você que tá começando um namoro à distância ou tem medo de entrar em um, te digo: como qualquer relacionamento, o mais importante é o quanto as duas pessoas se dão bem e querem investir naquela relação. Eu e Arthur, até nas diferenças, nos complementamos. Mas para ter um relacionamento à distância é ideal ter uma boa comunicação, extrema confiança, paciência e dinheiro, porque independente da distância, se locomover é sempre caro, mas por amor, tenho achado que vale sempre muito, mas muito a pena o esforço."
*Quem