Luana Piovani sempre falou abertamente sobre assuntos que por muitos anos eram tabus, como o sexo. Escolhida para ser a estrela do lançamento de um perfume que evoca o prazer feminino, a atriz contrariou as expectativas e fez uma análise mais profunda do tema, dizendo que o tema vai muito além do orgasmo.
"É muito libertador entender que o prazer feminino está muito além do orgasmo. A vida é tão ampla. Se você acha que o prazer é só aquela coisa física, você está minimizando todas as possibilidades de você ser feliz", ressalta ela durante o lançamento do Her Code.
A artista, de 47 anos, deixou a carreira sólida no Brasil para recomeçar a vida ao lado dos três filhos, Dom, de 11 anos, Bem e Liz, de oito anos, em Portugal e logo após a mudança terminou o casamento de oito anos com o surfista Pedro Scooby. Para ela, o prazer está nas pequenas coisas e sobretudo nas escolhas que a pessoa se permite fazer.
"Sinto prazer imenso quando acordo de manhã e vejo os meus filhos. Mas também sinto prazer quando meu namorado diz que está com saudade de mim ou quando faço uma fotinho qualquer e ele comenta: 'Nossa, como você é linda'. O prazer é você ter a liberdade de trabalhar anos em uma coisa e de repente notar que não é isso que te faz feliz e se renovar. Talvez o prazer seja você estar casada há dez anos e falar, 'estou acomodada'. Ou o contrário, quando todo mundo está se separando, você está feliz da sua vida casada, vivendo a rotina que muitas vezes é criticada... Cada um tem a sua própria receita do bolo. Você tem que descobrir qual é a sua", analisa ela, que atualmente namora Lucas Bitencourt.
Quais os pequenos prazeres que hoje você se permite ter que antes não se permitia? Me permito o prazer de não me sentir julgada. Na atual sociedade, a gente é julgada o tempo todo e por ver a sociedade julgando, a gente se sente no direito de também se julgar. Daí a gente se coloca naquele lugar da pessoa que merece sofrer, que não merece ter prazer, não precisa de descanso... Então o primeiro direito que a gente tem que se dar é o prazer da falta de julgamento. A gente precisa se conhecer. Não tem como a gente querer que alguém nos dê prazer se a nós mesmas não sabemos quais são os meios e as ferramentas para alcançar isso. Você tem que se conhecer, mas para isso, você precisa de tempo e de ter uma relação consigo mesma. Infelizmente, os dias corridos de hoje não deixam a gente ter tempo conosco mesmo. Você não tem tempo para banho, para dormir, ler, pensar... Mas prezo muito por essas coisas. Por isso que funciono tão bem.
São escolhas. Você escolheu deixar uma carreira sólida aqui para recomeçar a vida em outro país. Teve medo do impacto profissional que essa escolha poderia ocasionar? Quando saí daqui, não pensei exatamente no meu trabalho. Meu intuito era arrumar um lugar que eu pudesse viver mais em paz. Quando descobri esse lugar, para mim estava pago. A partir daí, comecei a pensar que precisava de novas amizades e criar um núcleo de trabalho. Daí fui galgando. O fato de eu ter uma carreira consolidada aqui, me abriu algumas portas lá, mas se eu não fosse boa no que eu faço e não soubesse me relacionar com as pessoas, não estaria na quinta temporada do O Clube. Fico muito feliz pelas minhas escolhas. Até hoje construo a minha carreira baseada na minha intuição.
Você deve ser muito questionada sobre o retorno às novelas brasileiras. Deixar de fazer novelas no Brasil tem a ver com essa busca pelo prazer? Lá em Portugal, as novelas estão mais curtas, o que é maravilhoso. Aqui sempre foram nove meses com mais dois meses de pré-produção. Lá agora tem um modelo de seis meses, que podem se estender para sete a oito meses. Gosto muito deste modelo e fui superfeliz. Acho que o fato de eu ter uma vida mais em paz, mentalmente, faz com que eu consiga me dedicar mais fisicamente ao meu trabalho. Quando a gente vai para fora, a gente entende que quando a gente mora no Brasil, tem um sanguessuga na jugular o tempo todo. A gente vive pensando no que fazer para produzir mais dinheiro. O país come muito mais dinheiro do que você produz. Além da preocupação de o que fazer para se manter em uma posição de dignidade. Isso come 40% da sua energia diária de criatividade. Lá não tem isso.
Você imprime uma beleza mais natural em meio a onda de preenchimentos, harmonização facial e plásticas. A pressão estética em Portugal é diferente também? O Brasil infelizmente é um doente da forma, que pouco valoriza o conteúdo. Mas acredito que a gente possa tentar lutar contra isso. Claro que é mais confortável falar isso dentro da minha posição de pessoa padrão, mas quando você confia na pessoa que você é, isso atrai tanto que você vai encontrar uma pessoa que faça você se sentir um luxo, amado, vivo e celebrado. Mas admito que quando saímos do Brasil, acaba sendo mais fácil porque aqui realmente tem uma exigência que a gente não conseguiu desmitificar. As próprias redes sociais aqui não conseguiram ser entendidas como algo a agregar. Infelizmente, no Brasil, as redes sociais existem para diminuir. A grande maioria segue pessoas que não agregam, que fazem com que você tenha frustração e inveja. Eu não consigo entender como conscientemente você faz essa escolha. Mas sei que é uma escolha feita diariamente pela maior parte dos brasileiros. Em algum momento acredito que a educação no Brasil vá trazer o entendimento de que isso não traz felicidade. A felicidade é você escolher ouvir o que acrescenta.