Milhem Cortaz comenta estreia de 'Os Outros' e reflete sobre solidão

Apesar da descrição do personagem, Cortaz afirma que buscou compreendê-lo antes de rotulá-lo. "Meu personagem é um cara complexo. Tenho muito carinho pelo Wando. Ele luta pelos seus ideais, trabalha, tem um amor grande pelo filho e cuida da família de forma obcecada. As coisas que vão acontecendo na vida dele acabam levando esse homem para um caminho de solidão profunda, ele vai se ocultando, deixando sonhos de lado", diz o ator, lembrado por trabalhos nas novelas Amor de Mãe (Globo, 2019) e O Sétimo Guardião (Globo, 2017), além dos filmes Carandiru (2003) e Tropa de Elite (2007).

Na opinião dele, um dos pontos altos da série é a reflexão sobre a sociedade atual. "O Brasil anda sozinho, né? Não pensa no outro. Se a gente pensasse no que está próximo da gente, a gente estaria em harmonia. Essa série fala sobre o retrato da sociedade brasileira hoje, depois da pandemia. As pessoas, hoje em dia, têm muitas certezas e incertezas, mas olham para si, não olham para o próximo."

Milhem Cortaz avalia ainda que as "bolhas de solidão" retratadas na série estão cada vez mais presentes em situações cotidianas. "Todas as nossas aflições e alegrias são vividas de maneira solitária. Estamos sozinhos. Na série, todo mundo vive dentro de um condomínio e cada um só pensa em si. A maior solidão que existe é essa: você estar sozinho no meio de um monte de gente. Essa é a solidão mais cruel. Você estar cercado de gente e não fazer parte daquilo."

O ator comenta ainda que a escalação para o personagem propôs um novo desafio para sua carreira. "Foi um dos trabalhos mais difíceis que já fiz -- pelo período que passei, pelas escolhas encaminhadas pela direção e pelo roteiro. As pessoas que estavam em cena comigo são muito talentosas e tinha que estar atento para ouvir todas e conseguir contar a história. Considero 'Os Outros' meu trabalho mais difícil dos últimos tempos. É um personagem divertido e amoroso, mas também representa a solidão, é aquele cara que não consegue olhar pro lado porque tem certeza de que está certo. A representação do condomínio traz a reunião de pessoas ecléticas em um mesmo lugar."