Sandra Annenberg, que antes de se tornar jornalista atuou em novelas e seriados, está de volta ao teatro com Pedro e o Lobo. Aos 55 anos, mais de trinta deles dedicados ao jornalismo, ela conta que o retorno aos palcos é ainda mais especial por ter ao seu lado a filha, Elisa, de 20 anos, que integra a equipe de produção do espetáculo.
“Tem sido muito tranquilo trabalhar com ela. No início eu falava, ‘filha, a gente tem que entender que aqui a gente não é mãe e filha’. Mas eu a chamo de filha o tempo todo, ela me chama de mãe o tempo todo e está tudo certo. Está sendo muito gostoso porque ela está de férias e aproveitou para fazer esse estágio. Estou reestreando ao lado dela”, celebra Sandra, que além de receber os cuidados da filha, que se preocupa com o seu bem-estar durante os ensaios, volta ou outra a surpreende com abraços e beijos.
Sandra Annenberg — Foto: Rafael Cusato/ Quem
A paixão adormecida pelo teatro foi reascendida por meio de sua filha, que há dois anos estuda Artes Cênicas nos Estados Unidos. Sandra relembrou o tempo em que se dedicava ao ofício.
“O teatro nunca saiu da minha vida, apesar de não exercitá-lo há muito tempo. Sempre fui muito ao teatro e adoro isso. Curiosamente, eu estava revisitando esse meu passado através da Elisa. Ela estuda há dois anos artes cênicas e fazendo algo que eu nunca fiz. Até entrei na Escola de Arte Dramática (USP), quando tinha a idade dela, mas fiquei pouco tempo porque passei no teste para fazer o seriado Tarcísio e Glória e fui para o Rio de Janeiro. Ela está na escola do Lee Strasberg, que é o cara que fundou o Actors Studio. Pelas mãos dele passaram os gênios Al Pacino, Robert De Niro, Marlon Brando, Marilyn Monroe e Lady Gaga… E ela está lá!”, orgulha-se.
Elisa Annenberg-Paglia, filha de Sandra Annenberg — Foto: Rafael Cusato/ Quem
Apesar de apoiar Elisa na busca de seu sonho de trabalhar com a arte, Sandra segurou em quanto pode a filha, que adolescente já sabia o que queria ser.
“Sempre quis trabalhar com os holofotes. Quando pequena, adorava aqueles programas em que reformavam a casa toda de uma pessoa. Meu sonho era ser apresentadora e trabalhar com TV. Mas a vontade de atuar veio depois que visitei os estúdios de Harry Potter em Londres, quando eu tinha 11 anos. Eu era muito fã, mas quando vi o estúdio, pensei: ‘é isso que eu quero’. Comecei a fazer cursos de teatro, entrei em uma agência quando tinha 13 anos, mas minha mãe segurava total! Ela sempre reforçava que eu não podia faltar na escola, tinha que fazer os cursos extracurriculares… Eu nunca tinha tempo”, relembra Elisa, fruto do casamento de Sandra com o também jornalista Ernesto Paglia.
“Até recebi umas ofertas, mas minha mãe conversava muito comigo. Ela dizia que eu tinha que estudar, me preparar mais, ou eu iria olhar para trás depois e pensar, ‘passei vergonha porque não tinha preparação’. Hoje concordo com ela. Quando olho para a primeira peça que fiz na escolha já tenho vergonha (risos). Imagina se isso tivesse sido com uma grande visibilidade? Talvez tivesse até um efeito rebote e eu nunca mais ia querer fazer aquilo. Então no final aconteceu no tempo certo”, analisa a jovem, com um cinto de pano para carregar objetos com o logo da Globo dado por sua mãe quando ela ainda era criança.
Sandra Annenberg e a filha, Elisa Annenberg-Paglia — Foto: Rafael Cusato/ Quem
O medo de Sandra era que a filha tivesse que lidar muito nova com os “nãos” da profissão. A jornalista, que é filha de Débora Takser, produtora de TV, aos seis anos passou a fazer comerciais.
“Minha mãe era produtora de teatro de TV. Sempre vivi esse mundo com ela. Eu era apaixonada pelas caixas-pretas. Via essa magia das transformações e queria trabalhar com isso. Ela me levava para cima e para baixo. Comecei muito cedo e dei uma segurada na Elisa. Ela queria, mas eu tinha medo. Não me fez mal começar cedo, mas não foi fácil. Fiz mais de 50 comerciais e era avaliada o tempo todo. Muitos ‘nãos’ até conseguir os ‘sim’. Isso é muito sofrido, gera muita ansiedade e angústia. Com a idade dela, eu já me sustentava, morava sozinha e estava na luta há muito tempo. Achei melhor dar uma segurada para ela viver tudo isso com um pouco mais de maturidade. Tive que amadurecer muito cedo”, explica Sandra.
Elisa Annenberg-Paglia, filha de Sandra Annenberg — Foto: Rafael Cusato/ Quem
Atualmente, Sandra tem mais tranquilidade em relação a isso e entende que a filha tem maturidade para inclusive lidar com o lado negativo da fama. Recentemente, um vídeo de Elisa viralizou e ela recebeu críticas por seu sotaque paulistano.
“Converso o tempo todo com ela. Adoro uma DR (risos)! A Elisa e o meu marido odeiam, mas adoro conversar e entender. Falamos sobre isso também. Ela sempre observou como eu lidava com as pessoas e essas questões, mas agora estou aprendendo com ela sobre esse mundo de redes sociais, novo para a minha geração. Sei que tenho que estar conectada, mas não é exatamente algo que eu goste. Ela se vira sozinha completamente. Ainda acredito no diálogo e quando recebo hate, tento bater um papo. Dependendo do tom da pessoa não vale a pena. A geração da minha filha sabe lidar melhor com isso. Ela bloqueia logo e está tudo bem. Para mim ainda é muito esquisito”, ressalta Sandra.
“Quando teve essa história do sotaque, ela lidou muito bem. Ela não tinha feito nada de errado. Isso é discriminação. Qual o problema do sotaque? Quando ela foi criticada, eu sugerindo algumas coisas para ela resolver e ela, ‘esquece, mãe’. Ela nem aí, supertranquila. No final tudo passou tão rápido e no dia seguinte as pessoas já tinham esquecido”, diz ela, que logo depois apoiou a filha no post em que falava de sua orientação sexual durante o último Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.
“Ela sempre teve o meu apoio e vai ter o meu apoio para tudo. Sei que ela é uma pessoa íntegra, ética e do bem. Para mim isso está resolvido. Ela é a pessoa que eu gostaria que ela fosse. Tenho um orgulho danando da maneira com que ela conduz a vida dela. A melhor lição que eu posso dar para ela é ser uma pessoa o que quiser ser, onde quiser ser e como quiser ser desde que respeito o outro. Quem te desrespeitar, problema da pessoa, que é infeliz”, pontua.
Serviço: Pedro e o Lobo Dias 28, 29 e 30 de julho, sexta-feira às 20h, sábado às 11h e 17h e domingo às 11h. Theatro Municipal de São Paulo – Praça Ramos de Azevedo, s/nº – República, São Paulo. Telefone – (11) 3053-2080. 45 minutos | Livre para todos os públicos. Ingressos – de R$ 10,00 a R$ 32,00 a venda pelo site theatromunicipalsp.byinti.com ou na bilheteria (segunda a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h).
Sandra Annenberg — Foto: Rafael Cusato/ Quem