Selton Mello celebra quatro décadas de carreira com reflexões sobre sua trajetória a partir da autobiografia Eu Me Lembro. Com um legado diverso na televisão e no cinema, o ator de 50 anos descarta o título de galã e admite em entrevista exclusiva ter conflitos com a aceitação de sua imagem até hoje.
"Tenho muita dificuldade. Não sei se é porque eu comecei criança e eu cresci na frente de uma lente de câmera. Está bem esmiuçado isso no livro, mas é quase como se eu tivesse uma dificuldade de me enxergar como eu realmente sou. É uma coisa muito complexa", afirmou.
O artista diz acreditar que a diversidade de personalidades vividas na profissão tenha impactado em sua autoestima. "Mesmo com anos de terapia, que eu sou fã e militante da saúde mental, ainda é um trabalho para mim me ver. Não sei se é também porque foram muitos personagens, muitas máscaras de personagens", refletiu.
Marcado pela personalidade misteriosa de um capricorniano nato, Selton diz não se enxergar como galã, embora seja bastante cobiçado pelo público. Para o mineiro, a identificação é o que determina sua relação com os admiradores.
"Minha carreira nunca foi muito do mundo do galã. Alguns personagens tinham esse apelo, mas não era muito. Um pouco do que ilustra isso são os meus fãs. Eu tenho muito fã homem", explicou.
"Muitos caras me param na rua como se eu fosse um primo ou um cara que eles gostariam de ser. Eu sou uma referência para os caras. Normalmente, quem é galã é ao contrário e os caras odeiam e falam: 'Ah! Minha mulher olhou para a cara dele'", completou.
Ele ainda reforça a diversidade de seu público pautada nas diferentes caracterizações ao longo da carreira. "Eu tenho uma coisa muito curiosa de gente jovem, mais velha, pobre, rico, um gosta do Auto, outro gosta do Julio Bressane, é bem amplo meu público".
Durante conversa com jornalistas, o ator nascido em Passos, interior de Minas Gerais, também falou da decisão de abrir a vida pessoal na obra que revisita memórias, incluindo o diagnóstico de Alzheimer da mãe, Selva Mello.
"Até então, não se sabia tanto da minha vida, porque eu sou liso mesmo, eu sou mineiro. E mineiro nasce low profile. Eu brinco que o mineiro é o contrário do carioca, que fala, mineira não fala nada, quando você vê, ele já está fazendo, ele não canta a bola. Então, é uma vida muito preservada e continuará sendo", declarou o irmão de Danton Mello.
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No livro, o ator e diretor, que estrela a sequência de O Auto da Compadecida em breve, avalia sua trajetória artística em primeira pessoa. No decorrer da obra, responde a uma série de perguntas realizadas por 40 personalidades da TV, teatro, cinema e literatura, como Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Fábio Assunção, Larissa Manoela e Marjorie Estiano.
A escrita nasceu durante a pandemia, quando estava trancado em casa. "Foi aí que me dei conta desse tempo, me dei conta que era importante relembrar. E a costura principal foi o Alzheimer da minha mãe, que eu nunca tinha trazido a público. Então é, uma mãe perdendo a memória enquanto um filho recupera a memória de uma família, não só a minha. É sobre isso o livro", afirmou Selton sem conseguir conter suas lágrimas.
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