Domingo, 24 de novembro de 2024
Domingo, 24 de novembro de 2024
Há dez anos, o Botafogo não manda um jogo no Maracanã — exceção de Estadual. O “jejum” será encerrado hoje, às 20h, contra o Criciúma, pelo Campeonato Brasileiro. Mesmo tendo vivido suas principais glórias no principal estádio do Rio de Janeiro, o alvinegro se mudou em 2007 para o Nilton Santos, espaço que as novas gerações da torcida se habituaram a ocupar. Porém, em uma temporada cada vez mais marcada por simbolismos, voltar à casa do torcedor carioca será outro deles.
A parte mais especial dessa relação vem da origem do estádio, inaugurado em 1950, que coincidiu com a geração mais vencedora da história alvinegra. O clube que se orgulha por ser o que mais cedeu jogadores à seleção brasileira em Copas do Mundo — aspecto ressuscitado na última Data Fifa, com as convocações de Luiz Henrique, Igor Jesus e Alex Telles — contava com protagonistas do nível de Garrincha, Didi, Nilton Santos e Zagallo.
Era tempo de centenas de milhares de pessoas nas arquibancadas, e o Maracanã recebia as principais partidas da seleção e dos cariocas, incluindo Bangu e America. No estádio, a torcida do Botafogo obteve seus dez maiores públicos na história, entre 1962 e 1981. Hoje, os cerca de 60 mil que esgotaram os ingressos farão o clube ter sua maior marca dos últimos 15 anos — em março de 2009, 75.350 pessoas estiveram presentes no título da Taça Guanabara, sobre o Resende.
— Sempre vai ter um simbolismo e um significado muito forte. Mas essas relações vão se superpondo e se alterando de alguma forma. Hoje, há o Nilton Santos — diz Ricardo Macieira, coordenador e curador do Museu Botafogo, projeto que está sendo construído na sede social, em General Severiano:
Entre alguns jogos inesquecíveis, os títulos cariocas sobre Fluminense e Flamengo em 1957 e 1962, respectivamente. Contra o tricolor, com cinco gols de Paulinho Valentim — um de bicicleta —, o alvinegro goleou por 6 a 2. Cinco anos depois, 3 a 0 no rubro-negro, com show de Garrincha, que fez dois gols.
O primeiro título brasileiro, em 1968, também tem o Maracanã como palco. Na final, realizada apenas em 1969, o Botafogo bateu o Fortaleza por 4 a 0. No Brasileirão de 1972, o alvinegro atropelou o Flamengo (6 a 0). Em 1989, também sobre o rubro-negro, Maurício fez o gol da conquista carioca, que encerrou o jejum de 21 anos sem título. Outro triunfo aconteceu na decisão da Copa Conmebol de 1993, ao bater o Peñarol, adversário na semifinal da Libertadores, nos pênaltis.
Só que esta relação não se conta apenas por títulos e números, mas também por coisas intangíveis. Antigamente, a rotina de um jogo do Botafogo no Maracanã começava na subida da rampa do Bellini, onde os torcedores se “benziam” encostando no busto de Garrincha. Após a reconstrução, e idas e vindas, a peça está hoje no museu do estádio. Por muito tempo, os alvinegros também foram conhecidos como “Torcida das Bandeiras”, por ser a que mais as levava aos jogos.
A festa que está sendo preparada hoje reeditará as bandeiras, acompanhadas de um mosaico, que virou marca registrada. Mesmo no estádio modificado, torcedores terão a oportunidade uma experiência que remete a outros tempos. O último jogo como mandante no Maracanã foi uma derrota por 1 a 0 para o Palmeiras, em 1º de outubro de 2014.
— Estamos preparando uma festa, junto com as torcidas organizadas, que, acima de tudo, busca exaltar o Botafogo e sua torcida. Queremos que os torcedores mais saudosos sintam-se representados — adianta Romenig Hervano, coordenador geral do Movimento Ninguém Ama Como a Gente. — Estamos resgatando essa tradição jogo a jogo, valorizando uma das marcas da nossa arquibancada. Assim, reforçamos esse legado, passando-o adiante para as novas gerações de torcedores.