Quinta-Feira, 26 de dezembro de 2024
Quinta-Feira, 26 de dezembro de 2024
Dudu permaneceu sentado em campo por longos minutos, ao lado da esposa e dos filhos, vivendo a própria despedida na última partida como atleta do Palmeiras, pela rodada final do Brasileiro.
Ainda sem um evento de despedida, o camisa 7 encerrou a caminhada de 10 anos ao rescindir o contrato na quinta-feira.
Uma decisão dura e até pouco tempo atrás surpreendente para um dos maiores nomes da história do clube, mas hoje justificável pelo desgaste dos últimos meses.
Desde 2015 no Palmeiras, com 12 títulos e construído como ídolo, Dudu começou a desenhar a saída ainda em junho, quando aceitou uma proposta do Cruzeiro e dias depois decidiu voltar atrás.
Ali, estava insatisfeito, vinha em reta final de recuperação da cirurgia no joelho e temia não ser mais visto como peça importante no time. O espaço já não era mais o mesmo. Entre a retomada de ritmo e um período fora das relações para aprimorar a parte física, fez 19 jogos, sendo quatro como titular. Não fez gol nem deu assistência no seu último ano pelo Verdão.
Mesmo assim, Alexandre Mattos, que o levou ao Palmeiras e está no Cruzeiro, pensou que o clube não aceitaria negociar um ídolo. Avançou na investida à medida que recebeu sinalização positiva da diretoria e dos empresários do camisa 7.
Alguns membros no Palmeiras argumentam que o clube só aceitou vendê-lo na época por ter ouvido do jogador o pedido pela transferência, enquanto a predisposição em negociá-lo reforçou ao atleta uma ideia de que não era mais importante.
As partes estavam acordadas, mas após o anúncio do Cruzeiro, visto como precipitado pelos envolvidos, o atacante voltou atrás em meio ao apelo dos torcedores e até uma visita de líderes da torcida organizada do Palmeiras em sua casa.
Dudu ficou, mas o clima depois do imbróglio nunca mais foi o mesmo. Enquanto a diretoria entendia que ele criara um desgaste ao sinalizar o desejo de ir embora e recuar, o jogador não sentia da cúpula do clube o carinho e respeito demonstrado pela torcida ao longo dos anos.
Esta etapa já fez com que o clube abortasse um documentário que produzia para a TV Palmeiras, como revelou "O Globo". Seria a história de como o jogador que ajudou a reconstruir o Verdão agora se reerguia com a ajuda do clube, com imagens do período de recuperação.
A ideia era de que o conteúdo fosse publicado assim que Dudu voltasse a atuar. Mas o desgaste gerado pela tentativa de transferência para o Cruzeiro inviabilizou o projeto por parte do Palmeiras. Mesmo após o negócio melar, o clube manteve a decisão de não levar o conteúdo ao ar.
Abel Ferreira o reintegrou ao elenco e chamou de "mentira" os comentários sobre uma má relação com Dudu, chamando-a de "franca, séria, profissional e honesta". Ele e o atacante, porém, não têm uma relação próxima, e o camisa 7 nunca voltou a ser uma real opção no time titular.
Lideranças externaram normalidade, principalmente na relação com a presidente Leila Pereira, que chegou a falar em "fim de ciclo" para Dudu, mas pessoas próximas afirmam que ficou uma rusga depois do episódio.
Mais do que a convivência com Abel, o maior problema estava no desgaste com o comando do clube.
Na diretoria, Dudu sempre teve mais proximidade com o ex-presidente Maurício Galiotte e, há duas semanas, antes da rodada final do Brasileiro, fez elogios públicos chamando-o de "o melhor presidente".
Nas redes sociais, após o anúncio do Palmeiras sobre a saída, o ex-camisa 7 compartilhou mensagens de despedida de Ademir da Guia, Paulo Nobre, ex-presidente e desafeto de Leila, além de outros atletas e páginas, mas não a do clube.
– Obrigado pelo carinho e respeito de sempre, seu Ademir.
– Obrigado presidente (Paulo Nobre), você mora no meu coração – escreveu o atacante.
Agora ao fim do ano, Dudu voltou a conversar com o Cruzeiro e ainda recebeu uma proposta do Santos, mas a condição do clube mineiro - que está prestes a anunciá-lo - era de contratá-lo sem custos.
A ideia de pagar os 4 milhões de dólares (cerca de R$ 20 milhões na cotação da época) acordados com o Palmeiras no meio do ano não seria mais uma possibilidade.
Por esse motivo o pedido pela rescisão. E o Palmeiras, apesar da perda de valores com o negócio melado, ainda viu a rescisão amigável como boa oportunidade de liberar um valor considerável na folha salarial, pois Dudu tinha os vencimentos mais altos do elenco.
Mais do que isso, entende que encerra um capítulo que causou desgaste nos últimos meses. Dentro da Academia, houve novo incômodo há alguns meses, quando pessoas ligadas à diretoria relatam que Dudu voltou a sinalizar a intenção de se transferir para o Cruzeiro e fez o pedido por uma liberação formal para negociar com o time mineiro, algo que não aconteceu.
O jogador, por sua vez, se via sendo deixado cada vez mais de lado. Para Dudu, todos os acontecimentos no último semestre só reforçaram o sentimento que teve quando negociou com o Cruzeiro pela primeira vez: o Palmeiras não contava mais com ele e dava seguidos sinais no dia a dia nesse sentido.
Desde o anúncio da rescisão, a torcida tem feito críticas nas redes sociais pelo fato de o clube não ter feito uma despedida condizente à década que o jogador passou na Academia de Futebol.
A diretoria comunicou ao estafe de Dudu durante a negociação para encerrar o contrato de que deseja fazer uma homenagem quando ele voltar das férias nos Estados Unidos, no início de 2025.
Pessoas próximas ao jogador, porém, entendem que isto não acontecerá. Primeiro porque o atacante já deverá ter sido anunciado pelo seu próximo clube até lá, e segundo por entender que o Verdão teve meses para preparar algo quando ele ainda estava sob contrato.
Depois dez anos, 12 títulos, 462 jogos e 88 gols, Palmeiras e Dudu encerram a relação que parecia inabalável com decepções e incômodos dos dois lados.
*GE