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Críticas e pressão: o que está por trás do desabafo de Cássio no Timão

Críticas e pressão: o que está por trás do desabafo de Cássio no Timão

(Imagem: GE)

As fortes palavras de Cássio na Argentina, pós-derrota para o Argentinos Juniors, despertaram a atenção da diretoria e comissão técnica do Corinthians. Afinal, o principal líder do elenco usou os microfones para expor uma insatisfação com a situação vivida no clube a ponto de cogitar deixar o Parque São Jorge.

Mas, afinal, o que está por trás do desabafo do goleiro, segundo atleta com mais jogos pelo Corinthians na história e dono de nove títulos?

Cássio se mostrou no limite da saúde mental por fatores como as críticas consideradas excessivas e o aumento da pressão nos últimos anos.

Internamente, Cássio é praticamente unanimidade dentro do elenco. A atual comissão técnica destaca a liderança positiva do goleiro e a dedicação no dia a dia, mesmo com a história já conquistada com a camisa do Timão. Tanto que António Oliveira e companhia tratam com cautela a situação do camisa 12.

Cássio tem recebido muitas críticas nas últimas duas temporadas — Foto: Marcos Ribolli

Cássio tem recebido muitas críticas nas últimas duas temporadas — Foto: Marcos Ribolli

Em 2020, desabafo parecido

 

A entrevista de terça não foi a primeira em que Cássio cogitou deixar o Corinthians. Em 2020, pós-goleada sofrida para o Flamengo em Itaquera, o goleiro fez um desabafo parecido ao apresentado na Argentina depois da derrota para o Argentinos Juniors.

– Ultimamente tem sobrado tudo para mim. Tudo é culpa do Cássio, uma coisa está errada, time não ganha, e a culpa é do Cássio. Time não faz gol, e a culpa é do Cássio. Antes que achem algo, não me acho maior do que o Corinthians ou que sou intocável ou melhor do que alguém – disse à TV Globo na época.

– Estou aqui para ajudar o Corinthians e sou muito grato, mas neste momento estou sendo escudo. Tudo sobra para mim e é difícil, não acho que estou em um momento ruim. As pessoas têm todo o direito de me criticar, muito, mas é melhor eu procurar outro lugar quando estiver atrapalhando o Corinthians – acrescentou.

Críticas

 

Cássio admitiu ter errado no lance do gol do Argentinos Juniors, assim como no segundo gol sofrido contra o Juventude, em duelo pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro.

Acostumado a responder questionamentos sobre ações no gol, o goleiro exibiu nesta semana a insatisfação pelo excesso de críticas às próprias atuações, enquanto o time inteiro não rende.

Neste momento, o Corinthians vive a segunda pior sequência na temporada que começou em janeiro. No Paulistão foram cinco derrotas consecutivas, agora já são três.

Neste período, o Timão acumulou quatro partidas sem vencer e sequer anotou um gol. Cássio chegou ao limite por encarar sozinho os questionamentos.

O goleiro dificilmente foge do contato com a imprensa nos momentos ruins do Corinthians, mas na semana passada foi protegido. Contra o Juventude, por exemplo, Paulinho assumiu o discurso pós-derrota ainda no gramado.

Mesmo fora daquela entrevista, Cássio deu satisfação ao torcedor na zona mista e reconheceu o erro com o passe ruim para Félix Torres. Porém, sempre “dando a cara a tapa”, o camisa 12 desabafou fortemente na terça.

Líder (quase) solitário

 

A pressão sobre Cássio como um líder do elenco cresceu em 2024. Em um dos primeiros atos de campanha, o presidente Augusto Melo e o diretor de futebol Rubens Gomes, o Rubão, decidiram reformular o elenco na época comandado por Mano Menezes.

Nesta conta, definida ainda no fim de 2023, o Timão decidiu não renovar os contratos de Renato Augusto, Gil e Giuliano, três nomes experientes do elenco. Outra saída sentida foi a de Fábio Santos, que decidiu se aposentar dos gramados.

O "choque de reformulação" vivido no início da temporada tornou Cássio ainda mais o símbolo do elenco (para o bem e para o mal).

Assim, toda a pressão em um clube com nova gestão e em reformulação caiu sobre Cássio e Paulinho; principalmente o goleiro, titular absoluto do time e em campo desde a desclassificação precoce no Campeonato Paulista.

Fagner, outro atleta dos remanescentes experientes, é enxergado mais como um líder “técnico”.

Competitividade

 

Cássio acostumou-se a levantar taças e brigar por títulos no Corinthians. São nove troféus desde o início da trajetória em 2012. Entretanto, desde a conquista do Campeonato Paulista de 2019, o goleiro passou a conviver com outro nível de competitividade.

Desde o tricampeonato estadual, o Corinthians chegou a duas finais: Paulistão de 2020 e Copa do Brasil de 2022. Em ambas, o time foi superado nos pênaltis por Palmeiras (estadual) e Flamengo.

Corinthians há anos não figura na principal prateleira do futebol nacional — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Corinthians há anos não figura na principal prateleira do futebol nacional — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Porém, desde o ano passado, a falta de protagonismo se tornou uma briga contra o rebaixamento. Desde o título do Brasileirão de 2017, o Timão passou longe da disputa pelo troféu. A melhor campanha veio em 2022 com Vítor Pereira (quarto lugar), e no ano passado o time se salvou nas últimas rodadas da degola.

Enquanto isso, rivais São Paulo e Palmeiras conquistaram troféus importantes, especialmente o arquirrival alviverde. A falta de competitividade do Corinthians nos últimos anos ajuda a explicar a frustração do camisa 12.

Pressão e sombra de Carlos Miguel

 

Enquanto vive o desgaste de um processo de reformulação do Timão dentro e fora das quatro linhas, Cássio lida também com aumento dos pedidos para a entrada de Carlos Miguel na equipe.

Especialmente nas redes sociais, onde as críticas sobre o camisa 12 são pesadas, a escalação de Carlos Miguel entre os titulares tornou-se um debate constante.

Cássio e Carlos Miguel caminham no CT Joaquim Grava — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Cássio e Carlos Miguel caminham no CT Joaquim Grava — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

As atuações irregulares de Cássio em 2024, especialmente nos últimos jogos, aumentaram a cobrança sobre a necessidade de uma sequência de jogos para o atualmente goleiro reserva da equipe.

Todo esse contexto é vivido por Cássio no último ano de contrato com o Corinthians. Não há avanço na conversa por uma renovação, e o futuro do camisa 12 pode se desenhar para outro destino, longe da idolatria conquistada no Parque São Jorge.

*Ge