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Quarta-Feira, 21 de maio de 2025

Esportes

Do otimismo aos destroços: o rebaixamento do Santos visto do gramado da Vila Belmiro

Do otimismo aos destroços: o rebaixamento do Santos visto do gramado da Vila Belmiro

(Imagem: Abner Dourado/AGIF)

Antes de a bola rolar para Santos x Fortaleza, nesta quarta-feira, um misto de emoções tomava conta da Vila Belmiro. Funcionários do Peixe não escondiam o nervosismo: em pouco mais de 90 minutos, poderia estar decretado o primeiro rebaixamento do clube para a Série B do Campeonato Brasileiro. E foi exatamente isso o que aconteceu.

Na noite mais triste dos 107 anos da Vila Belmiro, o Santos não conseguiu corresponder ao apoio dos torcedores antes do clima de guerra que tomou conta do estádio e de seus arredores. O Peixe viu seus adversários diretos na luta contra o rebaixamento vencerem, mas perdeu por 2 a 1 para o Fortaleza na 38ª rodada do Campeonato Brasileiro.

De dentro de campo, o que se viu foi muita tensão, do início ao fim da partida, uma gigantesca empolgação com gols que levaram apenas ilusões aos torcedores e muito medo do que aconteceu perto do apito final.

Santos entrou em campo para enfrentar o Fortaleza podendo até perder para se manter na Série A do Campeonato Brasileiro. Para isso, porém, Vasco e Bahia não podiam vencer seus jogos - apenas um ou outro.

Entre muitos dos presentes na Vila Belmiro, a maior preocupação era, na verdade, o placar dos jogos dos adversários do Santos na luta contra a queda.

– Do Fortaleza, a gente não ganha – diziam alguns, talvez numa tentativa de evitar o otimismo.

As arquibancadas, completamente abarrotadas, estavam lotadas também de celulares nas mãos dos torcedores. Funcionários do Santos, por todos os cantos da Vila Belmiro, se perguntavam: "e aí, quanto estão os jogos?".

A primeira notícia que veio dos sites era a pior possível: o Bahia tinha aberto o placar diante do Atlético-MG, então vice-líder do Brasileirão - e era justamente esse o jogo que inspirava maior confiança entre os santistas. Clima de tensão.

Clima de tensão tomou conta da Vila Belmiro — Foto: Bruno Giufrida

Clima de tensão tomou conta da Vila Belmiro — Foto: Bruno Giufrida

Pouco depois, gol. Mas não do Santos. Aos gritos, com muita festa, os torcedores nas arquibancadas comemoravam o gol de Paulinho, do Atlético-MG, que garantiria o Peixe na Série A do Campeonato Brasileiro caso o jogo na Vila Belmiro também terminasse empatado ou até com uma vitória do Fortaleza.

Enquanto muitos ainda estavam festejando um gol que nem era do Santos, os visitantes abriram o placar na Vila Belmiro. Mesmo com a derrota parcial, o Peixe ainda escaparia do rebaixamento com o empate na Fonte Nova. O clima, que era de festa, voltou a ser de tensão. Do campo, funcionários perguntavam para torcedores nas arquibancadas:

– Quanto está o Atlético-MG? Gol do Vasco? – questionavam. A essa altura, o Vasco já ganhava do Red Bull Bragantino.

Na saída para o vestiário, ainda no intervalo, os primeiros sinais de protestos. Das arquibancadas, gritavam: "honrem a camisa do Santos".

Policiais reforçaram a segurança da Vila — Foto: Bruno Giufrida

Policiais reforçaram a segurança da Vila — Foto: Bruno Giufrida

E o segundo tempo começou da maneira que talvez nem o mais pessimista dos santistas poderia prever. O Bahia, que estava na zona de rebaixamento, abriu dois gols de vantagem sobre o Atlético-MG.

Os olhares pareciam perdidos nas arquibancadas da Vila Belmiro. Os torcedores do Santos não queriam acreditar no que estavam vendo. Aquela era justamente a combinação quase que única que rebaixava o Peixe.

Mas durou pouco até que o Santos empatasse, com gol de Messias. A Vila Belmiro, em um dos seus últimos suspiros de felicidade, pulsou. Como poucas vezes. Do mais otimista ao mais pessimista, todos gritaram. Era a oportunidade de manter o Peixe na Série A do Campeonato Brasileiro.

Mas não foi o suficiente. O Vasco, que nada tinha a ver com os problemas do Santos, chegou a sofrer um gol do Bragantino, mas logo fez o segundo. O Bahia, até então muito pressionado, não viu a cor do Atlético-MG.

Santos, enquanto isso, fez o que pôde em meio a poucas alternativas, já que deixou para resolver seu futuro na última rodada. João Paulo foi para a área três vezes, até que o Fortaleza aproveitasse uma chance e fizesse o segundo gol.

Começou, então, muito do que transformou esta quarta-feira no dia mais triste da Vila Belmiro. Muitas bombas foram arremessadas ao gramado. Muitas cadeiras foram quebradas. Até vidros de andares superiores do estádio foram arrancados.

Parte de tampa de privada no gramado da Vila Belmiro — Foto: Bruno Giufrida

Parte de tampa de privada no gramado da Vila Belmiro — Foto: Bruno Giufrida

Do meio do campo, as alternativas para fugir da guerra que se desenhava nas arquibancadas e nas ruas eram poucas. Correr para onde? Para a rua? Estava pior. Para a arquibancada? Também não estava seguro.

Uma das possibilidades foi a sala de imprensa do vestiário do Fortaleza. Sem acesso aberto por qualquer outro lugar, apenas pelo corredor que leva ao espaço reservado aos jogadores, a sala de imprensa se tornou abrigo para nós. Do outro lado de uma porta de ferro, porém, torcedores do Santos descontavam ali sua indignação. Tapas, socos, chutes... E o medo de que eles entrassem.

Foram dezenas de minutos de medo, gás lacrimogêneo e de pimenta. Carros em chamas nas ruas. Ônibus em chamas em outras ruas. Policiais correndo pelo meio do gramado da Vila Belmiro como se estivessem num campo de guerra.

Espalhados, destroços do estádio, que já foi palco de tantas conquistas e histórias bonitas, davam o tom do que aconteceu na última quarta-feira. O Santos está rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Santos vive madrugada de terror, bombas e veículos incendiados após rebaixamento; veja imagens

Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez em sua história, o Santos viveu madrugada sob tensão após a derrota por 2 a 1 contra o Fortaleza, nesta quarta-feira. Desde o apito final do árbitro Leandro Vuaden, o que se viu foi um cenário quase de guerra, dos protestos da torcida nas arquibancadas às cenas de vandalismo em vários pontos da cidade do litoral paulista.

Em campo, correria

Logo após o gol de Lucero, segundo do Fortaleza, foi possível ouvir sons de bombas sendo atiradas. Houve também tentativa de invasão de campo. Os jogadores do clube cearense saíram correndo para os vestiários, e Vuaden encerrou o jogo, também deixando o gramado com seus companheiros de arbitragem.

Em campo, ficaram só os jogadores do Santos, desolados, alguns chorando, alguns atônitos, sem entender a dimensão do rebaixamento. O goleiro João Paulo era um dos mais abalados, desabado no chão e sem conter as lágrimas.

As arquibancadas da Vila foram esvaziadas rapidamente, mas quem ficou, não se calou: "Time sem vergonha" foi o grito que marcou um sentimento inédito para o torcedor alvinegro. Os jogadores precisaram se proteger também do gás de pimenta usado pela Polícia Militar para conter confusões do lado de fora do estádio.

Fora de campo, terror pela cidade

A madrugada na cidade de Santos teve cenários de guerra: pelo menos três ônibus foram incendiados, e alguns carros tiveram o mesmo fim. Um deles, inclusive, pertencia ao atacante Stiven Mendoza e foi encontrado só com as ferragens intactas, praticamente ao lado da Vila Belmiro.

Segundo apurou o ge, os torcedores queimaram os veículos que estavam mais próximos dos portões de saída. Apesar de o carro ser de um jogador do elenco, não foi uma ação proposital de protesto ao atacante - reserva na partida que sacramentou a queda do Peixe.

Ônibus queimado próximo ao estádio da Vila Belmiro após rebaixamento do Santos — Foto: divulgação

Ônibus queimado próximo ao estádio da Vila Belmiro após rebaixamento do Santos — Foto: divulgação

Um dos ônibus foi incendiado no Canal 1, região próxima à Vila. Bombeiros foram acionados e tiveram de controlar o fogo, que podia ser visto de perto do estádio.

Carro do atacante Mendoza, do Santos, é queimado no entorno da Vila Belmiro — Foto: Giovana Duarte

Carro do atacante Mendoza, do Santos, é queimado no entorno da Vila Belmiro — Foto: Giovana Duarte

A Polícia Militar teve trabalho para conter os focos de confusão ao redor do estádio. Já no meio da madrugada, a situação se acalmou aos poucos. Os vestígios, porém, ficaram pelo caminho na noite mais triste da história do Santos.

*GE

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