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Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024

Esportes

Luiz Mello relata ameaças de morte e se defende sobre ser sócio do Flamengo: 'Hoje vivo e torço pelo Vasco'

Luiz Mello relata ameaças de morte e se defende sobre ser sócio do Flamengo: 'Hoje vivo e torço pelo Vasco'

(Imagem: Daniel Ramalho / CRVG)

Sentado na cadeira mais importante da hierarquia da SAF do Vasco, Luiz Mello se defendeu das críticas que vêm recebendo à frente do cargo de CEO em entrevista ao ge. Ele é um dos principais alvos do descontentamento da torcida e relatou ameaças de morte.

- Minha família está exposta - lamentou.

Mello está no olho do furacão da crise do clube, que ocupa a zona de rebaixamento do Brasileirão, especialmente depois que conselheiros apresentaram uma denúncia alegando que ele mentiu no seu termo de posse, documento que precisou assinar para assumir como CEO. O caso está sendo apurado.

Um trecho do termo diz que, no ato da assinatura, Luiz Mello não poderia ter "vínculo associativo" com nenhum clube com exceção do Vasco. Na ocasião, o dirigente tinha ativo em seu nome um plano de sócio-torcedor do Flamengo. Mello deu uma longa resposta sobre o tema - todas as respostas desta entrevista foram enviadas pela assessoria do clube, após o ge mandar perguntas por escrito:

- Eu queria agradecer pela pergunta e pela oportunidade de esclarecer algo que é muito maior do que o termo de posse. A minha relação com o futebol começou antes de eu ser um profissional deste mercado. É o que acontece com quase todo brasileiro. Eu me preparei durante toda a minha vida para trabalhar neste segmento e ser CEO do Vasco é a realização de um sonho. Independentemente de qualquer relação do passado, hoje eu vivo, respiro, me doo e torço pelo Vasco da Gama com todas as minhas forças, 24 horas por dia. Qualquer movimento em uma direção diferente dessa seria também ir contra esse meu sonho, no caminho oposto de todo o caminho que trilhei até este momento.

- Ser profissional no futebol é isso. Acontece com os treinadores, com os atletas, membros das comissões. Com os executivos, não é diferente. Como a profissionalização dos jogadores é algo que remonta aos anos 1930, ninguém mais se preocupa qual era o time de infância do goleiro, do atacante, da nova contratação. Grandes treinadores do Vasco eram torcedores do Flamengo e do Fluminense. Grandes ídolos do clube tinham admiração por rivais e nem por isso deixaram de honrar a camisa vascaína - completou.

- O torcedor hoje tem certeza de que o atleta não vai colocar a carreira dele em risco ou prejudicar seus companheiros de equipe porque, no passado, ele torcia por outra agremiação. Por que, então, o mesmo raciocínio não vale para um dirigente? Porque a profissionalização de gestores é algo recente, mas as SAFs vieram justamente para quebrar mais este paradigma. Pouco importa qual era a preferência clubística do executivo se ele é capacitado. Como disse, o Vasco é o maior desafio da minha carreira e ninguém mais que eu quer que tudo dê certo. Ter a honra de gerir um clube deste tamanho é um sonho realizado.

Alguém em sã consciência acredita mesmo que vou tomar de propósito uma decisão que prejudique o Vasco porque antes torcia para outro clube? Alguém bem-intencionado acha de verdade que vou beneficiar um rival em detrimento do Vasco, colocando em xeque meu futuro profissional? Eu acho que apenas quem é maldoso ou possui segundas intenções pode acreditar que eu seria capaz de jogar minha carreira fora porque simpatizava por outra camisa. Hoje sou Vasco e quero que o Vasco atropele todos os rivais dentro e fora de campo.
— concluiu Luiz Mello

O CEO do Vasco nega que tenha mentido no seu termo de posse.

- Sobre o termo de posse em si, é importante dizer que pode ter havido um erro de interpretação. Eu não sou membro de qualquer órgão da administração, deliberação ou fiscalização, bem como de órgão executivo de outro clube de futebol conforme definido pelo art. 5º, parágrafo 1º da Lei 14.193/21. Portanto, não existe nenhuma ilegalidade nisso e por esta razão assinei o termo de posse com estas premissas - disse.

- Vale ressaltar que fui presidente de um órgão de fiscalização de clubes (APFUT) por 3 anos e passei por todos os processos pertinentes para poder cumprir com minha missão da forma mais transparente possível. Se houve um erro na interpretação sobre o teor do documento, tenham certeza de que não houve má-fé e que este erro será corrigido o mais rápido possível - afirmou, antes de concluir:

- Pela legislação vigente não há qualquer irregularidade ou ilegalidade na posse, pois cumpri com os requisitos exigidos na Lei Federal nº 14.193/2021 e no Estatuto Social do Vasco da Gama SAF. Reafirmo que não cometi nenhuma ilegalidade.

Rejeição interna e ameaças de morte

Luiz Mello foi alvo dos protestos dos torcedores ocorridos nas últimas semanas, com manifestação em frente ao escritório da SAF e conversa dura com jogadores no CT Moacyr Barbosa.

- A SAF é algo novo no Brasil e é natural que haja divergências quando há quebra de um modelo centenário. Vivemos um ano de eleição no clube associativo e historicamente este é um momento conturbado. Obviamente as críticas aumentam quando a bola não entra e é meu papel não deixar que isso atrapalhe o dia a dia do clube ou dos atletas - disse Luiz Mello.

Josh Wander, sócio-fundador da 777 Partners, e o CEO do Vasco Luiz Mello — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Josh Wander, sócio-fundador da 777 Partners, e o CEO do Vasco Luiz Mello — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Ser CEO do Vasco é o maior desafio da minha vida. Trabalho ininterruptamente, todos os dias para que o Vasco seja o maior clube do Brasil e gostaria que o torcedor entendesse que aqui tem alguém que não vai descansar enquanto não voltarmos ao nosso lugar de direito.
— afirmou Mello

- Fizemos, neste ano, o maior investimento em contratações da história do clube. Nossa receita com patrocínios e bilheteria já aumentou mais de 50% em relação a 2022 apenas com 5 meses completos (entre outras conquistas comerciais). A SAF tem em seus cargos-chave profissionais com passagens por multinacionais, gabaritados e experientes. É claro que não estamos felizes com os resultados esportivos, mas temos absoluta confiança de que eles virão - atestou ele, antes de concluir:

- Meu único grande descontentamento neste processo todo é quando as críticas extrapolam o lado profissional. Tenho sido ameaçado de morte, minha família está exposta, meu telefone está circulando em redes sociais. Há, deste lado, uma pessoa que está fazendo o seu melhor, que está aplicando todo o seu esforço e conhecimento em prol do Vasco sete dias por semana.

Desde o início do processo de instituição da SAF, Mello também sofre com muita rejeição interna. Ele era CEO do clube desde janeiro de 2021, antes de qualquer negociação com a 777.

Por isso, alguns vice-presidentes de Jorge Salgado sempre se colocaram contra a nomeação do executivo para a função de comando da SAF e, quando isso foi oficializado, eles ameaçaram entregar os seus cargos numa crise que precisou ser contornada por Salgado na época.

O próprio Josh Wander, sócio-fundador da 777 Partners, precisou justificar sua escolha e disse, em entrevista exclusiva ao ge em setembro do ano passado, que confiava na competência do gestor.

Com a crise desencadeada pelos maus resultados no Brasileirão, os representantes do clube associativo no Conselho de Administração da SAF cogitam pedir oficialmente o desligamento do CEO na reunião marcada para ocorrer na próxima quarta-feira.

- A relação com o clube associativo é profissional, baseada em respeito. Eu encaro as críticas com tranquilidade porque todos nós queremos a mesma coisa, o melhor para o Vasco. As divergências fazem parte do trabalho, ainda mais na gestão de algo que representa tanto para a vida de milhões de pessoas. Ouço as críticas sempre com o máximo respeito e, quando há erro, meu papel é reconhecê-los e corrigi-los - garantiu o CEO.

- Não posso comentar sobre o que as correntes políticas da associação pretendem solicitar na próxima reunião, mas sim focar em cumprir com as diretrizes que foram estabelecidas pelos membros do Conselho de Administração e em trabalhar junto com o futebol para que possamos voltar a ter as vitórias o mais rápido possível - arrematou.

"Estou nesse projeto de alma e coração"

Luiz Mello reforçou que conta com a confiança dos executivos da 777 Partners e garantiu que o clube não mede esforços para retomar o caminho das vitórias.

- Meu contato com Nicolas Maya, Don Dransfield, Johannes Spors e Juan Arciniegas, os principais executivos da 777, é diário. É evidente que ninguém está feliz com a nossa performance no campeonato, mas há a confiança de que a equipe que montamos pode render mais e subir rapidamente na tabela. Com os reforços que vamos buscar na janela de transferências, tenho absoluta convicção de que o elenco vai dar a resposta que precisamos - disse.

Luiz Mello, CEO do Vasco, reunido com executivos da 777 Partners — Foto: Divulgação/777

Luiz Mello, CEO do Vasco, reunido com executivos da 777 Partners — Foto: Divulgação/777

- O Conselho da 777, bem como todos os profissionais do grupo, me dão toda a segurança para que o melhor seja feito pelo Vasco. Eles entendem que os problemas do clube vêm de décadas e que não há solução mágica para resolvê-los. Como dito pelo Josh, o Vasco é um projeto de longo prazo e estamos focados em atingir os melhores resultados o mais rápido possível.

- Importante lembrar que a SAF foi criada em agosto de 2022 e neste curto período fizemos algumas mudanças importantes como colocar os salários em dia, obtivemos o acesso para a Série A no ano passado, fizemos o maior investimento da história do Vasco em uma janela de transferência. Estamos investindo aos poucos em infraestrutura nos CTs e sedes, melhoramos processos internos e externos - afirmou o dirigente.

Sabemos que ainda há muitos pontos a melhorar, muita coisa a ser feita. O que eu gostaria de deixar claro ao torcedor vascaíno é que estou neste projeto de alma e coração e que não vamos poupar esforços para que o Vasco seja protagonista. — concluiu Luiz Mello

*GE