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Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024

Esportes

Seleção brasileira desperdiça início de ciclo, e derrota para o Senegal deixa alertas

Seleção brasileira desperdiça início de ciclo, e derrota para o Senegal deixa alertas

(Imagem: EFE/EPA/MIGUEL A. LOPES)

Partindo do pressuposto que o principal - e para muitos o único - objetivo da seleção brasileira é conquistar a Copa, de que valem os primeiros amistosos de um ciclo de Mundial? A distância de três anos até o torneio dá a impressão de que estas datas Fifa acrescentam muito pouco ou quase nada na montagem da equipe, mas será mesmo que é assim?

Embora diante de adversários mais fracos, como El Salvador e Arábia Saudita, o Brasil fez experiências importantes em seus primeiros jogos no ciclo da última Copa. Para se ter uma ideia, nas duas primeiras datas Fifa pós-Rússia o técnico Tite usou nove dos 11 jogadores que viriam a ser titulares na estreia no Catar quatro anos depois - as exceções foram Vini Jr e Raphinha.

Foi também naquela oportunidade, em setembro e outubro de 2018, que o treinador deu as primeiras chances para Lucas Paquetá e Richarlison, que passariam a ser protagonistas da Seleção anos depois, além de testar Éder Militão como lateral-direito, função desempenhada por ele em parte da Copa de 2022.

Por outro lado, a Argentina, que se sagraria campeã do mundo dali a quatro anos, iniciou a caminhada rumo ao Catar cercada de dúvidas e problemas. Messi e outros jogadores pediram dispensa da primeira convocação de Lionel Scaloni, que até então não havia sido efetivado como treinador.

Ao longo de três temporadas, muitos jogadores despontam, outros tantos caem de rendimento e diversas variáveis surgem no meio do campo. O peso que esse início de ciclo tem para a conquista do título mundial é bastante discutível. O que parece inegável é o fato de o Brasil desperdiçá-lo agora.

Essa constatação nada tem a ver com a derrota por 4 a 2 para Senegal no amistoso dessa terça-feira, em Portugal. Ela já poderia ter sido feita após a goleada por 4 a 1 sobre Guiné, no sábado. Na véspera daquele jogo, inclusive, o técnico interino Ramon Menezes, mesmo sem querer, deixou escapar a ausência de um projeto esportivo à seleção nesse momento. Questionado sobre o por que de o Brasil ter optado por enfrentar a 89ª colocada do ranking da Fifa, ele deixou escapar:

– Porque foi escolhido eu não sei.

Ramon Menezes é técnico interino da seleção brasileira — Foto: Zed Jameson/MB Media/Getty Images

Ramon Menezes é técnico interino da seleção brasileira — Foto: Zed Jameson/MB Media/Getty Images

Não se trata apenas de ter um técnico interino. É sobre ter um trabalho que liga o nada a lugar nenhum. De ter um comandante que abandonou uma competição sub-20 e fez um "bate e volta" da Argentina ao Rio de Janeiro para convocar a seleção mais vezes campeã do mundo.

Nos três amistoso desse ano, Ramon promoveu 11 estreias, do garoto Vitor Roque, de 18 anos, a Rony, de 28. Os jogadores observados se encaixam na forma de jogar de Carlo Ancelotti, escolhido pela CBF para ser o técnico a partir do ano que vem?

Mesmo que se assumisse que tais partidas têm muito pouco a acrescentar em relação ao processo de formação de equipe para a Copa do Mundo, as primeiras datas Fifa de 2023 poderiam ter sido melhor aproveitadas. Por que não estar perto do torcedor brasileiro? Ou utilizar tais janelas para chamar ainda mais jovens e já começar a preparação olímpica? Dos que foram a campo nestes duelos de junho, somente Vanderson, André e Rodrygo terão idade para disputar os Jogos de Paris-2024.

Espera-se que pelo menos para as Eliminatórias, que começam em setembro, a transição seja melhor definida. Não porque o Brasil corra qualquer risco de não se classificar à Copa. Nem com muito esforço é possível imaginar a Seleção fora do grupo dos seis primeiros colocados. Porém, desperdiçar quase metade de um ciclo de Copa pode cobrar um preço caro no futuro.

Subaproveitada, a data Fifa deixou alguns alertas que precisam ser ouvidos pela CBF. Um deles é que a tradição e mesmo os bons jogadores que temos não garantirão vitórias mesmo diante de seleções tecnicamente inferiores à nossa.

Nos últimos anos, quando o Brasil se acostumou a ganhar com facilidade jogos de Eliminatórias ou amistosos, difundiu-se a ideia de que aquilo era banal, fácil de conseguir. Pois bem: a Seleção voltou a sofrer quatro gols em uma partida, algo que não acontecia desde os 7 a 1 da Alemanha. Também fazia nove anos que o Brasil não era vazado três vezes em um duelo.

Para além da parte desportiva, vimos a mais pesada camisa do futebol mundial se apresentar para um público decepcionante na Espanha, o que não só prejudica a marca da Seleção, como reforça a sensação de distanciamento da torcida.

Além do treinador, há outras coisas que o Brasil precisa resolver.

*GE