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Walewska, campeã olímpica de vôlei, morre aos 43 anos em São Paulo

Walewska, campeã olímpica de vôlei, morre aos 43 anos em São Paulo

(Imagem: Divulgação)

Morreu na noite desta quinta-feira a ex-jogadora Walewska Moreira de Oliveira, aos 43 anos, em São Paulo. A ex-central, campeã olímpica com a seleção de vôlei nos Jogos de Pequim, em 2008, que estava aposentada desde o fim da temporada 2021/2022, caiu do 17º andar de um prédio em São Paulo no fim da tarde da última quinta-feira. As circunstâncias do ocorrido estão sendo investigadas pela polícia.

Walewska faz parte do seleto grupo de campeões olímpicos brasileiros. Em Pequim-2008, a central fez parte da conquista do primeiro ouro olímpico do vôlei feminino. Em Olimpíadas, ainda foi bronze em Sidney-2000 e ficou com o quarto lugar em Atenas-2004. Defendeu diversos clubes ao longo da carreira, como Minas, Osasco e Praia Clube, por onde se aposentou.

Walewska com a camisa da seleção nas Olimpíadas de Pequim — Foto: Getty Images

Walewska com a camisa da seleção nas Olimpíadas de Pequim — Foto: Getty Images

O Sul-Americano de vôlei 2022 marcou a despedida oficial das quadras. O último jogo da central foi diante do Regatas Lima, do Peru, pela fase de grupos. Na semifinal contra o Sesi-Bauru e na final contra o rival o Minas, Wal ficou como opção no banco de reservas, mas não foi utilizada durantes as partidas. Após a aposentadoria, o clube de Uberlândia deixou de usar a camisa 1, que a central vestia.

Walewska lançou sua biografia neste ano. Em "Outras redes", ela contou toda sua trajetória até as quadras. Aos 12 anos, saiu de casa e pegou o ônibus para o primeiro teste de vôlei no Minas. Ali, dava seus primeiros passos rumo a uma carreira de conquistas.

Conhecida por manter sempre um perfil elegante dentro e fora da quadra, Walewska influenciou uma geração de jogadoras no país. Na seleção, fez parte de diversas conquistas e marcou época. Walewska foi convocada para a seleção brasileira pela primeira vez por Bernardinho, em 1997. Com ele, conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá, em 1999, e o bronze na Olimpíada de Sidney, em 2000. Depois, sob o comando de Zé Roberto, seguiu colecionando títulos.

Walewska e suas homenagens após aposentadoria — Foto: Eliezer Esportes/Praia Clube

Walewska e suas homenagens após aposentadoria — Foto: Eliezer Esportes/Praia Clube

Nesta semana, Walewska participou de uma série de eventos em São Paulo. Ela foi ao centro de treinamento do Palmeiras e se encontrou com o técnico Abel Ferreira. Na visita, os dois trocaram livros e elogios.

Glórias em quadra

Walewska foi um dos pilares da geração mais vitoriosa do vôlei brasileiro. Ela, porém, nunca deixou de homenagear quem veio antes. Em entrevista ao ge, falou da importância da geração de 1996.

- Eu acho que começo a minha história tendo contato com a geração de 1996, que, para mim, é a geração do vôlei. Eu me emociono até hoje. Temos um grupo no Whatsapp com essas meninas que estão fazendo 50, eu fiz 40. Tudo o que eu aprendi no vôlei, ser e me comportar como atleta, foi com essas jogadoras. A Ana Moser foi uma atleta que me impactou muito. Eu cheguei à seleção com 17 anos, em 97/98, e a Ana ainda jogava, não na melhor forma dela. Mas ela tinha uma postura, uma coisa gigantesca e tão simples que tentei entender aquela liderança silenciosa que ela tinha. Eu perguntei a ela o que eu precisava fazer para ser daquela forma. Eu comecei muito observando ela, Virna, Leila, Venturini, Fofão.

Por onde passou, Walewska desempenhou papel de líder e capitã. Em quadra, tentava ser exemplo para as companheiras de forma natural.

– Para ser líder, você tem que dar exemplos de tudo. Essa minha formação, de como ser atleta, me mostrou que eu preciso me comportar o tempo inteiro. É uma coisa supernatural, sou eu mesmo, mas preciso me policiar. As meninas estão olhando sempre para mim, para minhas atitudes, a forma como eu falo com as pessoas, como eu reparto as coisas no vestiário. Isso vem muito da minha família, meus pais, e devo muito à educação que eles me deram. Respeito sempre os mais velhos, acho que a nova geração perdeu um pouco essa hierarquia, está meio conturbado hoje em dia.

- Eu tento trazer todo esse aprendizado, mas preciso vivê-lo no meu dia a dia. Querendo ou não, estou sendo observada. Não é fácil, mas é uma coisa natural e não é forçada. Acho que a pessoa não se transforma em um líder, a pessoa já nasce com isso. É muito difícil você transformar uma jogara em líder porque você quer, é muito difícil. Estou lendo livros de psicanálise para entender as pessoas, não julgá-las. Entendendo o porquê das coisas, a vida fica muito mais fácil - disse.

Zé Roberto se diz sem chão após morte de Walewska: "Perdi uma filha"

Foram anos de convivência. Ao longo do tempo, José Roberto Guimarães viu Walewska construir uma trajetória de brilho. Mas não só. Além do ouro nas Olimpíadas de Pequim e de tantas outras conquistas, técnico e jogadora viram a relação transbordar das quadras. Com a notícia da morte da ex-central, o treinador se viu sem chão.

Walewska foi um dos pilares da geração mais vencedora do vôlei brasileiro. O treinador esteve ali durante a maior parte do tempo e desenvolveu uma relação de pai e filha com a central.

- Ela era excepcional. Todo técnico, toda comissão gostaria de ter uma atleta como ela. Madura, tranquila, mas com uma vontade incrível de fazer e realizar as coisas. A gente fica sem chão. A gente perde a noção de muita coisa. Eu perdi uma filha. Eu perdi uma filha. É muito duro. É um momento para nós muito difícil.

Zé Roberto durante jogo contra a Turquia — Foto: Divulgação

Zé Roberto durante jogo contra a Turquia — Foto: Divulgação

A notícia da morte de Walewska chegou em meio à preparação da seleção para a partida contra a Turquia. Àquela altura, sem a confirmação, Zé Roberto tentou manter o foco. A conversa com a equipe só aconteceu pouco antes da partida. A equipe entrou em quadra com uma faixa no braço, enquanto a comissão usou uma tarja preta no uniforme.

Walewska, campeã olímpica em Pequim 2008 — Foto: Cameron Spencer/Getty Images

Walewska, campeã olímpica em Pequim 2008 — Foto: Cameron Spencer/Getty Images

- É um momento muito difícil, muito complicado. Estávamos perto de ir para o vídeo quando chegou a notícia do que tinha acontecido. A gente não sabia ainda exatamente. Nós preferimos, naquele momento, de não falar absolutamente nada. Não era o momento adequado até a gente entender um pouco o que estava acontecendo. Um pouco antes do jogo que a gente falou sobre o que tinha acontecido. Colocar tarja, enfim. É um momento de muita tristeza e dificuldade para todo mundo.

Zé Roberto diz que lembrará dos anos ao lado de Walewska com saudade. Para o técnico, foi um exemplo dentro e fora de quadra.

- Conhecendo a Walewska como nós conhecíamos, ela foi um exemplo de dedicação, de comprometimento. De tudo de bom que uma jogadora, atleta, pessoa pode ter. Ela sempre se cuidou muito, ajudou o time. Sempre fez o que podia fazer da melhor maneira possível desde pequena. Jogou com várias jogadoras e com a gente por vários anos. A gente fica sem chão para saber exatamente e entender as coisas. É difícil falar sobre isso. Abalou todo mundo nesse momento.

Comissão técnica durante homenagem a Walewska — Foto: Divulgação

Comissão técnica durante homenagem a Walewska — Foto: Divulgação

- Ela deixou um legado na vida dela como atleta, um dos maiores exemplos que eu já vi, que eu pude vivenciar com ela. Com todos os momentos que nós tivemos juntos no clube e na seleção. Ela vai deixar muita saudade. Saudade para essas meninas que jogaram com ela, que participaram com ela de várias etapas, caminhadas e jornadas. E vai deixar o exemplo para essas meninas mais novas, o significado de ser uma grande atleta, uma atleta campeã olímpica. Uma atleta que fez a melhor coisa para o seu país, que trouxe uma medalha de ouro, que cantava o hino bem alto, que tinha maior orgulho de representar e estar ali o tempo inteiro brigando e fazendo o seu melhor. Nós vamos sentir muita saudade. É um pecado – disse.

Após a derrota para a Turquia, Zé Roberto diz que o grupo ainda vai tentar lidar com a perda de Walewska

- Vamos deixar esse momento, esse jogo e conversar com o grupo sobre essa situação. Está todo mundo muito triste com o que aconteceu, com a perda da Walewska, com a perda do jogo. Conheci a Walewska e sei que, se ela tivesse aqui, ela pediria para todo mundo jogar por ela. Foi isso o que a gente tentou fazer. Elas correram por ela, a gente só tem de lamentar e rezar muito.

*GE