Quarta-Feira, 12 de março de 2025
Quarta-Feira, 12 de março de 2025
Agentes que trabalham para o bilionário Elon Musk no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) acessaram registros governamentais altamente restritos sobre milhões de funcionários federais mantidos pelo Escritório de Gestão de Pessoal, informou o jornal "Washington Post" nesta quinta-feira (6).
Os registros acessados seriam de funcionários do Tesouro e do Departamento de Estado, inclusive em cargos de segurança sensível, de acordo com quatro autoridades dos EUA com conhecimento dos acontecimentos que teriam falado à publicação.
Vários membros da equipe DOGE receberam acesso "administrativo" aos sistemas de computador do OPM, dias após a posse de Trump em 20 de janeiro, de acordo com o Post, que explicou:
"Isso lhes dá ampla autoridade para instalar e modificar software em equipamentos fornecidos pelo governo e, de acordo com dois funcionários do OPM, para alterar a documentação interna de suas próprias atividades".
Os sistemas OPM incluem um vasto banco de dados chamado Enterprise Human Resources Integration, que contém datas de nascimento, números de Previdência Social, avaliações, endereços residenciais, níveis salariais e tempo de serviço de funcionários do governo.
Um alto funcionário do OPM, durante uma reunião de equipe nesta quarta-feira (5), disse que as unidades principais focadas em modernizar a rede da agência e melhorar a responsabilização "provavelmente irão embora", de acordo com uma gravação da sessão obtida pelo jornal.
Procurado pela agência de notícias Reuters, o DOGE não retornou um pedido de comentário sobre os detalhes do relatório do Post.
A Casa Branca disse que os agentes do DOGE estão trabalhando em conformidade com a lei federal.
Um funcionário da Casa Branca disse à Reuters que as pessoas que estão fazendo esse trabalho têm as devidas autorizações nas respectivas agências, passaram pela integração e têm acesso somente leitura. Questionado sobre o motivo de estarem olhando os registros de funcionários ou funcionários de segurança, o funcionário disse que olhar os organogramas faz parte de toda reestruturação.
A rápida tomada de controle de duas agências do governo dos Estados Unidos por Elon Musk permitiu que o bilionário nascido na África do Sul exercesse um poder sem precedentes sobre uma força de trabalho federal de 2,2 milhões de pessoas e iniciasse uma dramática reformulação da administração federal dos EUA.
Musk, de 53 anos, o homem mais rico do mundo e aliado do presidente Donald Trump, criou em duas semanas um novo centro de poder em Washington ao colocar em prática uma iniciativa de corte de custos para reduzir o tamanho do governo norte-americano.
Presidente-executivo da Tesla e fundador da SpaceX, Musk tem agido rapidamente desde a posse de Trump em 20 de janeiro, destacando equipes de funcionários atuais e antigos de suas empresas como seus representantes.
As ações de Musk promoveram uma onda de pânico entre os funcionários do governo e protestos públicos em Washington e, às vezes, ameaçaram ofuscar a própria agenda de Trump.
A guerra comercial de Trump com os vizinhos Canadá e México disputou esta semana espaço nas primeiras páginas com o esforço de Musk para fechar a USAID, a principal agência de ajuda humanitária dos Estados Unidos para o mundo.
Os esforços de Musk fazem parte de uma reestruturação ampla do governo por parte de Trump, que demitiu e afastou centenas de funcionários públicos em suas primeiras medidas para reduzir a burocracia e colocar pessoas leais em cargos-chave.
Os norte-americanos estão testemunhando "uma extraordinária centralização de poder em alguém que não tem autorização de segurança de alto nível e não foi submetido a nenhum processo de confirmação do Senado", disse Don Moynihan, professor da Escola de Política Pública Ford da Universidade de Michigan.
"Musk tem um controle centralizado e sem precedentes da estrututra básica do governo", acrescentou.
No entanto, Musk opera de acordo com a vontade de Trump. O presidente disse a repórteres na segunda-feira (3) que o bilionário tinha que buscar a aprovação da Casa Branca para qualquer uma de suas ações.
"Elon não pode fazer e não fará nada sem nossa aprovação, e nós lhe daremos a aprovação quando for apropriado; quando não for apropriado, não daremos. Mas ele se reporta a nós", disse.
Ao ser questionado sobre quem o preocupa mais quando se trata da perspectiva de ser demitido, um funcionário da Administração de Serviços Gerais, que gerencia propriedades e serviços federais, disse: "Musk. Ninguém está realmente falando sobre Trump".
Elon Musk ao lado de Donald Trump durante comício presidencial em outubro de 2024 — Foto: REUTERS/Carlos Barria
Trump colocou Musk no comando do que os dois chamam de Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).
Apesar do nome, não se trata de um departamento, Musk não recebe salário do governo e a criação do Doge imediatamente gerou ações judiciais de sindicatos, órgãos de fiscalização e grupos de interesse público.
Não se sabe exatamente quem compõe o Doge. O governo Trump não divulgou uma lista dos funcionários do órgão. Também não informou como eles estão sendo pagos, quantos entraram em cada agência e se são funcionários do governo. Isso levanta questões sobre a quem eles devem prestar contas: a Musk ou a Trump como chefe do Poder Executivo.
Musk e seus tenentes do Doge assumiram o controle do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM) e da Administração de Serviços Gerais (GSA), juntamente com seus sistemas de computador.
O OPM é o braço de recursos humanos do governo dos EUA, supervisionando 2,2 milhões de funcionários públicos. A partir daí, foram enviados e-mails na semana passada oferecendo aos funcionários federais incentivos financeiros para que se demitissem. A GSA supervisiona a maioria dos contratos governamentais e gerencia a propriedade federal.
Pelo menos quatro atuais e ex-assessores de Musk fazem parte de uma equipe que assumiu o controle do OPM, disseram fontes à Reuters. Musk visitou a GSA na última quinta-feira (30), disse uma autoridade, enquanto membros de sua equipe se mudavam para a agência.
Na sexta-feira (31), uma equipe de Musk obteve acesso ao sistema de pagamento do Departamento do Tesouro dos EUA, que envia mais de US$ 6 trilhões por ano em nome de agências federais e contém as informações pessoais de milhões de norte-americanos que recebem pagamentos da Previdência Social, restituições de impostos e outros recursos do governo.
Michael Linden, uma autoridade sênior durante a administração do ex-presidente Joe Biden no Escritório de Gestão e Orçamento — uma poderosa agência que supervisiona o orçamento federal — disse que o acesso dos assessores de Musk aos sistemas de pagamento lhes dá um possível poder extraordinário.
"Eles poderiam escolher quais pagamentos o governo federal fará", disse Linden em uma entrevista.
Nem Musk nem a Casa Branca responderam imediatamente a um pedido de comentário.
Trump tem dito repetidamente que a burocracia federal está inchada, é ineficiente e precisa ser reduzida. Ele também acusa muitos funcionários federais de serem progressistas que querem frustrar sua agenda.
*G1