Quarta-Feira, 12 de março de 2025
Quarta-Feira, 12 de março de 2025
O partido de oposição Demokraatit venceu as eleições parlamentares de terça-feira (11) na Groenlândia, derrotando a coalizão governante de esquerda, informou a agência de notícias Reuters na madrugada desta quarta-feira (12), no horário de Brasília.
Segundo a agência, o partido de centro-direita Demokraatit, que defende um avanço gradual para se tornar independente da Dinamarca, obteve 29,9% dos votos, subindo da marca de 9,1% em 2021, e ficando à frente do partido de oposição Naleraq, que é a favor de uma independência rápida, com 24,5%.
No centro da votação estava o movimento pelo fim da dependência da Dinamarca e o interesse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em adquirir a ilha.
Desde que assumiu o cargo em janeiro, Donald Trump prometeu transformar a Groenlândia – um território semiautônomo da Dinamarca – em parte dos Estados Unidos, dizendo que a ilha é vital para os interesses de segurança dos EUA, uma ideia rejeitada pela maioria dos groenlandeses.
A Groenlândia tem cerca de 57 mil habitantes, dos quais 40,5 mil estão aptos a votar. O Parlamento local, conhecido como Inatsisartut, possui 31 cadeiras. Agora, o partido vencedor da eleição terá a chance de formar uma coalizão governamental por meio de negociações com outros partidos.
“As pessoas querem mudança. Queremos mais negócios para financiar o nosso bem-estar,” disse Jens-Frederik Nielsen, líder do Demokraatit e ex-ministro da Indústria e Minerais. “Não queremos independência amanhã, queremos uma boa base,” disse Nielsen aos repórteres em Nuuk.
O partido Inuit Ataqatigiit, atualmente no governo, e seu parceiro Siumut, que também buscam um caminho gradual para a independência, tiveram juntos 36% dos votos, uma queda em relação aos 66,1% em 2021.
“Acredito firmemente que em breve começaremos a viver uma vida mais baseada em quem somos, baseada em nossa cultura, em nossa própria língua, e começaremos a fazer regulamentos baseados em nós, não baseados na Dinamarca,” disse Qupanuk Olsen, candidato pelo principal partido pró-independência Naleraq.
Inge Olsvig Brandt, candidata pelo partido governante Inuit Ataqatigiit, disse que a Groenlândia não precisa da independência gora. "Acho que temos que trabalhar com nós mesmos, com nossa história, e vamos ter muito trabalho antes de podermos dar o próximo passo.”
A votação foi prorrogada por meia hora em algumas das 72 seções eleitorais espalhadas pela ilha ártica. A participação final dos eleitores não tenha sido divulgada até a última atualização desta reportagem.
Desde 2009, a Dinamarca permite que a Groenlândia se prepare para conquistar sua independência total. Para isso, a ilha precisa realizar um referendo.
A maior parte dos partidos políticos groenlandeses apoia a separação, mas há divergências sobre como fazer esse movimento. O principal obstáculo é o auxílio financeiro dinamarquês à ilha, que representa quase US$ 1 bilhão por ano para a economia local.
Montanhas que rodeiam o porto de Tasiilaq, na Groenlândia — Foto: Lucas Jackson/Reuters
Durante seu primeiro mandato como presidente, Trump afirmou que faria uma oferta para comprar a Groenlândia. À época, as autoridades da ilha responderam que o território não estava à venda.
Há décadas, os Estados Unidos consideram a Groenlândia um território estratégico para a segurança nacional. A ilha poderia abrigar sistemas de defesa capazes de interceptar mísseis vindos da Europa ou do Ártico.
Além disso, radares instalados na região ajudariam a identificar navios e submarinos, principalmente russos, monitorando as águas entre a Islândia, a Grã-Bretanha e a própria Groenlândia.
Trump não foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a tentar comprar a ilha. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Harry Truman tentou adquirir a Groenlândia, oferecendo US$ 100 milhões em ouro. O objetivo era garantir um território estratégico para enfrentar as ameaças da Guerra Fria.
A proposta de Truman foi rejeitada, mas os Estados Unidos conseguiram instalar uma base militar na ilha com a autorização da Dinamarca.
Além disso, a Groenlândia é rica em minerais, petróleo e gás natural. Trump já demonstrou ter interesses na extração desses recursos e tem revertido regras ambientais para a estimular a produção nos Estados Unidos.
Avião de Trump em Nuuk, na Groenlândia, em 2025 — Foto: Emil Stach/Ritzau Scanpix/via REUTERS
Ainda em janeiro, Trump disse estar "determinado em tomar a Groenlândia" durante uma ligação telefônica para a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen. As informações foram reveladas pelo jornal Financial Times.
Frederiksen seguiu o que autoridades da própria Groenlândia vinham afirmando e respondeu a Trump que a ilha não estava à venda.
Após a ofensiva de Trump, o primeiro-ministro Mute Egede intensificou a campanha pela independência e afirmou várias vezes que cabe ao povo decidir o futuro da ilha.
A população da Groenlândia poderia votar pela independência e hipoteticamente aprovar, em referendo, uma associação aos Estados Unidos. No entanto, analistas dizem que esse cenário é muito improvável, já que os groenlandeses estão buscando mais autonomia, e não um novo "dono".
Uma pesquisa feita na Groenlândia no fim de janeiro aponta que apenas 6% dos entrevistados querem que a ilha se torne parte dos Estados Unidos. Outros 85% rejeitam a ideia. Os demais entrevistados não souberam ou não responderam.
*G1