Sexta-Feira, 14 de março de 2025
Sexta-Feira, 14 de março de 2025
Em menos de dois meses de governo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem adotado medidas que geram impacto direto na política global. Suas ameaças, tarifas e embates diplomáticos, muitas vezes voltados para fortalecer sua base interna, têm provocado um outro efeito: o aumento da popularidade de outros líderes estrangeiros.
▶️ Contexto: Donald Trump tem adotado uma postura agressiva em relação a aliados internacionais, impondo tarifas, ameaças comerciais e pressões diplomáticas.
Popularidade: Pesquisas de opinião indicam que as ameaças de Trump estão influenciando diretamente a aprovação dele. Os americanos temem que as tarifas aumentem o custo de vida nos EUA. Enquanto isso, a avaliação dos governos dos países alvos do presidente subiu.
Diante das ameaças de Trump, alguns países observaram movimentos de unidade e valorização de produtos próprios, como no Canadá. Já na Europa, o continente tem discutido como ser menos dependente dos EUA em relação à segurança.
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam ser muito cedo para falar em uma ruptura da hegemonia norte-americana e analisam o fenômeno do patriotismo crescente entre os países alvos de Trump.
Veja as análises completas ao longo do texto.
Nesta reportagem você vai ver:
Cafeterias canadenses mudam nome de café ‘Americano’ em meio a guerra comercial com os EUA — Foto: Black Creek Coffee
Nas últimas semanas, Canadá e México viram ameaças de tarifas indo e voltando. No fim de janeiro, Trump anunciou que iria taxar em 25% produtos canadenses e mexicanos importados. O objetivo seria pressionar os vizinhos a combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas para os EUA.
Efeitos das ameaças foram sentidos nos dois países:
Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, relatou que conversou com vários diplomatas estrangeiros, inclusive do Canadá, recentemente. Ele afirmou ter ficado supreso com o sentimento de raiva e reação dos canadenses.
"É uma espécie de efeito de mobilização patriótica ou efeito de solidariedade nacional, que é muito comum quando um país é ameaçado por um outro país maior."
Para Victor Del Vecchio, mestre em Direito Internacional pela USP, o posicionamento das lideranças de Canadá e México tem passado uma imagem de força dos governantes em defender o interesse nacional.
"Mesmo porque, muitos deles têm setores ultranacionalistas que, além de não estarem à frente do governo respondendo às tarifas, defendem bandeiras similares às de Trump", analisa.
Líderes de Europa, Canadá e Turquia se reuniram em Londres neste domingo para debater os próximos passos da guerra na Ucrânia — Foto: Reuters
Na quinta-feira (13), Trump afirmou que pode impor uma tarifa de 200% sobre vinhos e champanhes europeus, caso a União Europeia não retire a taxa de 50% sobre uísques americanos. Essa não foi a primeira ameaça do presidente ao bloco.
No fim de fevereiro, Trump disse que pretende taxar produtos importados da União Europeia em 25%. Ele justificou a medida afirmando que os europeus estariam "tirando vantagem" dos americanos nas trocas comerciais.
Nas últimas semanas, Trump recebeu na Casa Branca o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. As tarifas foram discutidas em ambos os encontros.
O movimento iniciado pela Casa Branca fez com que a Europa entrasse em uma espécie de "corrida armamentista" para reduzir a dependência dos EUA em questões de segurança. A União Europeia, que não inclui o Reino Unido, preparou um plano bilionário para reforçar sua defesa própria.
A imprensa dos dois países relacionou a melhora nas avaliações ao posicionamento adotado pelos líderes diante das movimentações de Trump e da postura dos EUA na guerra na Ucrânia.
Para Victor Del Vecchio, o mundo vive uma nova configuração da ordem global, na qual os Estados Unidos deixam de ser o único grande garantidor da paz para aliados como a Europa.
"Ainda é cedo para cravar que estamos diante, também, da ruptura da hegemonia norte-americana, mesmo porque os efeitos a longo prazo das medidas econômicas e de geopolítica adotadas por Trump ainda são incertos."
Trump e Zelensky batem boca na Casa Branca — Foto: Brian Snyder/Reuters
O apoio dos Estados Unidos à Ucrânia era visto como inabalável durante o governo de Joe Biden. No entanto, as relações entre os dois países começaram a estremecer com a chegada de Donald Trump à Casa Branca.
O distanciamento de Trump em relação à Ucrânia teve um impacto direto na popularidade de Zelensky.
O professor Oliver Stuenkel acreditaque esse fortalecimento de lideranças ao redor do mundo diante das ações de Trump não é uma regra.
"Precisamos aguardar mais informações para entender como os cenários políticos em outros países vão se desenrolar em resposta à postura do governo americano. Em geral, os primeiros sinais sugerem que as interferências e ameaças de Trump não fortalecem partidos alinhados a ele em outros países."
Do bate-boca ao acordo de cessar-fogo: os altos e baixos da relação entre Ucrânia e o governo Trump
Trump durante evento na Casa Branca — Foto: Evelyn Hockstein/Reuters
Na contramão das lideranças da França, Reino Unido, México e Ucrânia, a aprovação de Trump está em queda, segundo a média de pesquisas calculada pelo estatístico americano Nate Silver.
? Na segunda-feira (10), o índice de aprovação de Trump ficou abaixo da desaprovação pela primeira vez desde o início de seu governo. Na quinta-feira, o levantamento indicava que 49% dos entrevistados desaprovavam o presidente, enquanto 47,3% o aprovavam.
Uma pesquisa divulgada pela Reuters na quarta-feira (12) apontou que 57% dos norte-americanos acreditam que Trump está sendo "muito errático" em suas ações para a economia dos Estados Unidos.