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Meio ambiente

Aplicativo que alerta sobre desmatamentos terá alcance ampliado na Amazônia

Aplicativo que alerta sobre desmatamentos terá alcance ampliado na Amazônia

(Imagem: Reprodução / PF-PA)

Um aplicativo que permite monitorar e alertar sobre desmatamentos terá seu alcance ampliado na região amazônica. O TerraOnTrack é disponibilizado para que comunidades tradicionais e povos indígenas possam identificar ameaças potenciais aos seus territórios e possíveis atividades ilegais.

A plataforma integra um dos projetos do programa Servir-Amazônia, que reúne vários centros de pesquisas do mundo, em parceria com a ONG Imaflora, sediada em Piracicaba (SP). A cidade também sediou, na última semana, um encontro para discutir essas e outras iniciativas do programa, como um sistema de monitoramento de mineração ilegal em terras indígenas e modelos de cálculo de perdas e ganhos de carbono florestal.

O Servir-Amazônia é um braço do Servir Global, iniciativa conjunta de desenvolvimento da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa), dos Estados Unidos, e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

Sua atuação se dá em regiões de floresta amazônica do Brasil, Peru, Suriname, Guiana, Equador e Colômbia. O principal foco, segundo Isabel Garcia Drigo, gerente de Clima e Emissões do Imaflora, é o monitoramento do uso da terra por meio de ferramentas como satélites e tecnologias geoespaciais.

“A gente tem comunidades que estão morando em regiões rurais e florestais que também precisam de dados, que precisam entender o que está acontecendo no pedaço delas. Eu estou perdendo ou estou ganhando floresta? Estou perdendo ou ganhando carbono que está estocado nessas árvores?”, exemplifica.

 

Em outra frente, a organização faz parcerias com o poder público para subsidiá-lo com dados captados nesses projetos.

Criação de alerta com o aplicativo TerraOnTrack — Foto: Imaflora

Criação de alerta com o aplicativo TerraOnTrack — Foto: Imaflora

O TerraOnTrack, que também recebe alertas e monitora incêndios e invasões de terras, começou a ser desenvolvido entre 2018 e 2019 e o primeiro teste em campo ocorreu em 2021.

Seu uso foi iniciado em São Félix do Xingu, no sul do Pará, um dos municípios com a maior taxa de desmatamento. Devido à vulnerabilidade da região em relação a este tipo de crime ambiental, foi adotada cautela na divulgação de algumas informações coletadas, incluindo estatísticas.

“No projeto-piloto em Xingu não tem tantos alertas porque já foram muitas áreas desmatadas. A expectativa é que quando começar a usar no norte do Pará vão começar a aparecer mais”, explica Isabel, sobre a próxima área que deve receber o projeto.

“[A região norte] também tem perfil de assentamentos, tem produtores que coletam produtos na floresta - alguns fazem manejo florestal legalizado -, terras indígenas, porque a gente sabe que são territórios alvos de vários tipos de ameaças, desde madeireira ilegal até grilagem e desmatamento”, acrescenta.

Foram cinco anos para chegar a um aplicativo que fosse o mais simples possível, que as comunidades pudessem usar offline e, a partir dessa experiência de São Félix, serão avaliadas melhorias e outras expansões de funcionalidades, como mapear as estradas onde há coletas de diferentes culturas, como castanhas e babaçu.

Encontro durante projeto-piloto do TerraOnTrack — Foto: Imaflora

Encontro durante projeto-piloto do TerraOnTrack — Foto: Imaflora

Como funciona

 

O TerraOnTrack foi desenvolvido em parceria com o Grupo de Informática Espacial (SIG), organização dos Estados Unidos especializada em ciências de dados e geoprocessamento.

Segundo a gerente do Imaflora, ele é baixado no celular dos moradores dessas comunidades amazônicas e, a partir do ponto de GPS, a pessoa pode tanto enxergar alertas de desmatamento, de fogo ou de uma possível invasão, quanto enviar esse tipo de alerta.

“Imagina um produtor rural assentado que está andando nas estradas desse assentamento e ele percebe algum movimento de desmatamento. Então, ele marca um ponto de desmatamento. Ele marca esse ponto de GPS na plataforma e cruza com bancos de dados que já existem que vão confirmar: ‘isso aqui é um desmatamento que pode estar do tamanho A, B ou C’'", detalha.

Se for identificado algum crime, associações locais podem formalizar a denúncia a um órgão ambiental.

Monitoramento de garimpo ilegal

 

O Imaflora também colaborou com um sistema chamado Radar Mining Monitoring (Rami), da Conservación Amazónica (Acca), organização do Peru.

“O sistema Rami detecta mineração em terras indígenas e eles fizeram primeiramente para o Peru e, nesse ano, a gente ajudou a fazer o arranjo de contratação de especialistas para começar a fazer o Rami no estado do Pará”, explica.

Ela acrescenta que, no Peru, esses dados já possibilitam a geração de mapas de localidades com registro desse tipo de crime.

“O foco é ajudar os indígenas a ter essas informações em mapas para que eles possam fazer as ações junto às autoridades”.

 

Novos projetos

 

No encontro em Piracicaba, foram discutidos quatro novos projetos. Um deles, que vai começar pelo Mato Grosso, e depois partir para outras regiões, visa identificar os estoques de carbono florestal de cada área.

“Se você tiver um modelo validado pela ciência, você vai ajudar a calibrar esse mercado futuro e regulado de carbono florestal”, explica a gerente do Imaflora.

Outro projeto também envolve carbono e vai avaliar perdas e ganhos frente a diferentes intervenções humanas. “Vai avaliar o quanto estamos perdendo de carbono quando a gente tem desmatamento e degradação. E por outro lado vai avaliar ganho quando você tem regeneração de floresta acontecendo”, resume Isabel. As ações terão início no estado do Acre.

Um terceiro trabalho vai envolver principalmente plantações de dendezeiro. A intenção é promover plantações em terras degradadas e melhorar as práticas de manejo para aumentar a produtividade.

Já o quarto projeto tem foco em previsões climáticas e atuações preventivas contra inundações. “É calibrar as ferramentas com o que tem de melhor de computação e de imagens que dá para fazer via satélites para ter mais previsibilidade”, explica a representante do Imaflora.

Segundo ela, quanto a essas novas iniciativas, os pesquisadores já obtiveram o visto para vir ao Brasil e alguns deles devem chegar no segundo semestre para iniciar os trabalhos.

*G1