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Sábado, 23 de novembro de 2024
Sábado, 23 de novembro de 2024
Ondas de calor e chuvas intensas em regiões já castigadas serão atenuadas no Brasil, mas a seca pode piorar a situação em regiões como Pantanal. Tendência de aquecimento global não muda, alertam cientistas. Depois de uma temporada de superaquecimento, as águas do oceano Pacífico dão sinais de que vão ficar mais geladas que o normal. Quase sem interrupção, o fenômeno El Niño será substituído por seu oposto, La Niña, após uma temporada de temperaturas recordes e eventos extremos em todo o Brasil.
A sucessão dos fenômenos não é comum e precisa ser acompanhada conforme se desenvolve, afirma Marcelo Seluchi, coordenador geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
"O planeta como um todo fica mais quente em anos em de El Niño. 2023 foi o mais quente da história conhecida. É preciso aguardar um pouco ainda para ver como será 2024 com o La Niña se formando”, comenta Seluchi em entrevista à DW.
A previsão inicial é que a influência do La Niña, a partir de junho, causará chuvas acima da média em parte da região Norte, Minas Gerais e Bahia. Na região Sul, que registrou enchentes recordes em algumas localidades influenciado pelo El Niño, as chuvas agora devem ficar abaixo da média.
"É quase como um alívio para o Sul, que sofreu com sistemas ciclônicos de baixa pressão atuando na costa. Mas se o La Niña persiste muito tempo, pode ficar muito seco e a região voltar a ter problemas com impactos negativos na parte agrícola e na reserva de água”, analisa Tércio Ambrizzi, pesquisador do no Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da Universidade de São Paulo, USP.
Antes de o último El Niño se consolidar, em maio de 2023, o fenômeno oposto estava ativo e persistiu por três anos (2020-2023) – duração considerada rara. O período foi marcado por estiagem que levou a quebra de lavouras e causou a maior crise hídrica dos últimos 78 anos na bacia do Paraná-Prata, que abastece reservatórios vitais para a geração de energia hidrelétrica.
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No Rio Grande do Sul, o caos climático dos últimos meses é percebido como um dos mais complexos já vividos pelos produtores rurais.
"O excesso de chuva, diferença de luminosidade para fotossíntese e na polinização, o aparecimento de doenças que não eram tradicionais prejudicou muito a safra do milho”, detalha Alencar Rugeri, técnico no estado da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Por conta dos efeitos do El Niño, o plantio da soja, tradicionalmente iniciado em outubro, foi atrasado para dezembro. Isso compromete todo o planejamento e coloca o produtor numa zona de desconforto, pontua o técnico do Emater.
"Os reflexos sobre a soja ainda não podem ser mensurados. É um período frágil, vulnerável, numa corrida que dura cerca de 130 dias. Essa mudança aumenta o risco de outras coisas, há uma pressão mais forte de doenças, como ferrugem”, detalha Rugeri à DW.
Em todo o país, a previsão da safra nacional de grãos é de queda de 4,7% em relação ao colhido em 2023, prevê o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O total agora deve ser de 300,7 milhões de toneladas em 2024 - no ano anterior foram 315,4 milhões de toneladas.
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A época das chuvas chega ao fim com seca em boa parte da região Sudeste e Centro-Oeste, alerta Seluchi, do Cemaden.
"Em março, quando a estação chuvosa está fechando, espera-se a recuperação dos rios, solo carregado com umidade. Mas isso não aconteceu em várias regiões e abre preocupação porque, com o La Niña, a situação não vai melhorar onde já está seco”, explica o meteorologista à DW.
No Pantanal, a situação já é preocupante. Rios importantes da bacia do Paraguai, que engloba o bioma em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estão abaixo do esperado para esta época do ano. Segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o déficit de chuvas lembra o cenário observado nos anos mais críticos de secas. Em 2020, o Pantanal enfrentou uma estiagem severa e registrou incêndios recordes.
Na bacia do rio Paraná o panorama também gera tensão. "Caso a estação chuvosa 2023-2024 finalize com chuvas abaixo da média e a La Niña venha se configurar, não é muito favorável para os reservatórios das usinas hidrelétricas devido à atual condição de seca hidrológica”, afirma a nota técnica do Cemaden.
A crise hídrica desta bacia entre 2020 e 2023 obrigou a paralisação de algumas turbinas nas usinas e impulsionou o acionamento das termelétricas, que são mais poluentes e mais caras.
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Toda vez que a temperatura superficial do Pacífico Equatorial está 0,5°C abaixo que a média histórica, o fenômeno é classificado como La Niña. Quando a mesma variação é para cima, o El Niño se desenvolve.
O resfriamento momentâneo no Pacífico previsto para entrar em ação na segunda metade do ano não muda a tendência de aquecimento do planeta, ressalta José Marengo, climatologista que coordena a pesquisa e desenvolvimento no Cemaden.
"São duas coisas diferentes. Quando falamos do aquecimento global, é um processo de longo prazo. La Niña é uma variabilidade climática, curta, que dura cerca de um ano”, diz Marengo à DW.
Durante a última temporada do fenômeno, provocado pelo resfriamento do Pacífico Equatorial, a temperatura média da Terra continuou subindo, mas em ritmo menor. No fim de 2023, a Organização Meteorológica Mundial divulgou que o termômetro médio da Terra marcou naquele ano 1,45°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900).
"Não vamos passar por um resfriamento global com o La Niña. Teremos um pequeno alívio nestas ondas de calor. Com o La Niña, não sabemos se o aquecimento vai continuar nos outros oceanos, como aconteceu com Atlântico e Índico nesse El Niño. Podemos aguardar uma pequena atenuação, mas o mundo continua aquecendo”, afirma Marengo.
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