Aguarde. Carregando informações.
MENU

Sábado, 23 de novembro de 2024

Meio ambiente

Incêndios disparam no Pantanal, que já registra seca recorde no rio Paraguai

Incêndios disparam no Pantanal, que já registra seca recorde no rio Paraguai

(Imagem: Guilherme Giovanni - @guilhermepantanal/ Reprodução)

No decorrer do ano, o Pantanal atravessa dois períodos: o do fogo e o da água. Neste ano, a temporada das chamas, que começaria em julho, chegou mais cedo e com força: em Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, os focos de incêndio nos seis primeiros meses de 2024 aumentaram 1025% se comparados ao mesmo período de 2023. Enquanto isso, o rio Paraguai, que é principal bacia do bioma, já registra seca recorde: está mais de 2 metros abaixo da média.

Em Mato Grosso do Sul (onde está 60% do Pantanal no Brasil) foram registrados 698 focos, entre janeiro e junho de 2024. No ano passado, foram 62 no mesmo período. Em Mato Grosso (onde fica 40% do bioma), foram 495 focos de incêndio em 2024, contra 44 em 2023. Somando os números dos dois estados, foram:

  •  2024: 1193 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 7 de junho;
  •  2023: 106 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 7 de junho.
 

Os dados são do Programa de BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e também revelam que, em 2024, o Pantanal já tem o 2º maior índice de incêndios desde 2010, atrás apenas de 2020, quando o fogo consumiu cerca de 4 milhões de hectares -- o equivalente a cerca de 26% do bioma (veja o gráfico abaixo):

Especialistas explicam que o período das chamas no Pantanal, que seria entre os meses de julho e agosto, pode durar até seis meses. Porém, neste ano, o fogo chegou mais cedo, e a seca também.

Em Corumbá, uma das principais cidades do Pantanal sul-mato-grossense, praticamente não chove há mais de 50 dias, de acordo com meteorologistas da região. Com os incêndios florestais e a baixa umidade do ar, uma densa fumaça se concentra sobre a cidade.

Na última semana, devido ao risco da aproximação do fogo e pela forte nuvem de fumaça que cercava o local, crianças tiveram que ser evacuadas de uma escola ribeirinha do município, e as aulas foram suspensas por 10 dias.

Fogo se espalha pelo Pantanal de Mato Grosso do Sul. — Foto: CBMMS/Reprodução

Fogo se espalha pelo Pantanal de Mato Grosso do Sul. — Foto: CBMMS/Reprodução

O Corpo de Bombeiros, que deflagrou a Operação Pantanal desde abril, afirmou no último dia 4 que equipes conseguiram conter o fogo em três parques estaduais na região: Pantanal do Rio Negro (Pantanal); Nascentes do Taquari (Cerrado); e Várzeas do Rio Ivinhema (Mata Atlântica).

Uma aeronave do governo do estado é usada para identificar e direcionar o combate às chamas.

Rio Paraguai com seca recorde

 
Rio Paraguai é a principal bacia do Pantanal  — Foto: TV Morena/Reprodução

Rio Paraguai é a principal bacia do Pantanal — Foto: TV Morena/Reprodução

A falta de chuva tem afetado a principal bacia do bioma, o Rio Paraguai, que abrange 48% do estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do Sul.

Segundo levantamentos do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o nível do rio em Ladário - cidade vizinha à Corumbá - tem registrado quedas ou estabilidade na medição há cerca de um mês.

O órgão aponta que, para este período, a média histórica do nível do rio em Ladário era de 3,85 metros. Na última sexta (7), a régua de Ladário marcava 1,38 cm. Ou seja, o rio Paraguai estava 2 metros e 47 cm abaixo do esperado. Confira o gráfico abaixo:

O pesquisador em Geociências da SGB Marcus Suassuna explica que o nível baixo do rio se dá pelo prolongamento do período seco de 2023 e também pelas poucas chuvas em 2024.

O que está acontecendo hoje é resultado de um processo que começou no final de 2023. Ano passado, o El Niño forte fez com que o final do período seco se prolongasse. No começo deste ano, os níveis estavam muito baixos, e a estação chuvosa foi toda muito fraca. Não estamos numa situação de escassez, o que está acontecendo é a antecipação, considerável, de um problema mais grave que pode ocorrer de seca entre setembro e outubro.

O Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) apresentou um balanço relacionado ao acumulado das chuvas no estado, durante maio deste ano. O panorama não foi nada animador.

A pasta vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) observou que o cenário de chuvas está muito abaixo da média histórica, com valores de precipitações acumuladas entre 0 e 30 milímetros.

Na análise do número de dias com chuvas abaixo de 1 mm, foi constatado que grande parte dos municípios apresentaram mais de 25 dias sem ocorrência de chuvas ao longo de maio. As previsões para junho seguem na mesma esteira de seca e umidade baixa, o que expõe o solo facilmente ao fogo.

Queimadas e seca no Pantanal — Foto: Arte/g1

Queimadas e seca no Pantanal — Foto: Arte/g1

Situação crítica de escassez, alerta órgão

 

Em 13 de maio deste ano, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou “situação crítica de escassez” na bacia do rio Paraguai. A decisão, válida até outubro, foi embasada diante do cenário crítico e da queda drástica do nível d’água do rio, por toda extensão.

O comunicado da ANA apontou que “o nível d’água do rio Paraguai em abril de deste ano atingiu o pior valor histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal, sendo que o cenário de escassez ocorre desde o início deste ano na Região Hidrográfica do Paraguai”.

Além das perdas para o meio ambiente, a escassez do rio já afeta outros setores da sociedade. A ANA elencou os problemas ocasionados com o baixo nível:

  • Impactos aos usos da água, sobretudo em captações para abastecimento de água – especialmente em Cuiabá (MT) e Corumbá (MS);
  • Impedimento na navegação;
  • Baixos aproveitamentos hidrelétricos a fio d’água (neles, as vazões que chegam são praticamente iguais às que saem dos reservatórios);
  • Complicação para atividades de pesca, turismo e lazer.
 

A resolução da ANA sobre a escassez no rio Paraguai tem vigência até 31 de outubro, quando está previsto o fim do período seco na bacia, mas a medida pode ser prorrogada.
 

Incêndios de 2024 acumulam piores números desde 2020

 

O WWF (World Wildlife Fund) levantou um alerta para a escalada no número de focos de incêndio neste ano. Segundo a ONG, os dados de 2024 são os piores desde 2020, quando o Pantanal sofreu com o maior período de incêndio já registrado.

De acordo com o monitoramento feito pelo Inpe, 2020 foi o ano que teve mais registros de fogo no Pantanal desde o fim da década de 1990.

Um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que, naquele ano, ao menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal.

Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que, se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe.
— Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil

Emergência ambiental

 

Mato Grosso do Sul e Mato Grosso já estão em situação de seca, segundo apontou relatório da ANA. Desde abril deste ano, a União incluiu o Pantanal em risco ambiental.

Pela portaria, consta que há declaração de emergência de março a outubro para as regiões centro-norte e leste de Mato Grosso do Sul; de maio a dezembro, para o Pantanal e no sudoeste do estado.

Também em abril, o governo de Mato Grosso do Sul assinou decreto de "Estado de Emergência Ambiental". A medida foi tomada levando em consideração as mudanças climáticas que afetam todo o mundo e para precaver a temporada de queimadas no estado neste ano.

Com o decreto, foram definidas as seguintes medidas:

  • Apenas o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) é licenciado a realizar queima controlada. Antes, a medida era realizada por ONGs, fazendeiros e até mesmo moradores tradicionais nas regiões de Cerrado e Pantanal;
  • atividade de queima prescrita preventiva deverá seguir as rotinas estabelecidas pelo Centro Integrado de Coordenação Estadual;
  • Em razão da emergência, fica autorizada a adoção de medidas visando à contratação, por prazo determinado, de pessoal para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público.
 

No mesmo mês, os governos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e governo federal assinaram um termo de cooperação e defesa, proteção e desenvolvimento sustentável do Pantanal.

Na ocasião, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, sugeriu que o próximo passo seria elaborar um pacto pelo Pantanal. “Além dos governadores, envolvendo também os prefeitos, como a gente já fez com a Amazônia”.

O desmatamento no Pantanal, cuja trajetória é marcada por altos e baixos, teve queda de 9% entre agosto de 2022 e julho de 2023, segundo o último relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). Na Amazônia, a redução foi bem maior, de 21%.

*G1