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Sábado, 23 de novembro de 2024

Meio ambiente

Incêndios em agosto devastaram vegetação nativa na maior parte de Amazônia, Cerrado e Pantanal

Incêndios em agosto devastaram vegetação nativa na maior parte de Amazônia, Cerrado e Pantanal

(Imagem: Araquém Alcântara / WWF-Brazil - Arquivo)

Principais biomas do Brasil, Amazônia, Cerrado e Pantanal foram impactados pelas queimadas durante o mês de agosto, com a maior parte dos focos de incêndio concentrados em áreas de vegetação nativa. De acordo com o Sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 53% dos incêndios registrados na Amazônia, 67% no Cerrado e 89% no Pantanal ocorreram em ecossistemas naturais, ou seja, em áreas de floresta primária com grande biodiversidade.

 

O Pantanal foi o bioma mais afetado, com quase todos os incêndios atingindo áreas de vegetação nativa. No Cerrado, além dos 67% de focos em vegetação primária, apenas 3% ocorreram em áreas desmatadas recentemente. Na Amazônia, além de 53% dos incêndios terem sido em áreas nativas, 13% afetaram áreas desmatadas anteriormente.

Diretora de Estratégia do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, destaca que as queimadas podem estar sendo utilizadas para degradar ainda mais a floresta, facilitando a remoção de árvores e a conversão dessas áreas para outros usos.

“A maioria dos focos de calor registrados na Amazônia em agosto ocorreu em áreas de vegetação nativa, mostrando um padrão preocupante de degradação ambiental que pode estar associado ao desmatamento futuro”, afirma Napolitano. “Com a combinação de mudanças climáticas e degradação ambiental, o uso criminoso do fogo cria um cenário favorável para conversões de áreas florestais, o que pode impactar os mapeamentos de devastação em breve”, completa.

A Amazônia enfrentou um recorde de 38.266 focos de queimadas em agosto, o maior número registrado para o mês desde 2010. Isso gerou uma enorme nuvem de fumaça que se espalhou por 11 estados brasileiros. Segundo especialistas, o fogo também ameaça as comunidades locais, tanto em termos de saúde quanto em segurança alimentar, principalmente aquelas dependentes da pesca.

Risco de ponto de não-retorno na Amazônia

De acordo com Napolitano, a situação na Amazônia aproxima-se de um ponto crítico, onde a floresta pode chegar a um “ponto de não-retorno”, em que não seria mais capaz de se regenerar e se transformaria em um ecossistema mais degradado e seco.

“A destruição da Amazônia representa um risco elevado para o Brasil e o planeta, já que a floresta é fundamental para o equilíbrio climático e a biodiversidade”, alertou a especialista.

Desmatamento em queda, mas queimadas aumentam

Apesar do aumento das queimadas, o desmatamento na Amazônia apresentou uma queda de 11% em agosto, com 501 km² de floresta sendo destruídos, o segundo menor índice para o mês na série histórica. No entanto, as cicatrizes deixadas pelo fogo atingiram 4.417 km², um aumento de 500% em relação ao ano anterior.

Especialista em Conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva ressaltou que, embora o desmatamento tenha caído em algumas áreas, como no Pará e em Mato Grosso, que lideram a destruição da floresta, a situação ainda é preocupante. Ele defendeu a continuidade de medidas de fiscalização e o apoio aos povos indígenas e comunidades locais.

“Quanto mais destruirmos a natureza, menos chuva e rios abundantes teremos. Já vemos que neste ano a seca chegou mais cedo no bioma e isso não é um fato isolado. A Amazônia requer nossa atenção e medidas efetivas de preservação.”

Situação no Cerrado

No Cerrado, os dados do Inpe apontaram uma queda consecutiva no desmatamento nos últimos quatro meses. Em agosto, 388 km² de vegetação nativa foram destruídos, uma redução de 15% em relação ao mesmo mês de 2023. No entanto, Silva alertou que os níveis de desmatamento ainda são altos, com o bioma perdendo 7.015 km² entre agosto de 2023 e julho de 2024, número 11% superior ao registrado no ano anterior.

Os estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foram os mais afetados, concentrando 73% da destruição no Cerrado. Silva destacou que a expansão da soja coloca pressão sobre a vegetação nativa da região, agravando o cenário de degradação.

“O Cerrado, a savana mais biodiversa do mundo, continua sob intensa ameaça, e as medidas de preservação precisam ser fortalecidas para evitar a perda contínua de ecossistemas essenciais”, frisa Silva.

*R7