Sábado, 23 de novembro de 2024
Sábado, 23 de novembro de 2024
Na sexta-feira 17 de novembro, o mundo bateu um marco considerado preocupante no cenário climático: pela 1ª vez, a média global de temperatura ultrapassou os 2°C de anomalia e atingiu exatos 2,07°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). O valor provisório para o sábado (18) é 2,06°C.
Anomalia da temperatura registrada em 17 de novembro passou pela primeira vez dos 2°C. — Foto: Arte/g1
Se a comparação for feita apenas com um período histórico mais recente, 1991 a 2020, a anomalia representa um aumento de 1,17°C em relação à média registrada. Os marcos históricos foram divulgados pela diretora adjunta do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus (C3S), Sam Burgess, e depois confirmados pelo próprio C3S.
O calor recorde ocorre em um ano marcado pela forte ação do fenômeno El Niño e pela intensificação de efeitos das mudanças climáticas provocadas pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os GEE são resultado de atividades humanas, como a utilização de combustíveis fósseis ou as queimadas de áreas florestais.
Os dados sinalizam uma tendência alarmante no panorama global. O pesquisador Carlos Nobre, referência internacional nos efeitos das mudanças climáticas, explica que o fenômeno El Niño faz com que o calor seja maior no verão e o inverno seja menos rigoroso, com mudança na distribuição das chuvas.
Em 2016, quando também houve El Niño, o mundo também bateu recordes de calor, mas a anomalia da temperatura foi de 0,94°C -- quase metade do que foi verificado agora. Para Carlos Nobre, o número é resultado da maior emissão de gases do efeito estufa.
"Para entender esse recorde, a gente olha para as emissões de carbono. Em 2022 tivemos um recorde de emissões e as estimativas mostram que 2023 vai bater esse recorde. Quando vemos isso, percebemos que a alta era o esperado", explica.
Na mesma direção, Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe especialista em emissão de carbono, afirma que a principal conclusão a partir destes dados é que os aumentos de temperatura e o aumento dos eventos extremos estão mais acelerados do que os modelos previam.
Em entrevista ao g1, a divulgadora científica Karina Bruno Lima, doutoranda em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a medição não representa o dia mais quente registrado pelo Copernicus, sendo esse recorde estabelecido em julho deste ano.
Lima ressaltou a importância de compreender que o destaque recai sobre a maior anomalia em comparação com a média pré-industrial para o período. "Como é a primeira vez que ficamos 2°C acima, é muito preocupante", afirmou.
A marca de temperatura de outubro se soma à lista de diversos recordes globais de calor deste ano:
Relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que a probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5°C é de apenas 14%. O dado consta em documento lançado dias antes da COP, a conferência do clima da ONU, que desta vez entra em sua 28ª edição e acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Outro relatório da ONU alerta que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) aumentaram 1,2% de 2021 a 2022, atingindo um novo recorde de 57,4 Gigatoneladas de Dióxido de Carbono Equivalente (GtCO2e).
O Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015, criou metas para que os países consigam manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC. Os países ricos devem garantir um financiamento de US$ 100 bilhões por ano, e os compromissos deverão ser revistos a cada 5 anos. Ou seja, em 2020 haverá uma nova reunião-chave internacional para calibrar as metas e garantir uma melhor preservação do planeta.
*G1