Domingo, 24 de novembro de 2024
Domingo, 24 de novembro de 2024
Uma nova mistura de maconha tem causado estragos no continente africano. Estima-se que a droga Kush mate cerca de 12 pessoas por semana, segundo o professor de ciência forense Michael Cole, da Universidade de Anglia Ruskin, do Reino Unido.
“Famosa entre os jovens de Serra Leoa, a droga faz as pessoas adormecerem enquanto caminham, assim elas caem, batem a cabeça e andam entre carros. São como zumbis quando estão sob os efeitos da Kush e, quando sóbrios, são capazes de fazer loucuras para sustentar o vício”, afirma Cole, em artigo publicado no site de divulgação científica The Conversation.
A Kush popular em Serra Leoa é diferente da droga de mesmo nome que é comum nos Estados Unidos. A versão americana é composta por uma série de produtos químicos em constante mudança. Já a africana é uma mistura de maconha, fentanil, tramadol, formaldeído e, segundo o professor, ossos humanos triturados.
Foto: Reprodução
Embora a cannabis seja amplamente cultivada em Serra Leoa, o fentanil provavelmente tem origem em laboratórios clandestinos na China, onde a droga é fabricada ilegalmente e enviada para a África Ocidental. O tramadol e o formaldeído têm fonte semelhante.
“Quanto aos restos mortais, não há uma resposta definitiva se eles estão de fato na composição da Kush. Algumas pessoas dizem que ladrões de túmulos fornecem os ossos, mas não há nenhuma evidência direta. Mas, por que os ossos seriam incorporados à droga?”, indaga Cole.
Segundo o professor, a teoria mais aceita diz que o teor de enxofre dos ossos causa uma euforia no usuário. Outra possível explicação é que os ossos seriam restos mortais de usuários da droga – os compostos fentanil e tramadol ainda estariam nos ossos do cadáver e potencializariam os efeitos.
Além de Serra Leoa, o consumo da Kush foi reportado tanto na Guiné quanto na Libéria. Um cigarro da droga custa cerca de cinco leones (moeda de Serra Leoa), o que equivale a menos de um centavo de real. Estima-se que duas a três pessoas podem consumir o mesmo cigarro.
“A droga é mais famosa entre jovens de 18 a 25 anos de idade e, aparentemente, cada um usa cerca de 40 cigarros por dia. Isso representa um gasto enorme em drogas e ilustra a natureza viciante da mistura em um país onde o rendimento anual per capita ronda os 12 mil leones (cerca de R$ 3 mil)”, afirma Cole.
O cientista forense destaca a ineficácia da legislação em proibir o tráfico de Kush. O professor criticou ainda a limitação dos centros de reabilitação, pois boa parte dos usuários retornam ao vício quando saem.
“Talvez o necessário seja um sistema integrado de cuidados de saúde onde o controle legislativo seja apoiado por centros de reabilitação com recursos adequados, junto a um programa de saúde pública e de emprego. Ainda não se sabe que mudanças serão feitas em resposta a esta epidemia”, afirma Cole.
*Metrópoles