Terça-Feira, 01 de abril de 2025
Terça-Feira, 01 de abril de 2025
Mianmar foi devastado na sexta-feira (28) por um terremoto de magnitude 7,7 — o desastre natural mais mortal da sua história. Mais de 1,7 mil pessoas morreram, 3,4 mil ficaram feridas e mais de 300 estão desaparecidas, de acordo com dados da mídia estatal atualizados até este domingo (30).
Os fortes tremores também atingiram a Tailândia. Na capital Bangkok, um arranha-céu em construção desabou, deixando 18 mortos. Autoridades tailandesas fazem buscas no local por 76 pessoas soterradas.
Governado por uma junta militar desde 2021, Mianmar enfrenta atualmente uma guerra civil contra os militares no poder e o isolamento internacional. Além disso, o país tem 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo o Banco Mundial.
Apesar dos esforços internos e da ajuda externa que o país tem recebido, a destruição causada pelo terremoto dificulta ainda mais o trabalho de resgate. Um exemplo são os aeroportos danificados pelos tremores. Em Naypyitaw, capital do país, o terremoto derrubou a torre de controle do aeroporto, conforme a Associated Press (AP).
Diante das dificuldades no trabalho de resgate, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) emitiu um alerta vermelho, estimando que os tremores podem ter deixado mais de 10 mil pessoas mortas.
Sobreviventes em Mandalay, a segunda maior cidade de Mianmar, escavaram os escombros com as próprias mãos na sexta-feira, em tentativas desesperadas de salvar os que ainda estavam presos enquanto o maquinário e as autoridades não chegavam ao local.
Em Mianmar, os esforços de resgate até agora estão focados nas principais cidades atingidas: Mandalay, a segunda maior cidade do país, e Naypyitaw, a capital. Mandalay, antiga capital real e centro do budismo do país, é um dos locais mais afetados pelo terremoto.
Antes mesmo do desastre natural, o país já sofria com infraestrutura precária e um sistema de saúde debilitado por anos de guerra civil.
O terremoto aconteceu na sexta-feira ao meio-dia — madrugada pelo horário de Brasília —, com o epicentro não muito distante de Mandalay, seguido por vários abalos de menor intensidade. Os tremores derrubaram edifícios, destruíram estradas e provocaram o colapso de pontes.
Em Naypyitaw, equipes trabalharam no sábado (29) para reparar as estradas danificadas, enquanto os serviços de eletricidade, telefone e internet permaneciam fora de operação na maior parte da cidade.
De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), houve graves danos ou destruição completa de muitas instalações de saúde.
Uma imagem de satélite mostra a Ponte Inwa, que desabou após um terremoto, em Mandalay, Mianmar, em 29 de março de 2025 — Foto: Maxar Technologies/Divulgação via Reuters
A organização alertou para uma "grave escassez de suprimentos médicos que está dificultando os esforços de resposta, incluindo kits de trauma, bolsas de sangue, anestésicos, dispositivos auxiliares, medicamentos essenciais e tendas para profissionais de saúde".
Embora equipes e suprimentos estejam sendo enviados de outras nações, outro complicador tem sido a situação dos aeroportos. Fotos de satélite do Planet Labs PBC analisadas pela Associated Press mostram que o terremoto derrubou a torre de controle de tráfego aéreo no Aeroporto Internacional de Naypyitaw.
Imagens capturadas no Aeroporto Internacional de Mandalay mostraram centenas de pessoas em pânico na pista durante os fortes tremores . Dentro do terminal, passageiros corriam desesperados para fora de um saguão gravemente danificado.
Uma análise do governo dos Estados Unidos estima que pode haver milhares de mortes e graves perdas econômicas. "No geral, a população desta região reside em estruturas vulneráveis a tremores de terra".
Resgatistas carregam o corpo de uma vítima, após um forte terremoto, em Mandalay, Mianmar, em 30 de março de 2025 — Foto: Reuters
Em algumas das áreas mais atingidas do país, moradores disseram à agência de notícias Reuters que a assistência do governo era escassa até agora, deixando as pessoas à própria sorte. Toda a cidade de Sagaing, perto do epicentro do terremoto, foi devastada, disse o morador Han Zin.
"O que estamos vendo aqui é uma destruição generalizada - muitos edifícios desabaram no chão", disse ele por telefone, acrescentando que grande parte da cidade estava sem eletricidade desde o desastre e que a água potável estava acabando. "Não recebemos ajuda e não há equipes de resgate à vista."
Do outro lado do rio Irrawaddy, em Mandalay, uma equipe de resgate disse que a maioria das operações estava sendo conduzida por pequenos grupos de residentes auto-organizados que não possuem o equipamento necessário.
"Estamos nos aproximando de prédios desmoronados, mas algumas estruturas permanecem instáveis enquanto trabalhamos", disse ele, pedindo para não ser identificado por questões de segurança.
A junta militar que governa Mianmar decretou estado de emergência em seis regiões, incluindo Sagaing, Mandalay e a capital, informou a mídia estatal. A junta foi estabelecida após golpe de Estado em 2021 (relembre o episódio) e detém o controle sobre rádio, televisão e jornais. O acesso à internet também é limitado na região.
Em um movimento raro, a junta militar pediu doações a qualquer país ou organização que queira contribuir com as ações de resgate. Em um pronunciamento na TV estatal, o porta-voz também pediu materiais médicos para as vítimas.
Os vizinhos de Mianmar já enviaram equipes de resgate e materiais de ajuda. A China e a Rússia são os maiores fornecedores de armas para o exército de Mianmar e foram alguns dos primeiros a oferecer ajuda humanitária.
Pessoas observam enquanto as operações de busca e resgate continuam após um forte terremoto, em Mandalay, Mianmar, em 29 de março de 2025 — Foto: Reuters
A China disse que enviou mais de 135 equipes de resgate e especialistas, além de suprimentos como kits médicos e geradores, e prometeu cerca de US$ 14 milhões em ajuda emergencial. A Rússia mandou 120 equipes médicos, socorristas e suprimentos.
Índia, Coreia do Sul, Malásia e Cingapura estão enviando ajuda, assim como os Estados Unidos, cuja colaboração foi confirmada pelo presidente Donald Trump. A União Europeia também prometeu apoio.
António Guterres, chefe da ONU, informou que as Nações Unidas estão mobilizadas após o terremoto. Um relatório do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários apontou a alocação de US$ 5 milhões do Fundo Central de Resposta a Emergências para ações de socorro imediato.
As medidas imediatas incluem um comboio de 17 caminhões de carga transportando suprimentos essenciais e médicos da China, que devem chegar neste domingo, segundo o relatório.
Líder militar do Mianmar, General Sêniior Min Aung Hlaing, no centro, inspeciona uma estrada danificada por conta do terremoto. — Foto: Equipe de Informações Militares de Mianmar via AP
Outra complicação importante é a guerra civil que afeta grande parte de Mianmar, incluindo as áreas atingidas pelo terremoto. As forças do governo, composto por uma junta militar, perderam o controle de grande parte do país, e muitos lugares são extremamente perigosos ou simplesmente impossíveis de serem alcançados por grupos de ajuda.
Ainda antes do terremoto, mais de 3 milhões de pessoas foram deslocadas pelo conflito e quase 20 milhões estão necessitando de ajuda, segundo as Nações Unidas.
Desde que a junta tomou o poder, as antigas autoridades do país, depostas no golpe, formaram um governo paralelo, o Governo de Unidade Nacional. Este "governo paralelo" também diz ajudar nos resgates.
Na noite de sábado (29), a luta popular contra os militares no poder anunciou um cessar-fogo para facilitar os esforços de socorro e resgate aos atingidos pelo terremoto a partir deste domingo. A organização de resistência afirmou que se reserva o direito de reagir em defesa, caso seja atacada.
*G1