Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
O governo brasileiro declarou que pretende manter a relação histórica que tem com a Argentina, que é o principal parceiro comercial do país na América do Sul.
O resultado oficial nem havia saído. O presidente Lula se manifestou numa rede social logo após o discurso do oponente derrotado. Sem citar o nome do eleito, Javier Milei, Lula desejou boa sorte ao novo governo da Argentina e fez elogios às instituições e à democracia.
"A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica. Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", escreveu Lula.
Também em uma rede social, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, escreveu:
"Felicito o recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, a quem desejo uma administração profícua para o povo argentino, que o escolheu de maneira democrática e republicana".
O presidente da Câmara, Arthur Lira, disse:
"Parabéns ao presidente eleito da Argentina, Javier Milei, e à Argentina pela escolha democrática do novo mandatário do país. A Câmara dos Deputados continuará trabalhando para estreitar ainda mais as relações comerciais, políticas e culturais entre as duas nações".
Lula ainda não telefonou para Milei, segundo o ministro da Secretaria de Comunicação Social do Planalto, Paulo Pimenta. O Ministério das Relações Exteriores não divulgou nota oficial sobre a eleição. O embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, disse que já viu sinais de moderação no governo eleito e que o Brasil espera gestos concretos de interesse em uma relação pacífica.
"As pontes estão estendidas, estão funcionando, e a nossa ideia é aprofundar esse diálogo para encontrar maneiras de trabalharmos juntos. É claro que nós esperamos também, de parte dos argentinos e do novo governo, gestos até públicos que um pouco mostrem a diferença entre o que foi uma retórica de campanha e o que nós esperamos ser agora uma retórica já de trabalho entre governos de países que têm muitas coisas em comum", diz o embaixador.
O relacionamento é estratégico, politica e economicamente falando. De janeiro a outubro de 2023, o Brasil exportou quase US$ 15 bilhões para a Argentina - soja e peças de carro, por exemplo. E importou US$ 10 bilhões em produtos como veículos e trigo. É o quarto maior vendedor do Brasil.
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tinha dito que estava preocupado com o discurso de ruptura com o Brasil usado por Milei na campanha, nesta segunda-feira (20), evitou comentar.
"O presidente Lula demonstrou apreço pela democracia, que o nosso continente tem que fortalecer a democracia. E é aguardar os acontecimentos, agora não há muito o que comentar", disse Haddad.
Ao longo da campanha, Javier Milei disse que quer tirar a Argentina do Mercosul. Em entrevista à GloboNews, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, disse que o Brasil lamentaria qualquer decisão nesse sentido, mas acha que os empresários argentinos certamente serão contra essa hipótese.
Segundo Amorim, a prioridade agora é finalizar o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia. O Brasil ocupa a presidência do Mercosul até o dia 7 de setembro. Nesta segunda, segundo o Palácio do Planalto, Lula conversou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, sobre o andamento da negociação.
O governo Lula sinalizou que deve prevalecer o pragmatismo na relação com o novo governo argentino. Celso Amorim disse que Lula não deve ir à posse de Milei, em dezembro. Mas que a diferença ideológica não vai ser um impedimento na relação entre os dois países.
"Claro que facilita quando você tem afinidade, não há menor dúvida. Ninguém vai ignorar isso. Mas, do nosso lado, nós não vamos deixar que, digamos, simpatias pessoais ou o oposto afetem o nosso relacionamento de Estado com a Argentina. Eu só posso falar sobre as expectativas. A expectativa é que o pragmatismo prevaleça", diz Amorim.
*G1/Jornal Nacional