Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vai ter que explicar a interrupção do ciclo de cortes da taxa básica de juros às comissões de Desenvolvimento Econômico e Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. O requerimento de convite ao chefe do BC foi aprovado antes do recesso parlamentar, e a oitiva de Campos Neto em uma audiência pública foi marcada para o dia 13 de agosto. Em junho, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a Selic em 10,5% ao ano, o que suspendeu a sequência de redução da taxa.
Dois requerimentos direcionados a Campos Neto foram apresentados nas comissões. Um deles, do deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA), menciona que o “elevado nível da taxa de juros mantém o cenário de diminuição da concessão de crédito doméstico, acarretando a continuidade da desaceleração econômica no país”. O deputado também pede que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seja convidado. No entanto, Haddad ainda não está confirmado para a audiência pública.
O outro requerimento, de autoria do deputado Mário Negromonte (PP-BA), convida o presidente do Banco Central a esclarecer a política monetária e cambial do país, além da fiscalização do sistema financeiro nacional.
Segundo o deputado, o objetivo é avaliar o cumprimento das metas das políticas monetária, creditícia e cambial, destacando o impacto e o custo fiscal de suas operações, bem como os resultados demonstrados nos balanços.
Interrupção na sequência de cortes nos juros
Na reunião do início de maio, o Copom reduziu a taxa pela sétima vez consecutiva, para 10,5% ao ano. Entretanto, a velocidade dos cortes diminuiu. De agosto de 2023 a março de 2024, o comitê reduziu, a cada reunião, os juros básicos em 0,5 ponto percentual. Já na reunião de maio, a redução foi de 0,25 ponto percentual.
A decisão do Copom ocorreu um dia após as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chefe do Banco Central. Em entrevista a uma rádio, o petista afirmou que o presidente do BC não demonstra “autonomia”, tem “lado político” e trabalha para “prejudicar” o país.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou.
Histórico recente
De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, em um ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano, por sete vezes seguidas. Com o controle dos preços, o BC passou a realizar os cortes na Selic.
Entenda a Selic
A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.
A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.
*R7