Domingo, 24 de novembro de 2024
Domingo, 24 de novembro de 2024
Quando as urnas se fecharem neste domingo, 6 de outubro, o Brasil poderá se ver diante de um novo quadro político-eleitoral. As pesquisas indicam um cenário de refragmentação do que se convencionou chamar de direita no país em grandes colégios eleitorais, num patamar inédito desde 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) estraçalhou a polarização PT x PSDB que dominava o país desde os anos 1990.
A eleição municipal deste 2024 evidenciou uma série de fenônemos:
Voltemos à análise a partir deste ponto: Lula decidiu manter uma atitude apática diante da eleição municipal, dando prioridade a agendas externas. Mesmo aquele que recebeu sua maior atenção, Guilherme Boulos (PSOL), candidato em São Paulo, amargou a falta da presença do petista, em especial nas periferias da cidade.
Bolsonaro aderiu a uma dinâmica cautelosa. O capitão não quis ficar à frente de uma nau que pudesse naufragar. Observou movimentos de arrivistas do discurso "antissistema 2.0" quase que à distância, com intervenções pontuais, sem partir para o tudo ou nada.
Em São Paulo, eleição que monopolizou boa parte da atenção da imprensa nacional, a fragmentação da direita ganhou contornos incisivos. De um lado, o bolsonarismo institucional – governo do Estado, pastores e partido, o PL– travaram uma batalha para convencer o eleitor do ex-presidente de que Ricardo Nunes (MDB) poderia, à sua forma, ser uma espécie de Tarcísio de Freitas (Republicanos): leal a Bolsonaro e aos preceitos que encantam seu eleitorado, mas temperado com técnica de gestão e equilíbrio emocional.
Mas esse grupo, que incorpora a face institucional do grupo de Bolsonaro, deu de frente com o personagem desrruptivo desta eleição: Pablo Marçal (PRTB). Um vendedor de sonhos.
Marçal literalmente fez fama e fortuna convencendo pessoas de que ele, vindo de Goiás, com família simples, prosperou com técnicas de organização de pensamento e ação. Técnicas que poderiam levar qualquer um ao posto que ele ocupa – e exibe: milionário, com casas, carros, aeronaves e uma extensa lista de livros, vídeos e seguidores.
O ex-coach parece ter percebido que havia uma sede não contemplada na franja radical da direita. E bateu tudo o que deu status ao grupo de Bolsonaro num liquidificador junto com pitadas de coisas que se mostraram eficientes na última década entre os eleitores de direita e centro-direita.
A ver: o discurso de "não sou político, sou gestor" remonta a João Doria; o de "eu sou um de vocês, um cidadão indignado" arremata a narrativa antissistema; a narrativa agressiva e antimídia nas redes, já testada por Bolsonaro, foi elevada a nova potência.
Por fim, Marçal tomou a discurso das igrejas sem cobrar dízimo. Prega "jejum de crime", diz que seu "coração queima, arde algo novo", que quer "abençoar a periferia" com um teleférico e que vê a candidatuta não como algo que ele deseja, mas como uma "missão de Deus".
O sumo carregado dessa combinação foi forte o suficiente para rachar o que, antes, de maneira incorreta e monolítica, aparentemente, se chamava bolsonarismo. A ver o resultado desta divisão.
Para o que se convenciona chamar esquerda, ou campo progressista, o resultado das eleições municipais promete ser decepcionante. A expectativa, apesar da atração despertada na imprensa pelos candidatos associados a Lula ou Bolsonaro, é a de que o bom e velho centrão – PSD, MDB, União Brasil e PP – passe o rodo na maioria das cidades do país.
A eleição de 2024 pode, portanto, impor um "novo normal" a um país que ainda estava tentando decifrar sua recente formatação política. Bom voto.