Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou nesta quarta-feira (24) como "estarrecedores" dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre insegurança alimentar no mundo. Ele também disse que a fome é uma consequência de "escolhas políticas".
O petista participou de um evento do G20, no Rio de Janeiro, para estabelecimento de uma Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
Relatório da ONU afirma que, em todo o planeta, 733,4 milhões de pessoas passaram fome em 2023 por pelo menos um dia. O número corresponde a 1 em cada 11 habitantes mundo afora. No continente africano, a proporção mais que dobra: 1 em cada 5 cidadãos passou fome em 2023.
Considerando também a insegurança alimentar moderada – ou seja, a dificuldade em conseguir alimentos em quantidade e qualidade adequadas –, 2,33 bilhões de pessoas foram afetadas em todo o mundo.
"Os dados divulgados hoje pela FAO sobre o estado da insegurança alimentar no mundo são estarrecedores. A pobreza extrema aumentou pela primeira vez em décadas. O número de pessoas passando fome ao redor do planeta aumentou em mais de 152 milhões desde 2019. Isso significa que 9% da população mundial (733 milhões de pessoas) estão subnutridas", disse Lula.
"O problema é especialmente grave na África e na Ásia, mas ele também persiste em partes da América Latina. Mesmo nos países ricos, aumenta o apartheid nutricional, com a pobreza alimentar e a epidemia de obesidade", completou o petista.
Ao final da fala no G20, o presidente se emocionou ao afirmar que concentração de renda "simboliza miséria, prostituição, analfabetismo, empobrecimento e fome". E disse que os governantes devem olhar para pessoas que são invisibilizadas pela desigualdade social.
Durante pronunciamento, Lula também afirmou que o Brasil sairá do chamado "Mapa da Fome" até o fim do seu terceiro mandato, no final de 2026.
Segundo relatório da ONU, o Brasil continua no Mapa da Fome – de onde tinha saído em 2014, e para onde voltou em 2019.
No discurso, o petista ressaltou ainda que o mundo produz alimentos em quantidade suficiente para erradicar o problema.
"A fome não resulta apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficiente para erradicá-la. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos", disse o presidente.
Lula voltou a criticar gastos com armamentos e guerras no mundo. "Enquanto isso, os gastos com armamentos subiram 7% no último ano, chegando a 2,4 trilhões de dólares. Inverter essa lógica é um imperativo moral, de justiça social, mas também essencial para o desenvolvimento sustentável", acrescentou.
No discurso, o presidente brasileiro repetiu a defesa de mudanças nos organismos internacionais, a exemplo da ONU, e da forma como os países africanos pagam suas dívidas. O petista aborda esses temas em agendas no exterior.
Lula explicou que a aliança será gerida a partir de um secretariado que nas sedes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em Roma e em Brasília. O presidente declarou que metade dos custos serão cobertos pelo Brasil.
"Sua estrutura será pequena, eficiente e provisória, formada por pessoal especializado e funcionará até 2030, quando será desativada", disse.
Lula também afirmou que espera encontrar os representantes dos países do G20 e de organismos internacionais na cúpula do bloco que será realizada em novembro no Rio de Janeiro, quando será lançada oficialmente a Aliança Global com o anúncio dos membros fundadores.
O ministro da Fazenda, Fernando Hadadd, durante evento do g20, no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/Canal Gov
No evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou a defesa do projeto de ampliar a cobrança de impostos das pessoas mais ricas.
Para Haddad, taxar aqueles que ele chama de "super-ricos" é uma forma justa de captar recursos para combater à fome e à pobreza.
"A fome e a pobreza não são fatalidades ou produto de condições imutáveis. A comunidade internacional tem todas as condições para garantir a cada ser humano neste planeta uma existência digna. O que tem faltado é vontade política", disse Haddad.
O ministro explicou que a aliança pretende conectar fundos já existentes no mundo para garantir um trabalho mais efetivo e coordenado na área. Haddad ainda destacou que combater à desigualdade tem reflexos positivos na economia.
"Incluir o pobre no orçamento é um ótimo investimento em termos econômicos e sociais", afirmou o ministro.
No discurso, o presidente Lula também defendeu a taxação de grandes fortunas e destacou que a riqueza de bilionários passou de 4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas décadas.
"Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora. Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global fortalecendo iniciativas existentes e incluindo os bilionários", disse.
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, citou que a pobreza extrema voltou a aumentar no mundo a partir de 2019 e não ainda retomou a trajetória de queda mesmo após o término da pandemia de Covid-19.
*G1