Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
O Palácio do Planalto vê com preocupação o avanço da extrema direita nas eleições para o Parlamento da União Europeia, e busca uma aproximação com o Centrão, na tentativa de aliviar o peso do uso político do resultado no velho continente na busca por uma frente ampla no Congresso.
O clima na Esplanada esfriou após a divulgação dos resultados parciais das eleições para o Parlamento da União Europeia (UE), nesta segunda-feira (10), que confirmam uma guinada à direta da Casa, braço legislativo do principal bloco econômico do mundo.
As siglas da extrema direita, lideradas pela francesa Marine Le Pen e pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, ampliaram seu espaço, passando de 16,7% para 18,1% de representação no parlamento europeu. Tomaram espaço das siglas ambientalistas. A maioria do parlamento continuará sendo de direita e centro-direita.
Segundo fontes do Executivo, a percepção do governo brasileiro é que a tarefa política primordial neste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é conseguir, de fato, construir uma frente ampla para isolar o Bolsonarismo, objetivo que tem se demonstrado difícil de realizar na prática.
Para além da eleição do Poder Legislativo mais conservador desde a redemocratização, a centralização da atuação dos ministros em torno do presidente Lula e erros na própria articulação política do governo têm dificultado o processo, segundo a avaliação de especialistas.
Dentro do Planalto, a leitura é que a eleição de Lula para este mandato foi um ponto fora da curva em um cenário global mais propenso à direita e ao conservadorismo.
Por isso, aliados do presidente entendem que é preciso fortalecer a frente ampla de partidos que permitiu a eleição e, assim, buscar isolar a extrema direita.
Só que esse movimento não é simples nem fácil. Há uma avaliação de que a extrema direita é muito resiliente, apesar de algumas derrotas que sofreu nos últimos meses. Uma das fontes dessa resiliência é a familiaridade em lidar com as redes sociais, área em que a esquerda ainda é mais analógica.
As eleições municipais também são outro fator de dificuldade para a frente ampla. Líderes do Congresso, como Pacheco e Lira, estão interessados em eleger aliados em seus redutos eleitorais, que são formados por um eleitorado que tende ao conservadorismo. Nesse sentido, esses líderes podem nem sempre estar ao lado do governo.
Por fim, há as emendas parlamentares. No passado, quando o governo controlava o pagamento desses recursos, tinha mais facilidade em fazer acordos com o Congresso. Hoje, o Congresso conquistou mais autonomia, com orçamento impositivo. Ou seja, grande parcela das emendas passou a ser de pagamento obrigatório, o que esvaziou o poder do Palácio do Planalto.
Nesse contexto, o governo avalia formas de construir pontes e fortalecer a esquerda e o centro contra a extrema direita.
Uma dessas estratégias é um reforma ministerial que contemple mais partidos do Centrão. Discute-se, por exemplo, que o Centrão deva ganhar uma pasta no Palácio do Planalto. Hoje, todos os ministérios palacianos são ocupados por políticos identificados com o PT e a esquerda.
Outra conclusão a que o governo está chegando é que não é mais possível pautar projetos sobre costumes progressistas no Congresso. Com isso, o governo deve focar na pauta econômica até o fim do mandato.
O governo também vem prometendo mais participação do presidente Lula nas negociações com o Congresso. Lula é considerado a estrela do governo, e a palavra dele tem mais peso que a de seus ministros. O Centrão e mesmo partidos da base querem mais a presença do presidente.
*G1