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Sábado, 20 de dezembro de 2025

Política

Suspeita de desvios e R$ 470 mil em armário: entenda a operação contra Sóstenes e Carlos Jordy

A Polícia Federal afirmou que os deputados e os assessores integraram organização com divisão clara de tarefas e 'objetivo claro e certo de ocultar/dissimular valores oriundos de infração penal'.

Suspeita de desvios e R$ 470 mil em armário: entenda a operação contra Sóstenes e Carlos Jordy

Deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do PL, são alvo de operação da PF por desvio de verba pública (Imagem: Jornal Nacional/ Reprodução)

Polícia Federal está investigando dois deputados do Partido Liberal: Carlos Jordy, do Rio de Janeiro, e Sóstenes Cavalcante, que é líder do PL na Câmara. Nesta sexta-feira (19), a PF fez uma operação com buscas e apreensões. A suspeita é de desvio de verba pública.

Em um apartamento usado pelo deputado Sóstenes Cavalcante, em Brasília, a Polícia Federal apreendeu quase R$ 470 mil em espécie dentro de um armário. Houve buscas em imóveis do deputado Carlos Jordy, também do PL, e de assessores dos dois parlamentares.

O ministro Flávio Dino, do STF, autorizou a operação após parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. Ele também autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos dois deputados.

Segundo as investigações, Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy são suspeitos de desviar dinheiro da cota parlamentar - dinheiro público usado para cobrir despesas do mandato, como passagens aéreas e aluguel de escritórios. Parte desse dinheiro, de acordo com a PF, estaria cobrindo despesas inexistentes com empresas de fachada, entre elas uma locadora de veículos, com uso de funcionários para simular contratos.

A Polícia Federal chegou aos dois deputados após analisar material apreendido em outra operação, no fim de 2024: troca de mensagens entre investigados e um relatório de inteligência financeira que demonstrou uma movimentação atípica de dinheiro por assessores deles e do PL – R$ 27 milhões. Segundo a PF, as verbas da cota parlamentar eram sacadas e depositadas de forma fracionada, em quantias de até R$ 9.999. Método conhecido como “smurfing”, uma técnica de lavagem de dinheiro utilizada para despistar a fiscalização da aplicação dos recursos pelas autoridades financeiras.

De acordo com as investigações, o assessor do PL, Adailton Oliveira Santos, recebeu e depois repassou mais de R$ 11 milhões sem identificação de origem ou destino. O relatório ressalta que o conjunto dessas movimentações - marcado por alto volume, repasses ágeis e utilização recorrente de meios eletrônicos de pagamento - mostra-se incompatível com a capacidade econômica do assessor. Em novembro, o salário dele foi de R$ 14 mil. Já o assessor de Jordy, Itamar de Souza Santana, movimentou, segundo a PF, quase R$ 6 milhões, grande parte sem identificação de origem ou destino. O salário dele é de R$ 16 mil.

Deputado Sóstenes Cavalcante, do PL — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Deputado Sóstenes Cavalcante, do PL — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

A PF afirmou que os deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy e os assessores integraram organização com divisão clara de tarefas e "objetivo claro e certo de ocultar/dissimular valores oriundos de infração penal".

Jordy disse, em uma rede social, que está sendo perseguido e negou irregularidades no contrato de aluguel de carros:

"É a mesma empresa que eu alugo carros desde o meu primeiro mandato. Eles dizem que chama a atenção o número de veículos dessa empresa, que aluga para vários outros deputados, inclusive. Dizendo que as outras empresas têm mais de 20 veículos na sua frota. E a Haruê Locação de Veículos tem apenas cinco veículos. Por isso seria uma empresa de fachada. Eu sei o que eles estão fazendo. Isso aqui é mais do que querer nos intimidar”.
 
Deputado Carlos Jordy, do PL — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Deputado Carlos Jordy, do PL — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Sóstenes também negou irregularidades. Disse que os R$ 470 mil apreendidos na casa dele são da venda de um imóvel em Minas Gerais que, segundo ele, foi declarado no Imposto de Renda. O deputado não apresentou documentos da venda e disse não ter certeza do dia em que fez o negócio:

"O imóvel me foi pago com dinheiro lícito, está lacrado, tem origem. Eu recebi recentemente dinheiro e, com essa correria de trabalho, acabei não fazendo o depósito. Mas eu faria. Inclusive, parte dele penso em fazer outros negócios, acabei não fazendo o depósito. Foi simplesmente um lapso. Ninguém pega dinheiro ilícito e bota em casa. Eu guardei dentro do guarda-roupa. Eu peguei o dinheiro, recebi e coloquei ali, simples isso”.
 

Questionado sobre a operação, o presidente da Câmara, Hugo Motta, do Republicanos, disse que o Supremo cumpre seu papel de investigar e que a Câmara não permitirá exageros. Os jornalistas só puderam gravar a entrevista em áudio:

"A Câmara não tem compromisso em estar protegendo aquilo que não é correto. A Câmara dos Deputados não tem essa função, muito menos o presidente. Quando a gente tem um colega que é alvo de qualquer ação do Judiciário, seja ela qual for, nós não ficamos felizes com isso. Nós respeitamos o trabalho do Supremo, não temos compromisso com quem não trabalha correto e vamos sempre acompanhar aqui na presidência da Câmara para que exageros não sejam cometidos”.
 

Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Adailton Oliveira Santos, Itamar de Souza Santana e com a locadora de veículos citada no relatório da Polícia Federal.

*G1/ Jornal Nacional