As pesquisas mais recentes sobre o Alzheimer estão mudando tudo o que se sabia sobre a doença. O que os cientistas imaginavam ser a causa, parece agora uma consequência de um processo que começa muito antes.
Em reportagem especial do Fantástico, o repórter Álvaro Pereira Júnior conversou com especialistas e pessoas que convivem com o Alzheimer, no Brasil e no exterior. Veja os detalhes na reportagem completa acima.
Afinal, o que é determinante para o surgimento do Alzheimer: a genética ou o nosso estilo de vida? Vale reforçar que, para prevenção da doença, as dicas são as de sempre: atividade física, alimentação saudável, controle de colesterol, entre outras.
De maneira geral, é possível dividir o Alzheimer em estágios.
Na fase inicial, surgem, normalmente, alterações de memória, de personalidade e das habilidades visuais e espaciais. A escritora inglesa Wendy, de 66 anos, por exemplo, recebeu diagnóstico depois de cair duas vezes, sem ter tropeçado em nada, quando corria na rua.
Já para o médico brasileiro Fausto, de 78 anos, os primeiros sinais surgiram durante o trabalho. "A minha cabeça não era mais a que eu queria que fosse", diz.
Depois das manifestações iniciais, podem aparecer, mais para a frente, dificuldades para falar, cumprir tarefas simples e coordenar movimentos, além de agitação e insônia. E é só bem mais adiante que aparecem os sintomas mais graves: deficiência motora muito séria, não conseguir engolir, não falar mais e não sair da cama.
Sintomas do Alzheimer — Foto: Reprodução/TV Globo
Dentro desse contexto, a professora de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP, Cláudia Suemoto, explica que o cenário para quem estuda Alzheimer está mudando.
Segundo a especialista, há muitos investimentos em busca da cura do Alzheimer, dada a gravidade do problema. Ela cita como fruto desses investimentos a teoria mais aceita na literatura sobre as causas da doença, liderada pelo professor John Hardy, pesquisador que trabalha em Londres.
A teoria desenvolvida pelo grupo do doutor Hardy funciona assim:
- a grande maioria dos pacientes de Alzheimer tem o cérebro envolvido por placas de uma proteína chamada beta-amiloide;
- essas placas vão tomando conta do espaço, e impedem a passagem dos impulsos nervosos de um neurônio para o outro;
- Isso provoca uma espécie de curto-circuito no sistema nervoso central, porque os neurônios são as células mais importantes do cérebro.
No Alzheimer, placas da proteína beta-amiloide tomam conta do espaço e impedem a passagem dos impulsos nervosos de um neurônio para o outro. — Foto: Reprodução/TV Globo
A equipe de Londres descobriu, inclusive, a mutação no DNA que causa esse acúmulo da proteína beta-amiloide. Tudo resolvido, então, sobre as causas do Alzheimer? Não é bem assim.
A doutora Cláudia Suemoto, da USP, explica que a grande maioria dos novos remédios, criados para curar o Alzheimer, ataca justamente as placas. Entretanto, ou não eliminam os sintomas ou aliviam só um pouco. Três novos medicamentos, que têm efeitos discretos, já foram aprovados nos Estados Unidos.
Ou seja, o acúmulo de placas no cérebro é só um dos fatores da doença.
Outra linha promissora de estudos é sobre as células de defesa chamadas micróglias, que funcionam como aspiradores de pó para tirar a sujeira do cérebro — mas, com o avanço da idade, vão perdendo capacidade e acabam agravando inflamações.
Há ainda, entre os estudos mais recentes, as pesquisas sobre a proteína Tau. No Alzheimer, ela forma "emaranhados" dentro dos neurônios. A imensa maioria de pessoas quem têm esses emaranhados apresenta sintomas da doença.
Afinal, a cura para os próximos dez anos pode vir?
*G1/Fantástico