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Quinta-Feira, 16 de maio de 2024

Saúde

Jovem faz preenchimento labial e descobre doença rara após inchaço incomum

Jovem faz preenchimento labial e descobre doença rara após inchaço incomum

(Imagem: Reprodução )

Após realizar um preenchimento labial com ácido hialurônico, a empresária Pamela Andrade, de 23 anos, sofreu um forte inchaço na boca, no rosto, nos olhos e pensou que os sintomas fossem efeito colateral do procedimento estético.

A região da face ficou tão inchada que, ao divulgar o alerta em seu perfil no Tik Tok, algumas pessoas pensaram que as imagens postadas eram montagem.

Para sua surpresa, os sintomas eram devido uma doença genética rara que, por muitos anos, foi negligenciada pelos médicos e atribuída a alimentos. "Eu voltei na hora para clínica e não relacionei com a doença. Achei que tinha ocorrido algo errado", diz em entrevista à BBC News Brasil. O primeiro sinal começou com na parte de cima dos lábios.

"É normal inchar, mas não daquele jeito. Me levaram ao hospital, tiraram fotos e nunca tinha acontecido nada daquela forma. Fiquei tomando soro e cheguei a ouvir do médico que era alergia ao ácido hialurônico. Tomei um antialérgico e fiquei esperando", conta.

Mesmo recebendo medicação, o inchaço não passou por completo e Pamela só voltou a ter o rosto "normal" depois de quase oito dias.

Por muitos anos a jovem acreditou que o inchaço que tinha no corpo era por causa de alimentos. Uma vez, ao comer pipoca com bacon, seu rosto e mãos ficaram bem inchados e ela relacionou a alteração à comida.

 — Foto: Arquivo pessoal via BBC News

A empresária recorda que os primeiros sinais começaram na adolescência e, aos 17 anos, chegou a ir para o hospital. "Uma vez ficou bem feia a alergia, mas sempre foi tratada como algo alimentar. Aplicavam corticoide, mas não dava resultado", relembra.

Em algumas ocasiões, o inchaço ocorria até depois de ela bater o celular nos lábios. "Estava mexendo no celular, caía e batia na boca, por exemplo, aí desencadeava uma crise. Mas sempre que ia ao médico, era tratado como uma alergia alimentar", diz.

"Minha mão já chegou a inchar e, posteriormente, o intestino incha também. Parecia uma gastrite e eu vomitava bastante", afirma.

Quando já estava adulta, começou a suspeitar que não era somente uma irritação alérgica provocada por comida. Da última vez que teve a crise, após o procedimento estético, decidiu investigar mais a fundo.

Mesmo recebendo medicação, o inchaço não passou por completo e Pamela só voltou a ter o rosto "normal" depois de quase oito dias — Foto: Arquivo pessoal via BBC News

DESCOBERTA DE DOENÇA RARA

Após o inchaço diminuir, a jovem procurou um alergologista, pois os sinais relacionados aos alimentos não faziam sentido. Ao chegar no consultório, informou os sintomas e a médica pediu exames específicos. "Ela fez várias perguntas que batiam com uma doença e tive que fazer um exame raro de sangue e só um laboratório fazia", destaca.

O primeiro resultado deu inconclusivo e foi preciso refazer o teste. Ao analisar o segundo exame, foi constatado que ela sofria com angioedema hereditário, doença genética rara. Mesmo seus pais não tendo o problema, ela acredita que herdou a condição da tia, que também sofria com inchaços quando era viva.

Na época, o medicamento para tratar o problema custava em torno de R$ 8 mil e era preciso entrar na Justiça para adquiri-lo.

No entanto, a médica também encaminhou a jovem para o ginecologista, pois o anticoncepcional tomado durante anos poderia ser um dos fatores desencadeantes das crises alérgicas. "Eu tomava desde os 15 anos, pois tenho ovário policístico. O médico me fez parar os métodos com estrogênio. Tomava pílula só com progesterona", disse.

Desde que substituiu a composição do remédio anos atrás, ela não teve mais nenhum sintoma alérgico. Atualmente, optou por não usar nenhum tipo de hormônio. "O anticoncepcional era como um gatilho para as crises", destaca.

Depois de muita investigação, ela descobriu que o trauma gerado pela agulha durante o preenchimento labial foi o motivo pelo inchaço e crise após o procedimento na clínica de estética. "Não foi o ácido hialurônico, mas sim a agulha", diz.

Pamela Andrade descobriu doença genética rara que, por muitos anos, foi negligenciada pelos médicos e atribuída a alimentos — Foto: Arquivo pessoal via BBC News

Fotos: Reprodução

IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO CORRETO

Ao publicar seu relato nas redes sociais, Pamela recebeu diversos comentários de outras pessoas que, provavelmente, sofrem com o problema, mas até hoje não sabem que têm a doença. Somente em uma única postagem, o vídeo tem pouco mais de quatro milhões de visualizações e 534 mil curtidas.

Segundo a jovem, o conteúdo foi feito como alerta para que outras pessoas também possam receber um diagnóstico precoce e seguir com o tratamento correto. "Se eu tivesse sido tratada corretamente não teria tomado tantos corticoides, adrenalina e poderia ter descoberto que era o anticoncepcional que causava o problema e evitado muitas crises", ressalta.

Além da face, ela também sofria com inchaço no intestino e acreditava que o incômodo era algo gastrointestinal ou outro problema. "Eu faltava muito no trabalho, pensava que era gastrite e tomava remédio. Mesmo assim, os sintomas só melhoravam depois de três ou quatro dias", conta.

"São sintomas que você vai no pronto-atendimento e os médicos tratam como alergia e gastrite, dão medicação, mas esse remédio não faz efeito nenhum e resulta em um sofrimento muito grande".

Hoje, ela já está há algum tempo sem nenhuma crise e celebra, mesmo que tarde, a descoberta da doença. "Tenho uma vida totalmente normal e não tive mais nenhum inchaço."

*Negócios