Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado integrado de bem-estar físico, mental e social, sendo a dimensão psíquica (mental) um de seus pilares. Para o psicólogo Bryan Silva Andrade, coordenador do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Social (NAPS) da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), quando se fala em “mental”, deve-se considerar uma composição de aspectos psíquicos como pensamentos, emoções e afetos, que permeiam a vida e a experiência humana.
Assim, o psicólogo da Uncisal defende que “falar em saúde mental é entender como esses aspectos psíquicos influenciam e são influenciados pelas dimensões física (biológico e ambiental) e social (cultural e interacional), e como podemos promover ações que positivamente fortaleçam o cuidar e o autocuidado”. Confira a entrevista.
Quando falamos em saúde mental, estamos nos referindo exatamente a quê?
Partindo da compreensão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que define saúde como um estado integrado de bem-estar físico, mental e social, identificamos a dimensão psíquica (mental) como um de seus pilares. Quando falamos em “mental” devemos considerar uma composição de aspectos psíquicos como pensamentos, emoções e afetos, que permeiam a vida e a experiência humana. Assim, falar em saúde mental é entender como esses aspectos psíquicos influenciam e são influenciados pelas dimensões física (biológico e ambiental) e social (cultural e interacional), e como podemos promover ações que positivamente fortaleçam o cuidar e o autocuidado. Que tipo de cuidado podemos ter com nossa saúde mental? No campo biológico é sabido que as atividades físicas trazem benefícios para saúde mental, produzindo neuroquímicos que promovem sensações positivas e se desdobram em emoções de bem-estar. É importante salientar que elas não se limitam a atividades de academia de ginástica/musculação, mas qualquer atividade onde o corpo é convidado ao movimento.
Qual o papel do ambiente para o bem-estar emocional?
Tratando-se de aspectos ambientais, essencialmente devemos construir relações de cuidado com ambientes íntimos para que produzam sensações de acolhimento e proteção. Organização e asseio são hábitos que intuitivamente nos ajudam a manter uma referência de “ordem no caos”. Destaco que um ambiente íntimo não se limita a um ambiente privado. Por exemplo, um jardim ou uma igreja também podem ser ambientes íntimos.
O suporte social é essencial para proteger e fortalecer a saúde mental?
Manter vínculos sociais que sejam recíprocos são fontes de humanização, promovendo sentimentos de proteção, pertencimento e orientação. Além de fortalecer os vínculos positivos que já temos, é fundamental também investir energia em novas experiências socioculturais, pois podem abrir novos horizontes de aprendizagem e desenvolvimento. Atividades coletivas no esporte e nas artes são possíveis caminhos.
No âmbito pessoal, desenvolver autoconhecimento é uma via fundamental para dar um passo importante no cuidado com a saúde mental?
O primeiro passo é fazer um exercício de inteligência emocional que consiste em observar o próprio psiquismo. Prestar atenção honestamente nas emoções, nos pensamentos e nas atitudes associadas a elas podem abrir possibilidades de mudança perante as experiências que nos trazem sofrimento. É importante observarmos que o bem-estar em saúde mental não significa ausência de sofrimento, pois aquilo que fazemos com o que nos traz sofrimento é objetivamente o que nos conduz a sua manutenção ou superação. Para tanto, buscar ajuda de um profissional de Psicologia pode auxiliar na construção do autoconhecimento necessário ao desenvolvimento psicológico que implicará em novas formas de enfrentamento dos conflitos pessoais.
Quais sinais devem servir como alerta para cuidarmos da nossa saúde mental?
O principal sinal de que nossa saúde mental já está vulnerável diz respeito a maneira como estamos enfrentando nossos sofrimentos. Fazer ou deixar de fazer com recorrência algo - seja no estudo, trabalho ou relacionamentos -, que gerem prejuízos pessoais e/ou a outra pessoa, motivado por emoções de medo, tristeza ou raiva pode significar que nossa capacidade de enfrentamento esteja corrompida por esquemas emocionais disfuncionais que nos conduzem a comportamentos desadaptativos.
Onde procurar ajuda?
A busca por ajuda deve ter várias frentes para que tenham maior efetividade. Além de observar as indicações sobre como cuidar da saúde mental, é importante buscar ajuda de pessoas de confiança, amigos e familiares, bem como do apoio de um profissional de Psicologia. Na Uncisal, o Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Social (Naps) dispõe de profissionais de Psicologia aptos a prestar o acompanhamento necessário às demandas de saúde mental dos discentes.
A população ainda negligencia os cuidados com a saúde mental?
Sim, os cuidados com a saúde mental ainda são negligenciados por algumas pessoas motivadas pela manutenção de preconceitos baseados na ausência de conhecimento acerca da ciência psicológica, bem como em ideologias de competitividade que alimentam a ideia do vencedor como aquele que não apresenta limites e nem vulnerabilidades na jornada da vida.
De que maneira esses comportamentos são expostos?
É também comum pessoas em situações recorrentes de sofrimento mental, mesmo que brandas, terem o comportamento de “colocar panos quentes” ou “empurrar com a barriga” aqueles assuntos delicados de sua vida íntima e social. Esses comportamentos podem ser expostos de diversas formas como tentar compensá-los desviando o foco da origem do sofrimento (beber, comprar, sair com os amigos etc.) ou mesmo buscando isolamento social.
Momentaneamente esses comportamentos minimizam o sofrimento, mas certamente a negligência em cuidar dos aspectos emocionais envolvidos, trarão consequências maiores mais cedo ou mais tarde.
O que mais pode negligenciar o cuidado com a saúde mental?
É também comum a negligência ao cuidado com saúde mental surgir da própria dificuldade de orientação que a pessoa em sofrimento mental vive. Pessoas em situações de crise necessitam de maior apoio social para que a adesão ao tratamento aconteça e possa promover o fortalecimento da autoestima. Apesar dos preconceitos e das dificuldades inerentes ao enfrentamento do sofrimento psíquico, temos acompanhado com alegria a crescente busca de apoio psicológico, o que contribui para que mais pessoas possam ter acesso a um espaço de cuidado e crescimento pessoal, evitando que alcancem quadros mais severos de adoecimento psíquico.
Quais as dicas para a população no tocante aos cuidados com a saúde mental?
Saia de sua bolha! Frequente lugares, culturas e ideias diferentes das suas. Não precisa gostar de tudo, apenas se permita conhecer. Novas experiências trazem novos repertórios para sua vida e te ajudam a pensar fora da caixinha. Fazer as mesmas coisas te faz pensar as mesmas coisas que te causam sofrimento. O que tem que ser feito, tem que ser feito. Não espere sentir “vontade” de fazer alguma coisa que inevitavelmente tem que fazer. Talvez você esteja confundindo o desejo com a vontade. Desejo é brisa, vontade é potência. Às vezes temos que fazer pela vontade e não pelo desejo. Cuide-se! Cultive vínculos de reciprocidade. Para quê investir em um relacionamento que apenas você sustenta? Todo vínculo tem um limite, por isso não espere receber mais do que é possível. Entregue energia proporcional ao que o vínculo pode sustentar. Amplie e diversifique seus vínculos sociais. Reduzir toda a sua vida social a uma pessoa vai sobrecarregar o vínculo. Ninguém vai te fazer feliz. Seja feliz primeiro para que possa ser feliz junto de outra pessoa. Só você é capaz de fazer sentido para sua história. Tenha atitude otimista. Ser otimista é extrair o melhor possível da realidade.
*Agência Alagoas