Quinta-Feira, 21 de novembro de 2024
Quinta-Feira, 21 de novembro de 2024
O ano de 2018, apesar de ter sido um ano de grande volatilidade na bolsa de valores de São Paulo, devido principalmente à greve dos caminhoneiros e ao período eleitoral, foi um ano de grandes ganhos para quem investiu em ações, pois o Ibovespa (principal índice da B3) avançou de 76.402,08 pontos para 87.887,26 pontos, tendo fechado o ano passado com um ganho de 15,03%.
No mesmo período o CDI rendeu apenas 6,4%, o que significa que o IBOV teve um desempenho equivalente a 235% do CDI do período. Ao descontarmos a inflação de 3,75% acumulada no ano de 2018, vemos que o Ibovespa teve um rendimento real de 10,87%, enquanto que o CDI teve um ganho real de apenas 2,55%.
O desempenho do CDI ter sido de 6,4% se deve ao fato dele ser atrelado à taxa SELIC que, por sua vez, está no seu menor patamar da história, que são os atuais 6,5% ao ano. Em agosto de 2016 a SELIC estava fixada em 14,25% a.a., porém em outubro daquele ano o Copom reduziu a taxa para 14% a.a. e deu início a uma sequência reduções que fez com que a taxa fosse fixada em março de 2018 nos atuais 6,5% a.a. Há quem fale que ainda tem espaço para mais uma pequena redução na SELIC, pois os juros mais baixos facilitariam o crescimento da economia.
Apesar de um novo corte na taxa SELIC ser apenas uma especulação de analistas, temos como fato que a taxa já foi reduzida em mais de 50%, e é consenso no mercado que o patamar atual da taxa SELIC é sustentável, e que deve se manter assim por um longo período de tempo, principalmente se as reformas que o atual governo se propõe a fazer forem aprovadas no Congresso Nacional.
Essa gigantesca redução na taxa de juros tem feito com que os tradicionais investidores conservadores que só investiam em renda fixa tenham que buscar uma nova alternativa para incrementar o desempenho da sua carteira de investimentos, como por exemplo ações, Fundos de Investimentos Imobiliários, Fundos Multimercados e até mesmo Criptomoedas, por exemplo.
Ao ligar a TV, o telespectador tem visto que o Ibovespa tem quebrado recordes atrás de recordes, com a euforia que tomou o mercado com a eleição para presidente de um candidato que se propõe a fazer as reformas que o mercado necessita. Para se ter uma ideia da euforia da que o mercado de renda variável vive, o Ibovespa teve uma valorização de 18,65% no em apenas 3 meses e meio.
O IBOV fechou o pregão de 05/10/2018, sexta-feira anterior ao primeiro turno das eleições, cotado em 82.321,52 pontos, e o último dia 24 fechou na sua máxima histórica com 97.677,19 pontos.
Essa variação significa uma valorização de quase 20% em menos de 4 meses. Os analistas estão falando que o índice pode atingir ainda este ano os 125 mil pontos e que daí seguiria até atingir os 200 mil pontos em um curto espaço de tempo. O assunto bolsa de valores passou a ser comum em todo lugar que se vá. Todo mundo só fala em bolsa de valores. Muita gente está dizendo que vai investir na bolsa ou que já investiu.
A combinação juros da renda fixa baixos com o fato de que o Ibovespa vem quebrando sucessivos recordes, bem como desse assunto ser quase que onipresente em todos os lugares, tem sido uma das causas da migração da renda fixa para a renda variável.
Eu quero deixar desde já registrado que sou um entusiasta da renda variável e acredito que a bolsa de valores é um local de criação de riqueza. No entanto, muitas das pessoas que estão migrando da renda fixa para a renda variável o estão fazendo sem qualquer conhecimento de como funciona a bolsa de valores. Estão investindo em ações simplesmente porque os outros também estão fazendo. Ou então porque acham que irão multiplicar seu capital em um curso espaço de tempo, indo para a bolsa de valores com a mentalidade de cassino achando que basta acertar uma aposta e ficar milionário. No meu entender, isso é um problema.
É um problema pois como só conhecem a renda fixa, não entendem como funciona a renda variável e por isso além de não possuírem uma estratégia de operação definida, não conhecem sequer os riscos aos quais estão expostos, de modo que não tomarão as precauções necessárias para proteger o seu capital e as economias de sua família, podendo se expor mais do que aguentariam e consequentemente vir a enfrentar a ruína financeira.
Quando fazemos algo somente porque todos estão fazendo dizemos que estamos seguindo a manada. É comum vermos pessoas seguindo a manada no mundo dos investimentos. Recentemente tivemos o exemplo do bitcoin, onde no final do ano de 2017 o bitcoin era o assunto do momento e só se falava naquela criptomoeda. Muita gente que não tinha a menor ideia de como funciona aquele ativo passou a investir em bitcoin. Há exemplo de investidores que venderam inclusive a casa para comprar bitcoin. Pois bem, o final da história todo mundo conhece. O bitcoin atingiu seu valor máximo em 15 de dezembro de 2017, quando foi cotado a R$ 64.642,64 e hoje está valendo R$ 12.834,00 tendo enfrentado uma desvalorização de mais de 80% e trazido a desgraça financeira para quem entrou naquele pico sem saber o que estava fazendo.
Ressalte-se aqui que não estou dizendo que investir em bitcoin é bom ou ruim. Apenas estou dizendo que pessoas enfrentaram severos prejuízos financeiros porque investiram seguindo a manada sem ter a menor ideia do que estavam fazendo. Prejuízos financeiros são comuns de se ver quando o investidor está seguindo a manada.
Além disso, quando estamos vivendo momentos de euforia como o atual, é comum que o investidor minimize os riscos e passe inclusive a desprezá-los. Quando a bolsa de valores passa a apresentar altas constantes é comum que investidores esqueçam um conceito básico da renda variável, que é de que a renda variável VARIA. E ela varia para cima e para baixo.
Em momentos de euforia as pessoas esquecem que a investimentos em renda variável podem variar negativamente e passam a acreditar que o Ibovespa vai subir para sempre, o que não acontecerá. Em momentos de oba-oba é comum acreditar que a bolsa vai subir para sempre, assim como nos momentos de pessimismo se pensa que cairá eternamente e que a economia não irá se recuperar. Mas isso é um erro grave, pois, por definição, a renda variável varia, de modo que nunca nem cai para sempre e nem sobe eternamente.
O momento realmente é de grande otimismo, não há como negar. As expectativas dos analistas realmente são muito boas para o mercado interno e para a economia brasileira caso as reformas prometidas sejam aprovadas. Porém as reformas podem não ser aprovadas, e o investidor também não pode esquecer que vivemos em uma economia globalizada e que nunca sabemos quando uma crise de proporções globais como foi a de 2008 irá acontecer novamente. E é justamente por isso que ao investir ele não pode se deixar tomar por euforia e desprezar os riscos dos investimentos.
O intuito deste artigo não é dizer qual é o melhor ou o pior investimento. Não é indicar ou contra-indicar algo, até porque não posso fazer isso aqui. A ideia aqui é deixar claro para o leitor que antes de investir é necessário ter conhecimento, pois só assim, na minha opinião, os riscos serão diluídos.
Antes de tirar as economias da renda fixa e sair investindo em algo que não conhece é salutar que o investidor estude sobre o ativo que pretende investir e procure ajuda de um profissional, como um assessor de investimentos ou um consultor de valores mobiliários, pois assim pelo menos conhecerá o risco ao qual estará se expondo e poderá tomar as precauções para diminuí-lo e proteger o seu patrimônio.
Repito, sou fã do mercado acionário. Mas entendo que só se deve investir lá ou em qualquer outro lugar se o investidor souber o que está fazendo, jamais seguindo dicas quentes de jornais ou amigos, sob pena sofrer grandes perdas financeiras.
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