A projeção, divulgada nesta segunda-feira (11), foi feita a partir do cruzamento de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), ambas do IBGE.
O estudo considera duas situações de insegurança alimentar:
- Insegurança Alimentar Moderada: Nessa condição, o indivíduo não faz as três refeições diárias ou não se alimenta o suficiente para ter uma vida saudável.
- Insegurança Alimentar Grave: Nessa condição, o indivíduo fica um dia ou mais sem comer, no que se traduz como passar fome.
O instituto estima que, após subir de 20,6% para 32,8% entre 2018 e 2021, o nível de insegurança alimentar caiu desde então e chegou a 28,9% em 2023.
De acordo com o estudo, a redução estimada na quantidade de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar grave no país está relacionada à queda do desemprego, com a dinâmica favorável dos preços, especialmente dos alimentos.
Também colaborou o crescimento da renda da população, puxado principalmente pelos ganhos com os programas de transferência de renda e pelo reajuste acima da inflação do salário mínimo.
Poder de compra
A política de valorização do salário mínimo, proposta pelo governo federal no ano passado e retomada este ano, prevê reajustes anuais que levem em conta
- a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e
- a taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto de dois anos antes.
A recomposição do poder de compra, de acordo com o estudo, fortalece a tendência da redução da insegurança alimentar e nutricional da população.
"As pessoas ganharam mais do que perderam com a inflação. Mas o maior elemento é a política de aumento do salário mínimo, que atinge todos os brasileiros, mesmo aquelas pessoas que não ganham o salário mínimo são afetadas", explica o ex-ministro de Combate à Fome, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura de 2012 a 2019, e um dos fundadores do Instituto Fome Zero, José Graziano.
Índice de Miséria
O Instituto Fome Zero analisou os indicadores de desemprego e de inflação para retratar a exposição da população carente à insegurança alimentar e nutricional. Combinados, os dois indicadores formam o Índice de Miséria.
Após relativa estabilidade no indicador para o período entre 2017 e 2019, o indíce cresceu entre 2019 e 2021, quando alcançou 21,2%. A partir de 2022, no entanto, voltou a cair, chegando a 12,4% em 2023.
Segundo o estudo, no ano passado, a inflação baixa beneficiou os mais pobres e foi o principal fator para a continuidade da queda do Índice de Miséria.
Histórico
Quatro anos após deixar o Mapa da Fome, a insegurança alimentar e nutricional voltou a crescer no Brasil. E, em 2020, com a crise sanitária da COVID-19 e com a deterioração acentuada dos rendimentos dos mais pobres, o quadro piorou.
Em 2022, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) divulgou um diagnóstico dos brasileiros em situação de insegurança alimentar. Naquele ano, o país bateu a marca de 33 milhões de brasileiros que não tinham o que comer por um dia ou mais
Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Brasil Sem Fome. O governo federal estabeleceu a meta de tirar o país do Mapa da Fome até 2030 e reduzir a menos de 5% o percentual de domicílios em situação de insegurança alimentar grave.
*G1